sábado, 13 de outubro de 2012

PTB apoia Serra. Cadê o mensalão?

Por Altamiro Borges
Como já ensinou o jornalista Perseu Abramo, no indispensável livro “Padrões de manipulação na grande imprensa”, a melhor maneira de enganar os ingênuos não é a mentira deslavada. É omitir ou dar pouco destaque – manchetes, fotos, comentários na tevê – ao que não interessa; e realçar o que serve aos interesses políticos e econômicos dos impérios midiáticos. Ontem, o PTB anunciou seu apoio a José Serra na disputa pela prefeitura paulistana. Nenhum veículo enfatizou que este partido é protagonista no julgamento do chamado mensalão.

No maior cinismo, o eterno candidato tucano – que decidiu usar o julgamento midiático do STF como a sua principal peça de campanha eleitoral contra o petista Fernando Haddad – nem ficou constrangido ao receber o apoio de Campos Machado, presidente estadual do PTB. O partido é presidido nacionalmente pelo ex-deputado Roberto Jefferson, o direitista que já foi condenado por corrupção passiva pelo Supremo Tribunal Federal. Em entrevista após a formalização do apoio, Serra voltou a insistir que o “mensalão é obra do PT”.
Já Campos Machado, uma expressão exótica do patrimonialismo na política brasileira, não escondeu que o apoio resultará em alguma vantagem. Na maior sinceridade, ele afirmou que “é natural que o PTB tenha espaço” numa eventual gestão tucana na prefeitura de São Paulo. Mas ele garantiu que o partido não está “vendendo a sua alma". Já José Serra, sempre cínico, disse que não houve troca de favores pelo apoio e que as siglas “vão caminhar juntas” sem qualquer interesse fisiológico.
Na solenidade de adesão ao tucano também esteve presente Luis D’Urso, ex-presidente da seção paulista Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e vice na chapa de Celso Russomanno. O líder do movimento direitista “Cansei”, que saiu às ruas pelo impeachment do ex-presidente Lula, está sendo cotado para ocupar um carguinho no governo estadual. Segundo a própria Folha tucana, “o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que participou do ato, estuda instalar D'Urso na Secretaria de Justiça”.
O curioso é que a mídia “privada” não deu qualquer destaque para a adesão dos “mensaleiros” do PTB à campanha de José Serra. O assunto não virou manchete e nem comentário ácido na televisão. Merval Pereira, Ricardo Noblat, Eliane Cantanhêde, Clóvis Rossi e outros colunistas “chapa-branca” não ficaram nada indignados. Os padrões de manipulação da mídia, como ensinou Perseu Abramo, são realmente bem sutis! Nada como uma batalha eleitoral decisiva para desnudá-los.

Nenhum comentário: