terça-feira, 19 de abril de 2011

BULLYING: PROCEDIMENTO VITAL AO GRUPO E MORTAL PARA QUEM SOFRE

BULLYING: PROCEDIMENTO VITAL AO GRUPO E MORTAL PARA QUEM SOFRE
Vítima constante de apelidos humilhantes e gozações inadequadas durante toda a infância e adolescência, um jovem aluno, de 18 anos, entra na escola onde estudava e, com um revólver calibre 38, faz vários disparos, ferindo oito pessoas, e se suicida em seguida. Esse triste fato aconteceu em 2004, na cidade de Taiuva, no interior de São Paulo.

Passados sete anos, em abril de 2011, um jovem ex-aluno entra na escola onde cursou parte do Ensino Fundamental e, com dois revólveres, calibres 32 e 38, faz muitos disparos, ferindo e matando vários alunos para se suicidar em seguida, após a intervenção de um policial militar.
Esses trágicos acontecimentos, felizmente, não são comuns na realidade brasileira, porém, sua natureza nos leva à perplexidade e à angústia. Assim, interrogamo-nos: por que esses jovens escolheram suicidar-se em um cenário em que outros, sem culpa por sua decisão, precisam morrer com eles? Por que voltar à escola e provocar a morte de inocentes? Certamente, as respostas não são evidentes nem singulares; todavia, há uma possibilidade para tão bárbara determinação: trata-se de pessoas gravemente perturbadas mentalmente, portadoras de males que lhes tiram a percepção da realidade.
Diante da violência praticada nos episódios de 2004 e 2011 há, entre outras, uma questão que merece reflexão: os dois jovens eram introspectivos, de pouco ou nenhum relacionamento. E, segundo relatos da mídia, sofreram bullying durante a vida escolar. As pessoas vitimizadas por bullying não alcançam a solidariedade imediata das escolas. Há poucos dias, uma cena gravada ganhou contornos midiáticos por conta do efeito YouTube: um rapaz australiano obeso, farto de ser vítima de bullying na escola, resolveu reagir e agredir com violência quem o insultava. O vídeo se tornou sucesso na internet e só então foi notado e discutido pelos educadores da escola.
Quando se trata de um jovem adolescente, a negação dos pares causa muito sofrimento, uma vez que, para construir sua autonomia, são necessários o “rompimento simbólico” das referências familiares, principalmente em relação aos pais, e a aquisição de outras referências que são exclusivas de seu grupo. Nessa direção, não ser aceito ou sofrer humilhação dos elementos do grupo pode significar a impossibilidade de se tornar autônomo, crescer, fazer escolhas e tomar decisões independentes. Em outras palavras, se ele não existe para seu grupo, não existe para ninguém, inclusive para si mesmo.
O grupo, por sua vez, escolhe alguns membros e os elege como “vítimas sacrificiais”, são os “bodes expiatórios”, nos quais o grupo projeta as limitações e imperfeições dos demais elementos. Isso para que o grupo sobreviva.
As pessoas todas, sem exceção, vivem conflitos grupais, e o único meio de se livrarem desses conflitos é escolher um bode expiatório e depositar nele suas frustrações. Se tal procedimento é vital ao grupo, torna-se mortal para quem o sofre.
Não estou aqui para fazer a defesa dos jovens que cometeram os bárbaros disparos nas duas escolas, mesmo porque não conseguimos vislumbrar qualquer justificativa possível. Todavia, não podemos esquecer que os dois jovens violentos foram alunos daquelas escolas. Talvez pelo fato de serem “silenciosos”, não foram motivo de discussão ou atenção nas reuniões de conselho de classe, uma vez que ficavam quietos em seus cantos, sem incomodar o transcurso das aulas. Ou talvez, por serem distanciados de si mesmos e dos outros, não foram alvo de uma relação pessoal e mais presente de algum educador.
É simplificar demais, mas, sendo professora, faço-me uma pergunta: será que tais barbáries tiveram, para eles, o objetivo de manifestar uma dor insuportável? Queriam ser reconhecidos como colegas abarbarados e temidos? Queriam ser notados? Gostariam de ser chamados pelo nome e não pelo número? Desejariam ter um olhar educador que os reconhecesse como de fato eram e não como o grupo os definia? Termino sem respostas, citando Bertolt Brecht: “A árvore que não dá fruto/É xingada de estéril./Quem examinou o solo?/O galho que quebra/É xingado de podre, mas não haveria neve sobre ele? Do rio que tudo arrasta/se diz que é violento/Ninguém diz violentas/as margens que o cerceiam”.

Francisca Romana Giacometti Paris, pedagoga e mestre em Educação
Fonte Jornal O Informativo Vale do Taquari,Lajeado 14/04/2011

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A Benção do Perdão.

Bem aventurados os misericordiosos porque
eles alcançarão misericórdia
Jesus.

Qualquer que seja a posição na vida, onde quer que se encontre a criatura, independente de ser boa, caridosa, cumpridora dos mais sagrados deveres ou não, nunca está imune à visitação das trevas, aos tropeços e às quedas originárias da falta de vigilância. Foi por esta razão que o Divino Messias nos advertiu: “Orai e Vigia...”.

Vivenciar o amor, exercitar o bem deve ser a nossa principal atenção em tudo o que fizermos, entretanto, imperfeitos que somos às vezes fraquejamos em nossa caminhada, vacilamos em nossos passos e com isto abrimos as portas do nosso coração aos emissários das sombras, que aos poucos nele vão se instalando de maneira velada e bem sutilmente, para poder mais de perto enviar suas oportunas mensagens de incentivo e melhor comandar o seu trabalho para que assim continuemos com os passos incertos, sempre nos distanciando da estrada da retidão que estávamos palmilhando.

Seguindo-lhes os conselhos e sugestões, nos tornamos diferentes, mudamos o nosso proceder, sem nada desconfiar, julgando-nos certinhos. Como se nada houvesse acontecendo dentro de nós, passamos a notar a diferença nos outros. Eles estão errados, arredios e nós é que estamos certos. Este é o quadro que normalmente se desenrola nos relacionamentos humanos do presente, que de certa forma traz consigo o carimbo dos compromissos passados.

E, prosseguindo desta forma, seguem as criaturas sem compreender o que vem acontecendo entre elas, cuja convivência anteriormente tão agradável, de forma injustificada se deteriorou, apresentando-se agora sem condições de continuidade pacífica. E quando acordam deste pesadelo, houve cometido vários deslizes no comportamento, pois na exorbitância do verbo, no exagero das palavras, usam expressões ferinas, aumentam a voz, tornam-se autoritários, julgam-se os exclusivos detentores da verdade e proclamam estar com a razão e por ela lutam, se engalfinham, como se razão fosse a coisa mais importante que a própria vida. E assim procedendo magoam a quem amam, tornam-se grosseiros, rudes, na certeza da que estavam agindo acertadamente, em defesa da verdade

E para despertarem desta situação anômala em suas vidas, indispensável se faz volverem ao que fizeram, analisar os passos dados, as ofensas feitas, as feridas abertas, procurando reparar o mal praticado, qualquer que tenha sido a sua extensão, porque, muito embora o passado não seja recuperável, pode, contudo, ser reparável.
Mas como praticarmos tal procedimento? Muito simples: basta descermos do pedestal do nosso bobo orgulho onde nos encontramos, despojarmo-nos da vaidade que guardamos, diminuir um pouco do egoísmo que alimentamos, nos humilharmos ante a própria consciência e nos penitenciarmos perante aqueles a quem muito ofendemos com nossas palavras ou gestos.

Olhar para dentro de si, reconhecer os erros e as falhas cometidas, penitenciar-se diante de quantos ofendidos, longe de ser um gesto de covardia, de fragilidade de espírito como julga o vulgo, é um ato de nobreza de caráter praticado por poucos.

Jamais será encontrado o caminho de retorno à paz de nossa consciência, sem que apliquemos a lição da humildade, nos reconciliando com aqueles viajantes da estrada como nós que, ao longo do percurso, num momento de invigilância nos desentendemos e nos afastamos um do outro, guardando certa dose de animosidade.

Pedir perdão, sinceramente, com o coração, é a prova mais contundente de arrependimento e não é próprio de qualquer um, mas de quantos recebendo as sábias aulas do Mestre na grande escola da vida, almejam avançar na conquista do seu aprimoramento espiritual, desejando seguir em direção à luz, redimindo-se para alcançar a felicidade.

E Perdoar, o que vem a ser? Perdoar, na mais sublime expressão da palavra, é esquecer a ofensa; é conceder ao outro a oportunidades de reconciliação, de entendimento, da volta a um relacionamento harmonioso, que fora interrompido.

O Perdão é uma bênção só concedida pelos misericordiosos, pois só estes é que o sentem e assim procedem, porque em seus corações na há lugar para as magoas ou os ressentimentos. Concedem-no de forma natural, de maneira bem simples, sem a mínima intenção de ferir ou humilhar.

Se pedir perdão não é próprio de qualquer um, o dar é obra de poucos e estes também o receberão, como Jesus afirmou no Sermão da Montanha: “Bem aventurados os misericordiosos porque eles alcançarão misericórdia”.
Guido Marcelo