quinta-feira, 7 de junho de 2012

O partidarismo vulgar de Merval

Miguel do Rosário

Agora vamos analisar a coluna de Merval de domingo. Sei que alguns de vocês acham que eu não deveria dar atenção a Merval, mas eu acho que é importante, sim, dar atenção ao principal colunista político do Globo. Seus argumentos se espalham via jornal, rádio e tv, e hora ou outra acabamos topando com eles na boca de conhecidos. Infelizmente, nem todos acompanham a blogosfera. A influência da mídia ainda é grande, sobretudo em determinadas esferas sociais. Além do mais, ele faz, nesta coluna, mais um ataque à blogosfera. O texto dele vem em negrito, o meu em fonte normal.
A missão de Lula
MERVAL PEREIRA

03.06.2012 08h31m
De cara, notemos a marcação cerrada da mídia sobre os movimentos políticos de Lula. Ele é um cidadão sem cargo público, livre, dono de plenos direitos constitucionais de falar e fazer o que lhe der na telha. A mídia trata-o, porém, como se toda ação de Lula fosse criminosa, conforme iremos ver neste texto de Merval.
A proximidade do julgamento do mensalão parece estar desestabilizando emocionalmente o ex-presidente Lula, que se tem esmerado nos últimos dias em explicitar uma truculência política que antes era dissimulada em público, ou maquiada.
Vejam só. Gilmar Mendes é que dá trezentas e quarenta entrevistas em poucos dias, acusa Lula, Paulo Lacerda, blogs, sem prova nenhuma, em tom completamente destemperado. Lula, por sua vez, respondeu a Mendes em nota lacônica, dizendo-se apenas indignado com as informações “inverídicas” de Gilmar e Veja; e Lula é quem está desequilibrado emocionalmente…

Nessa fase em que trabalha em dois projetos que se cruzam e parecem vitais para seu futuro, tamanha a intensidade com que se dedica a eles, Lula não tem tido cuidados com as aparências, e arrisca-se além do que sua experiência recomendaria.
A direita midiática produziu um personagem completamente artificial. Lula ainda está se recuperando, com voz fraca. Tem que fazer horas de fisioterapia diária, toma não sei quantos remédios, sua garganta dói quando fala muito. E Merval cria um Lula super-homem, trabalhando freneticamente em todas as frentes, criando CPIs, elegendo Haddad, melando o mensalão. Daqui a pouco Merval dirá que Lula está por trás do tensionamento entre Irã e Israel… É risível, além disso, ver Merval dando conselhos políticos a Lula. Quem segue os conselhos de Merval é o DEM, cuja situação política sabemos bem onde chegou…
A pressão sobre ministros do STF, a convocação da CPI do Cachoeira, com direito a cartilha de procedimentos com os alvos preferenciais identificados ( STF, imprensa, oposição) e as atitudes messiânicas, sempre colocando-se como o centro do universos político, revelam a alma autoritária deste ex-presidente ansioso pela ribalta política.
Olha o super-Lula aí de novo. Quanto à cartilha da CPI, Merval sequer dá a fonte: uma reportagem da Veja desta semana completamente ridícula, que apenas revela seu desespero. Primeiro que não dá para acreditar que a reportagem da Veja seja verídica. A tal cartilha apresentada não traz assinatura nenhuma. Provavelmente é uma fraude barata feita no computador. Em segundo, não há absolutamente nada de errado em elaborar cartilhas contra políticos adversários. Política é isso mesmo, e a disputa partidária é justamente a sua característica mais saudável. A ataca as mazelas de B, que por sua vez denuncia os erros de A. Assim todos os erros vêm à público. A criminalização da política atingiu o paroxismo no Brasil. Um político agora não pode sequer denunciar os mau-feitos de seu adversário? Veja e Merval parece que esqueceram a máxima, velha como Matusalém: quem não deve, não teme.
A expressão “atitudes messiânicas”, referindo-se à Lula, revela apenas a visão doentia que os mervais alimentam do ex-presidente. Ele é um homem de carne e osso, que acabou de passar por um tratamento violentíssimo contra um câncer maligno na garganta. Não pode ser criminalizado por ter sido um bom presidente. Só falta essa!
A eleição de Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo e a obsessão em desmoralizar o julgamento do mensalão – já que não conseguiu adiá-lo para que seus resultados não interferissem na eleição municipal e, além disso, a prescrição das penas resolvesse grande parte dos problemas judiciais do PT -pareciam as duas grandes tarefas do ex-presidente Lula neste momento.
Bah! Merval fala qualquer coisa. Lula tem liberdade de expressão para defender seus pontos de vista sobre o que foi ou não foi o mensalão. Não existe isso de “desmoralizar o julgamento do mensalão”. O caso está no STF, que irá julgá-lo. Agora, qualquer brasileiro tem o direito de falar o que quiser, e o debate político em torno do mensalão, que foi um fato político, tem de ser feito, e Merval, se quisesse ser respeitado, deveria respeitar opiniões divergentes. Para piorar, Merval fala que Lula não conseguiu adiar o julgamento: ou seja, culpa Lula até do que não aconteceu!
Mas ele, de voz própria, revelou seu verdadeiro objetivo político no programa do Ratinho: não permitir que um tucano volte a governar o país. Nunca antes nesse país viu-se um político assumir tão abertamente uma postura despótica, quase ditatorial, quanto a de Lula nessa cruzada nacional contra os tucanos, que tem na disputa pela capital paulista seu ponto decisivo.
Que palhaçada, hein! Melindre besta. Lula é do PT, e tem obrigação, como petista, de lutar para que seu principal adversário político, o PSDB, volte a ocupar o Planalto. Isso é democracia, não há nada de despótico ou ditatorial. Lula usará as armas da democracia, o voto, como sempre usou, para atingir seus objetivos, e terá o apoio de milhões de brasileiros que concordam com ele porque também não querem que um tucano volte à presidência.
O PT, aliás, tem seguido a mesma batida de Lula, e se revela a cada instante um partido que não tem como objetivo programas de governo ou projetos nacionais para o país. A luta política pelo poder escancara posturas ditatoriais em todos os níveis, e para mantê-lo vale tudo.
Afirmações descaradamente partidárias. Como assim não tem programa de governo? E a luta pela eliminação da miséria, pelos juros baixos, pelo aumento do crédito, pela maior oferta de vagas em universidades, etc. Merval, desce do palanque, ou então vira logo candidato pelo PSDB. Sua isenção foi pro beleléu há tempos, mas agora já virou uma caricatura. E a que posturas ditatoriais você se refere? O papel aceita tudo, né?
Desde rasgar a legislação eleitoral e fazer propaganda ilegal em emissora de televisão na tentativa de desatolar uma candidatura que até agora não demonstra capacidade de competição, até intervenções em diretórios que não obedecem à orientação nacional, como aconteceu agora mesmo em Recife.
Quanto à legislação eleitoral, acredito que esse é um assunto para as autoridades competentes. Você aqui está prejulgando, e com isso, você é que está ferindo a legislação eleitoral com afirmações que também podem ser interpretadas como partidárias e contra-propaganda. Quanto ao imbróglio do PT em Recife, é um problema doméstico do partido. Essas situações são sempre complicadas, mas infelizmente fazem parte do processo democrático. Prévias partidárias, em todo lugar, produzem uma brigalhada terrível. Agora, chamar isso de “postura ditatorial” é palhaçada. E o PSDB, que só agora fez uma prévia, em São Paulo, na qual Serra apareceu na última hora, praticamente melando a disputa?
Vale também mobilizar um esquema policial de uma prefeitura petista, como a de Mauá em São Paulo para apreender uma revista que apresenta reportagens contrárias aos interesses do PT. A truculência com que foi impedida a distribuição gratuita da revista Free São Paulo, que trazia uma reportagem de capa sobre o assassinato do prefeito petista de Santo André Celso Daniel, é exemplar do que o PT e seus seguidores consideram “liberdade de imprensa”.
Você deveria se lembrar aqui do fez o governador Marconi Perillo, que apreendeu quase todos os exemplares da revista Carta Capital, em Goiás. Ora, a Veja publica há anos calúnias contra o PT e a revista recebe milhões em publicidade institucional, e o PT, no governo federal, jamais adotou qualquer medida que ferisse a liberdade de imprensa no Brasil. Já o governo de SP gasta milhões com assinaturas da Folha e Estadão para as escolas do estado, com isso prejudicando o livre mercado, porque prejudicam e impedem o florescimento de concorrentes; isso é apoiar a liberdade de imprensa?
Os petistas acusam a revista de ser financiada pelo PSDB, o que ainda é preciso provar, mas, mesmo que seja, seria no mínimo incoerente criticarem tal estratégia, já que são estatais de diversos calibres e governos petistas que financiam uma verdadeira rede de blogs chapa-brancas e revistas para defenderem as ações governistas e demonizar seus adversários, em qualquer nível.
E aqui mais um ataque à blogosfera. Não existe nenhuma rede de blogs financiada pelo governo. Que eu saiba, apenas dois blogs tem banners da Caixa, os blogs de Nassif e do PHA. Sendo que o PHA ganha milhões de salário com seu programa Domingo Espetacular, na Record. É evidente que o bannerzinho da Caixa em seu blog não faz nem cosquinha em seu orçamento. Os outros blogs não recebem um centavo de governos. O Cafezinho não recebe um centavo de “estatais” ou “governos petistas”. Merval é um caluniador sem caráter. A estratégia da mídia, naturalmente, é constranger, porque sua acusação criminaliza a blogosfera, asfixiando-a economicamente antes mesmo dela começar a respirar. Ou seja, ela constrange as estatais a jamais fazer publicidade em blogs. E nós, blogueiros, somos triplamente castigados: somos acusados de escrever por dinheiro, sem que ninguém veja a cor desse dinheiro; as estatais desistem de anunciar em nossos blogs, porque não querem ser acusadas de usar verba pública para fazer proselitismo político; e o setor privado também não quer anunciar, porque não quer se envolver nessa briga. Com isso, Merval e a mídia atingem seu objetivo, que é se autoafirmarem como único receptáculo confiável da publicidade institucional. Enquanto isso, a blogosfera, que é a vanguarda da comunicação política, perde a esperança de, um dia, ser uma plataforma profissional viável para jornalistas que não queiram jogar o jogo da grande mídia.
Da mesma forma, parece ironia que líderes petistas se mostrem indignados com financiamentos eleitorais de caixa 2 de políticos tucanos, como se esse crime fosse uma afronta ao Estado de Direito e não, como disse o ex-presidente Lula tentando minimizar o caso do mensalão, coisa corriqueira no sistema eleitoral brasileiro.
Merval continua fazendo declarações descaradamente partidárias. Lula falou uma verdade, é uma coisa corriqueira, e até pediu desculpas ao povo brasileiro, coisa que nenhum outro líder jamais fez. FHC jamais pediu desculpas por ter aprovado a reeleição para si mesmo, comprando votos de deputados. O negócio é que as denúncias de caixa 2 de tucanos, que Merval Pereira espertamente omite aqui, tem como origem desvios de recursos públicos. Não se trata de simples caixa 2.
O recurso ao caixa 2 e a verbas não contabilizadas é evidentemente uma distorção do nosso sistema eleitoral que tem que ser combatida com rigor, mas o PT há muito perdeu a possibilidade de indignar-se diante deste e de outros malfeitos políticos.
Ué, se o fato de um partido abrigar políticos envolvidos com caixa 2, ou “outros malfeitos”, impossibilitá-lo de se indignar, então qual o partido poderá se indignar? E repito: Merval faz uma análise sem trazer os fatos que a originaram. Ele não cita o caso Pagot, que fez acusações pesadas de desvio de dinheiro público para a campanha de Serra. Não é só caixa 2: é desvio de recurso público. O incrível é ver que o próprio Merval, além de não demonstrar nenhuma indignação, tenta combater a indignação alheia… Quem diria…


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