Oposição com Bom Senso
Marcos Coimbra
Marcos Coimbra
Uma das mais lúcidas avaliações das perspectivas da oposição nos
próximos dois anos foi apresentada esta semana pelo senador José
Agripino (DEM-RN). Louve-se sua sinceridade e bom senso.
Atributos que nem sempre revela possuir. Quem não se lembra de sua
lamentável interpelação, em 2008, à então ministra Dilma Rousseff, a
respeito de mentir sob tortura? Teve a resposta que merecia, registrada
para a posteridade em um vídeo que é até hoje acessado no YouTube.
São, no entanto, águas passadas.
O senador ocupa, desde 2011, um cargo complicado. É o presidente de seu
partido, função a que chegou sem tê-la pleiteado. Assumiu-a em um
momento em que o DEM parecia prestes a se dissolver, sangrando a céu
aberto depois da debandada da maioria de seus integrantes em direção ao
PSD de Gilberto Kassab.
Para piorar o cenário, seus correligionários remanescentes se dividiam
em dois grupos antagônicos, um ligado a Rodrigo Maia (DEM-RJ) e outro ao
ex-senador Jorge Bornhausen (SC). José Agripino tornou-se opção de
conciliação.
Difícil encontrar alguém com currículo tão antilulopetista. Começou na
política na ARENA e daí foi para o PDS. Foi fundador do PFL, líder do
partido no Senado, integrante da tropa de choque das oposições ao
governo Lula.
Biografia que o credencia a dizer o que disse e torna mais relevante a entrevista que concedeu à Folha de São Paulo.
O essencial estava em seu prognóstico de que, sozinhos, PSDB e DEM “não têm chances de vitória em 2014”.
Foi franco desde a largada, sequer incluindo na lista o PPS. Com razão,
pois a agremiação tornou-se pouco mais que estafeta para missões
desagradáveis - como protocolar requerimentos de instalação de CPIs e
pedidos de abertura de inquérito no Ministério Público.
(Que destino triste o do velho Partido Comunista Brasileiro! Nesta
semana em que perdemos Oscar Niemayer, um dos mais ilustres militantes
do “Partidão”, dá pena ver aonde foi levado por suas lideranças atuais.)
Mas José Agripino foi ainda mais incisivo: disse que não sabia o que
poderia ser feito para atrair outras correntes de opinião a integrar uma
frente capaz de derrotar o governo na próxima eleição.
Para ele, a soma de PSDB, DEM e, vá lá, PPS, não é competitiva e tem pouca possibilidade de crescer significativamente.
Isso é mais verdadeiro que quase tudo que se lê hoje em dia. E tem
consequências práticas, se ele e seus companheiros de oposição menos
irracional forem ouvidos na hora de decidir que campanha farão na
sucessão de Dilma.
Em política, raramente o errado acaba dando certo. Quase sempre, a conta chega, com juros e correção monetária.
Tivessem as oposições pensado olhando para a frente, dificilmente teriam
feito o que fizeram em 2010. Apostar outra vez em Serra foi adiar a
tarefa que permanece à frente delas. Continuam tendo que criar um novo
rosto, diferente do que tinham há vinte anos.
É difícil construir uma candidatura vencedora ao longo de uma só
eleição, como ilustram as exceções que confirmam a regra. Em 1994,
Fernando Henrique precisou das fanfarras de um plano econômico lançado
na véspera. No caso de Dilma, apesar da extraordinária popularidade de
Lula, apesar do forte desejo de continuidade, a dúvida a respeito de
alguém pouco conhecido levou a eleição para o segundo turno.
Em 2014, se José Agripino estiver certo, o projeto fundamental das oposições é preparar-se para o futuro.
O que significa fazer uma campanha afirmativa, propositiva, otimista,
que leve até quem não votará em seu candidato a simpatizar com ele.
Significa não fazer como Serra, tentar ganhar a qualquer preço e apenas
sair da eleição com a imagem destruída.
Significa manter-se ao largo das maluquices da extrema direita
oposicionista, dos pitbulls cujo único sentimento é a raiva. E parar de
ler alguns comentaristas, que talvez saibam conspirar, mas de eleição
não entendem nada.
Leia mais em: Blog Sujo : Oposição tenta sair do esgoto
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