domingo, 10 de junho de 2012

Banqueiro playboy deveria despertar alarme no BC

Banqueiro playboy deveria despertar alarme no BC Foto: Folhapress

Tese é do colunista Elio Gaspari, que abordou o caso de Luís Octavio Índio da Costa, do Cruzeiro do Sul, banqueiro que vivia como nababo antes de quebrar e deixar rombo de R$ 1,3 bilhão

10 de Junho de 2012 às 10:31
247 – Em sua coluna deste fim de semana, o jornalista Elio Gaspari argumenta que banqueiros deveriam evitar sinais exteriores de riqueza. E diz que, nos casos mais flagrantes, como o de Luís Octavio Índio da Costa, do Cruzeiro do Sul, estes sinais deveriam fazer soar algum tipo de alarme. Leia:
Cachorrão para a diretoria do BC - ELIO GASPARI

O professor Ademar Fonseca, titular de Mecânica da Faculdade de Engenharia da PUC do Rio, tinha o apelido de Cachorrão. Ele deu zero a um aluno que resolveu um problema em cinco páginas e errou a colocação da vírgula na última conta. Quando o jovem reclamou, recebeu uma aula para toda a vida: "Uma ponte não pode ter oito metros ou 80 metros. Você mergulha em uma questão complexa, depois, quando você termina, você se afasta e olha o jeitão da coisa. Pelo jeitão, você vai ver se é 8 ou 80".

A doutora Dilma deveria criar uma "Diretoria do Cachorrão" no Banco Central. O encarregado teria a atribuição de olhar o "jeitão" dos banqueiros.

Em geral, um banco quebra meses depois de o mercado saber que ele estava "virado". Assim foi com o PanAmericano, com o Cruzeiro do Sul, com a Lehman Brothers e assim será com o próximo. As autoridades monetárias têm centenas de funcionários qualificados estudando os números do mercado, mas é comum que desprezem o "jeitão" dos banqueiros. Nos Estados Unidos, Bernard Madoff, o ilustre fundador da Nasdaq, deu um golpe de dezenas de bilhões de dólares, apesar de ter sido denunciado sete anos antes. Tinha casas em Londres, Paris, Nova Iorque e Palm Beach, jatinho e iate de US$ 7 milhões. Se Cachorrão soubesse disso, acreditaria na denúncia. Richard Fuld, o responsável pela explosão da Lehman Brothers, mandara que o elevador do prédio fosse programado para ir direto ao 33 andar quando ele estivesse a caminho do banco. Nesse caso, Cachor-rão pediria que prestassem atenção na inteligência do doutor.

Um dia, Amador Aguiar (1904-1981), o maior gênio da banca brasileira, viu uma Mercedes no estacionamento da diretoria do Bradesco. Chamou o dono e disse-lhe que aquele tipo de carro estava fora do alcance dos funcionários da casa.

Rafael Palladino, presidente do Banco PanAmericano, quebrado em 2010 numa operação para lá de esquisita, tinha um belo apartamento e uma imobiliária em Miami. Seu diretor financeiro morava num teto de R$ 14 milhões. Coisa de classe média emergente, se comparada com as extravagâncias do doutor Luís Octavio Indio da Costa, dono do banco Cruzeiro do Sul, com sua carteira de 300 mil empréstimos irregulares, num total de R$ 1,3 bilhão. O magnata tem dois helicópteros da grife Eurocopter, com dez lugares cada, coisa de R$ 60 milhões. Isso e mais um iate de 110 pés, com cinco suítes, avaliado em R$ 30 milhões. Nas suas festas apresentavam-se Elton John, Bono Vox e Tony Bennett.

Bastava que o Banco Central olhasse para o "jeitão" do doutor para que se acendesse a luz amarela. Acender a vermelha seria preconceito contra rico, mas deu no que deu. Cachorrão chamaria o diretor de Fiscalização do BC e haveria de constrangê-lo apontando o risco que corria.

Seria pedir demais que a "Diretoria do Cachorrão" ficasse encarregada de recuperar pelo menos uma parte do que os clientes perdessem. As casas, os barcos e os chinelos dos Madoff foram a leilão em 2010. Onze pares de cuecas entraram num lote que saiu por US$ 1.700.

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