quarta-feira, 18 de julho de 2012

Cachoeira pagava contas de secretários de Perillo, diz relatório da PF

O bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, pagava contas de secretários do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), segundo denúncia da Polícia Federal, com base em conversas telefônicas gravadas com autorização judicial e divulgadas nesta terça-feira. Os pagamentos seriam realizados por meio da construtora Delta, apontada pela PF como empresa integrante do esquema de Cachoeira. Uma das beneficiadas, segundo o relatório, foi a ex-chefe de gabinete do governador, Eliane Gonçalves Pinheiro, que renunciou ao cargo logo após o escândalo.
Os diálogos com o ex-vereador Wladmir Garcez (PSDB), que seria o braço político do esquema, ocorreram em abril do ano passado. A conversa mostraria a irritação de Cachoeira por não conseguir colocar indicações suas no governo de Perillo.
– Eu não consigo pôr no Detran, o Wilder foi lá e emplacou. O Wilder não dá um centavo pra ninguém. Imagina só: o Wilder vai lá para o Palácio, consegue convencer o Marconi a colocar o cara e você tá lá todo dia e não fala nada. Você tá com o secretariado todo dia, todo dia você traz conta pra mim, levo pro Cláudio, e não consegue emplacar ninguém. Entendeu? – reclamou Cachoeira, fazendo referência a Cláudio Abreu, da Delta Construções. O Wilder mencionado é empresário Wilder Pedro de Morais, senador que assumiu a vaga no Senado lugar do ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO).
Dados bancários da CPI, da PF e do governo de GO também indicariam que a Delta pagou pela casa do governador. Cachoeira estava neste imóvel quando foi preso, em fevereiro deste ano. A PF acredita que a Delta firmou um “compromisso” com Perillo, intermediado por Cachoeira, após a posse no governo. A compra da casa teria sido a primeira negociação após o acerto.
Em nota, distribuída na véspera, Perillo alegou que os três repasses citados pela PF fazem parte de um total de 13 pagamentos feitos de forma regular à Delta, por parte da Secretaria de Segurança Pública. Sobre as denúncias de que secretários tiveram as contas pagas, o governador ainda não se pronunciou. Diante das notícias recentes envolvendo o governador, integrantes da CPI do Cachoeira voltaram a avaliar a necessidade de reconvocar Perillo para mais explicações.

Em cheque
Frente a nova avalanche de denúncias contra Perillo, a cúpula do PSDB já reavalia a situação e admitem, nos bastidores, que as novas provas são robustas e consideram delicada a situação do governador. A boca pequena, o PSDB já admite como certa a convocação de Perillo para novo depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, após o recesso do Congresso, que termina no próximo dia 31 de julho, a fim de explicar contradições em torno da venda de uma casa em Goiânia.

Para a plateia, o PSDB ainda defende Perillo.
– Não há razão para o partido reavaliar seu apoio ao governador, que continua merecedor de nossa total confiança – disse o presidente tucano, deputado Sérgio Guerra (PE). Ele insiste que a acusação sobre a casa foi explicada à CPI em junho. Para ele, a comissão deveria voltar-se a outros governadores, como Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Sérgio Cabral (PMDB), do Rio. Mas o partido, diz ele, espera que Perillo se manifeste, “como fez em outras tantas vezes em que respondeu aos questionamentos de forma firme e convincente”.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) também reforça sua confiança em Perillo.
– Nada contra a convocação, não seremos obstáculo, mas a pergunta é: convocar para quê? Para repetir as mesmas perguntas e ouvir as mesmas respostas? Ele explicou tudo o que precisava e não há razão nenhuma para falar de novo sobre fatos que já esmiuçou – acredita.
O PSDB reconhece que a rede criminosa é multipartidária e que em seus quadros há membros contaminados. O deputado Carlos Alberto Leréia (GO), outro tucano envolvido com Cachoeira, já foi abandonado pela legenda.

IndiciamentoVice-presidente da comissão, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), defendeu o indiciamento do tucano. O relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), confirmou que vai indiciá-lo no relatório que pretende fechar no fim de agosto. Para o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), nem é necessário reconvocar Perillo. Para ele, o tucano mentiu em seu depoimento e merece ser cassado pelo elo com o contraventor.
– Convocar para quê? Para ele dar o showzinho dele? Bobagem. O que a CPMI deveria fazer é representá-lo no Ministério Público e no Superior Tribunal de Justiça – afirma.
Tatto aponta três evidências contra Perillo:
– Primeiro: a casa, que está provada que foi Cachoeira quem comprou. Segundo, a cota de funcionários que ele colocou no governo e, em terceiro, Cachoeira pagou dívidas de campanha.
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) requereu à CPMI, na véspera, a reconvocação de Perillo, agora na condição de réu, e não de testemunha. Para Randolfe, não resta dúvidas de que Marconi estava comprometido com o esquema Cachoeira. Se a CPI aprovar o requerimento, após o recesso,Marconi poderá pedir ao Supremo o direito de ficar calado, como fizeram outros depoentes. Em junho, o tucano falou aos senadores na qualidade de testemunha. Como réu, se ficar constatado que ele mentiu à CPMI sobre seu envolvimento com Cachoeira, poderá receber voz de prisão e sair algemado do Plenário.

Fonte: Correio do Brasil

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