sábado, 9 de junho de 2012

BNDES nega ter repassado dinheiro diretamente à Delta

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), divulgou nota no início da noite desta sexta-feira negando que tenha feito empréstimos diretamente à empresa Delta Construções. O banco rebateu informações de reportagem publicada hoje pelo jornal O Estado de S. Paulo, que sustenta ter havido repasse de R$ 139 milhões, entre 2010 e 2012, do BNDES para a empreiteira.
 O dinheiro, segundo o jornal, seria a metade do total emprestado à empresa, no valor de R$ 249,7 milhões. A Delta é suspeita de ter ligações com Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, pivô de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista no Congresso. Mas, segundo o BNDES, os empréstimos foram feitos por outros agentes financeiros.
Na nota, o banco argumentou que as operações mencionadas na reportagem resultaram "de cerca de 700 financiamentos contratados no Produto BNDES Finame (comercialização de máquinas e equipamentos), operacionalizado na modalidade indireta automática, por meio de agentes financeiros (bancos comerciais), repassadores de recursos do BNDES aos mutuários." Segundo o BNDES, os agentes financeiros assumem integralmente o risco das operações, "sendo os responsáveis por efetuarem a análise cadastral e financeira dos mutuários, decidindo pela concessão ou não dos recursos."
Em caso de falta de pagamento do tomador de empréstimo, o BNDES garantiu que os recursos públicos não sofreriam qualquer prejuízo, já que o agente financeiro continuaria obrigado a reembolsar os valores repassados.
O banco esclareceu ainda que suspendeu as operações com a empresa. "A partir do surgimento das denúncias contra a construtora Delta, este banco, imediatamente, suspendeu a análise de qualquer operação relacionada à referida empresa, tendo recomendado a todos os seus agentes financeiros que fosse adotado o mesmo procedimento."
Carlinhos Cachoeira 
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

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