domingo, 17 de junho de 2012

Erundina critica aliança com Maluf e slogan do PT

Erundina critica aliança com Maluf e slogan do PT Foto: Edição/247

Para a vice na chapa de Haddad, chamado ao “novo” aponta preconceito com idosos

17 de Junho de 2012 às 07:33
247 – Em entrevista ao jornalista Fábio Zambeli, da Folha, a ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, deixou claro que não será figura decorativa na campanha. Criticou a aliança com do PT com o PP, de Paulo Maluf, e até o slogan do partido, que propõe o “novo”. Seria “preconceito com idosos”, argumenta Erundina, que tem 78 anos. Leia alguns trechos:
Folha - Em abril, a senhora se mostrava incomodada com a possibilidade de ser vice. O que mudou?
Primeiro, foi uma decisão partidária. Nenhum dos projetos políticos dos quais participei foi resultado de vontade pessoal. Foi o partido que construiu esta possibilidade e me consultou, me deixando à vontade. Eu entendi que era mais uma missão que me cabia.
A senhora impôs alguma condição para aceitar?
A condição que eu fiz foi que houvesse consenso entre PT e PSB. Não quis entrar em divisão. Não estava disputando a condição de candidata a vice. Decidi isso porque nunca me omiti na minha vida política. Por mais difícil que fosse a tarefa, não me omiti. Imagina se eu ficasse fora do processo? Estou percebendo que as minhas bases estão vibrando, estão aprovando.
Em nenhum momento a senhora negociou sua participação no eventual governo?
Certamente não serei mera figurante. Nem na campanha e nem no governo. Não que eu pleiteie esta ou aquela pasta. Vamos gerenciar a cidade juntos, dividindo tarefas e mobilizando a sociedade. Acho que vou ser uma ponte entre o governo e os segmentos mais excluídos do foco do poder em São Paulo.
Sua participação é uma forma de resgatar seu legado, já que sua gestão na prefeitura terminou com baixa aprovação?
São tempos distintos. Eu não acho que saímos do governo com rejeição. Claro que rejeição sempre tem, sobretudo com os compromissos que assumimos. Devo ter contrariado interesses de segmentos que sempre foram beneficiados no governo. Sofri boicote, ameaças.
A senhora diz que não fez concessões para ter maioria. E agora entra numa campanha que faz concessões para ter aliados e tempo de TV, atraindo personagens como Paulo Maluf, seu adversário histórico...
Esse é um problema de governos de coalizão. Eu tenho outra concepção de governo. Por mais que tenhamos dificuldades, se isso significar alguma restrição aos seus compromissos, eu acho que tem um preço que não vale a pena pagar por ele.
Mas qual é o limite?
Não tem esse limite. Do ponto de vista ético é absoluto esse limite. É uma questão difícil de ser administrada. Tem relação a tempo de TV e rádio, recursos, meios. Nós sobrevivemos numa cultura política bastante conservadora e permissiva do ponto de vista ético e moral e a nossa sobrevivência não é uma coisa fácil. Não é fácil ser fiel a isso.
A senhora se sentiria confortável participando de eventos ao lado de Paulo Maluf?
Eu não acredito que Paulo Maluf participará de eventos públicos junto comigo e junto com Haddad. Isso é contraproducente do ponto de vista eleitoral. Eu evitaria essa situação porque cria um certo mal-estar na relação com aquelas pessoas que tem mais ligação com o povo, que sabem quem é Maluf, que sabem quem é a direita nessa cidade, que ainda continua no poder reproduzindo os privilégios. Eu vejo assim. Isso tem uma questão de correlação de forças. Deve ser uma decisão de colegiado.
Vai participar deste colegiado?
Eu pretendo.
Se consultada, opinaria contra a participação dele?
Com certeza.
Em 2004, a senhora não quis apoiar Marta no segundo turno porque dizia que o debate eleitoral foi pobre, muito centrado no candidato do "bem" contra a candidata da "coragem". Agora se desenha uma campanha cujos slogans transmitem um embate entre o "novo" e o "velho". Não é uma discussão que a desagrada?
Estes valores não são pedagógicos numa campanha. Você termina negando uma realidade que é própria dessa sociedade. É uma sociedade em que a terceira idade cresce e exige uma nova postura e uma nova forma de ver o problema geracional. Não dá para se imaginar que a São Paulo de hoje é igual à de 30 anos atrás. Temos que estar antenados com o que a sociedade diz.
A senhora acha que esse slogan do "novo" é preconceituoso?
Sim, pode reforçar isso. É ruim porque pode reforçar preconceitos. Em partidos como os nossos temos que lutar para conquistar poder, mas temos que ter ação pedagógica. Para que a gente avance na perspectiva de um novo modelo de governo e de sociedade. É uma perspectiva de fazer um governo para o povo.
A senhora conhece Fernando Haddad bem? Conhece há muito tempo?
Não. Ele esteve no governo, se não me engano da Marta. Mas não convivi muito naquela época. Acompanhei mais de perto no ministério. Acho que é um moço idealista, que tem potencial grande. Ao passar pelo crivo das urnas, terá melhores condições políticas para administrar.
A senhora acredita ter algum papel no engajamento da senadora Marta na campanha?
Vou querer saber pessoalmente os motivos da sua resistência. Temos relação de confiança, respeito e carinho. Na última vez que ela disputou a eleição para prefeita houve cogitação de que eu pudesse ser vice dela. Tem uma relação pessoal boa com ela. Acho que vou convencê-la do quanto ela tem interesse por São Paulo. E mostrar a ele que o projeto partidário tem que ter o apoio de suas lideranças.

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