terça-feira, 24 de abril de 2012

Um poste para chamar de seu

Uma presidenta atônita e desesperada em impedir a realização da CPI de Carlos Cachoeira, Dilma Rousseff amedrontada: foi esta a charge apresentada no Jornal da Globo esta semana como forma de coroar a série de reportagens então exibidas a respeito do atual episódio da política nacional. 

Qualquer pessoa com um pouco de consciência sabe que no centro desta investigação encontra-se a figura do senador Demóstenes Torres, ex-filiado ao DEM, partido de sustentação dos governos tucanos. 

É verdade que se encontrarão representantes da base aliada ao governo Dilma ao longo da investigação, mas a própria razão de ser da CPI tornou explícito o fato de que os protagonistas deste caso são partidários do DEM e do PSDB.  Praticamente pode-se dizer, por exemplo, que os petistas suspeitos de alguma ligação com o poderoso esquema criminoso em questão são peixes menores. Entretanto, além da imagem de uma Dilma afoita, também foi noticiado um PT com intenções de barrar a CPI.

Curiosamente, a instauração da CPI contou com a assinatura da grande maioria dos petistas na câmara e no senado. Não é novidade esta tentativa de desvio da atenção, este interesse inconfessável de nossa elite midiática de vincular qualquer caso de corrupção ao PT e de preservar a imagem dos amigos demo-tucanos (mais os tucanos do que os demos, é fato). 

 Mas a questão preocupante é que não estamos diante de uma mera tentativa de desgaste do governo frente à opinião pública, estamos sim presenciando o fato de que, para satisfazer esta vontade política, há um verdadeiro dispositivo político capaz de unir representantes eleitos, órgãos hegemônicos de imprensa, membros do poder judiciário, chefes de organizações criminosas, ficando totalmente em segundo plano qualquer noção verdadeira de interesse público.

Ainda assim, do ponto de vista político, o cenário não é dos piores: talvez seja a primeira vez, desde o episódio do “mensalão”, que o PT, mesmo ameaçado pelo noticiário, não se encontra acuado e frente à necessidade de tão somente defender-se, mas sim capaz de assumir uma posição política mais assertiva e que possa tratar diretamente do interesse público e da política de modo mais amplo, e não somente visando garantir a própria sobrevivência do partido. Neste caso, as tentativas dos representantes midiáticos deste tabuleiro de criar uma Dilma com medo da CPI demonstre mais o desespero deles do que o dela.


Dilma, pelo contrário, demonstra uma tranquilidade até exagerada em relação à CPI. Ela tem motivos para se sentir segura, vejamos somente pelos últimos acontecimentos: colocou a equipe econômica do governo para  atuar frente à questão dos juros e do spread bancário e obteve uma vitória rápida (isso junto  com as vitórias graduais que vem obtendo frente à  confraria da SELIC); na política com P maiúsculo a presidenta tem se afirmado com êxito (enquanto Obama fez um discurso provinciano de que os latino-americanos não tem do que reclamar, pois afinal nossos empresários vendem muitos produtos para o mercado norte-americano e esta preocupação em afirmar relações igualitárias entre as nações seria uma relíquia da Guerra Fria, Dilma não se preocupou em ganhar os aplausos dos empresários presentes e foi direto ao ponto: não é possível haver uma integração interessante para todos dos continente americano se cada nação não for tratada como igual. 

Ela sabe que a despeito do desdém do presidente norte-americano, esta igualdade não está posta ainda e que os exemplos disso são a composição do FMI e o direito a assentos permanentes na ONU, por exemplo); a presidenta tem trabalhado para que a indústria nacional se recupere, para que a conquista de um novo patamar na produção científica local não seja apenas um slogan vazio do Ciência Sem Fronteiras (como querem alguns) e para que a Conferência Rio + 20 possa obter avanços concretos.  Tudo isso para dizer que Dilma tem sim vários ativos políticos para justificar sua segurança. Mas uma declaração que em português bem claro tivesse desmascarado esta tentativa de colar a imagem de seu governo ao caso Cachoeira teria sido bem vinda.


A pretensa elite midiática brasileira criou um super herói chamado Demóstenes Torres. Como todo super herói, não passava de uma construção imaginária das mais frágeis. Os mais arrogantes comentaristas vinham a público para dizer que Demóstenes deveria ser reverenciado por todos, até por aqueles que discordavam de suas posições. Na falta de coragem e honestidade para reconhecer que erraram, passaram a procurar psiquiatras para afirmar que Demóstenes doente mental tinha enganado a todos, inclusive eles. Um personagem central de um esquema capaz de colocar em questão a própria vida republicana tornava-se, assim, um caso de escuta clínica. 

Felizmente, a verdade é que houve aqueles que não se deixaram enganar.  Acontece que, apesar do erro, a arrogância continua. Mas desta vez, não se encontram em condições de colocar a máquina midiática para triturar algum ministro de Dilma, mesmo que inocente. Já o PT, se não cair na tese fácil do revanchismo do mensalão, terá uma boa chance de se renovar,  ouvindo as vozes críticas internas ao próprio partido, e, de quebra,  protagonizar um papel importante neste momento político do país. 

À Dilma, por sua vez, caberá a capacidade de não se colocar como a ex-ministra que aborda somente assuntos de gestão, mas ser capaz de se dirigir à nação como a estadista que tem demonstrado ser.

Enviado por luisnassif, dom, 22/04/2012 - 09:47
Por Oswaldo Alves

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