sábado, 8 de dezembro de 2012

Oposição em busca de uma liderança

A crise de liderança da oposição, constatada pelas sucessivas derrotas eleitorais e por uma agenda pautada exclusivamente por suas críticas ao governo federal, dá novos sinais de aprofundamento, mesmo contanto com o apoio explícito de sua velha aliada, a grande mídia.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que na esteira de uma das mais graves crises de Segurança Pública no Estado viu a avaliação positiva de sua gestão despencar 11 pontos percentuais em três meses, tem sido desacreditado até mesmo por aqueles que sempre o apoiaram quase que abertamente.
Em reportagem publicada no último final de semana, o jornal Estadão deixou transparecer sua preocupação com os riscos à reeleição do governador em 2014.
A matéria, que indiretamente questiona a força de uma liderança natural do partido, testada inclusive nacionalmente nas eleições de 2006, destaca que o governador tucano tem agora pouco tempo para dar uma marca à sua gestão.
Uma gestão negativa, marcada não só pela crise na segurança, mas também pela má condução em outras áreas fundamentais, como Saúde, Educação, Habitação e Transportes.
Os atrasos em obras, programas e na execução dos investimentos do Estado (dos R$ 22 milhões previstos para o ano, apenas 60% serão executados) foram apontados pelo jornal, que parece cobrar do governador uma reação.
Mas o que a grande mídia cobra, na verdade, não são iniciativas capazes de solucionar os problemas que se agravam nessas áreas, tampouco políticas públicas que ofereçam à população do Estado os seus direitos mais elementares, como o de ir e vir.
Lembrando que a intensificação da violência novamente paralisa a população em muitos bairros da capital e da Grande São Paulo, a exemplo do que ocorreu em 2006, na onda de ataques da mesma facção criminosa que hoje domina a quase totalidade dos presídios paulistas.
O que esses setores da imprensa querem é que a oposição seja capaz de alçar uma nova liderança o mais rápido possível.
O êxito do PT nas eleições municipais deste ano, que sobressaiu como o partido mais votado do Brasil e elegeu candidatos em várias cidades paulistas consideradas redutos tucanos, coroando suas vitórias com a eleição de Fernando Haddad na capital, fez crescer o despeito das alas mais conservadoras do país, que não se conformam com a consolidação de um projeto político que, a cada dia, inclui mais cidadãos.
É fato que a mídia tenta ajudar "blindando" e também elaborando a pauta da oposição contra o governo, mas as dificuldades em encontrar essa liderança parecem intransponíveis.
Nesta semana, o “lançamento” da candidatura do senador Aécio Neves (PSDB ? MG) à Presidência da República em 2014, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, forçando a barra para que ele assuma logo suas pretensões, assinalou mais um episódio da falta de entendimento entre os principais quadros da legenda.
Primeiro, porque FHC estranhamente assume na prática as funções de principal dirigente do PSDB que, em tese, seriam do presidente do partido, o deputado Sérgio Guerra.
Segundo, porque Aécio, ao hesitar e novamente adiar a definição, deixa seu partido em desconforto, com provando aquilo que já é sabido e notório, a oposição está carente de líderes, de ideias e de um projeto alternativo para o Brasil.
Para se ter uma ideia do quanto estão na contramão, a mais recente bandeira tanto de FHC quanto de Aécio é a defesa das empresas do setor elétrico, em detrimento dos interesses do país de ter os custos da energia reduzidos, medida assumida e sustentada pela presidenta, Dilma Rousseff.
A ausência de empatia dos tucanos junto aos eleitores (e por isso sua pressa em encontrar e construir uma nova liderança) confirma-se também pelo resultado de recente levantamento realizado pelo Ibope, demonstrando que apenas três nomes presidenciáveis da oposição superam o traço e passam de 1% na preferência do eleitorado na pesquisa espontânea: José Serra (4%), Aécio Neves (3%) e Marina Silva (2%).
Muito à frente estão a presidenta, Dilma Rousseff, citada por 26% dos entrevistados e o ex-presidente Lula, por 19%.
Não adianta. A indiferença do eleitorado, nas pesquisas e nas últimas eleições, é prova mais contundente de que a oposição não se fortalece ao jogar contra o país apenas para ser contra o governo, ignorando as reformas e avanços que estão sendo feitos, mudando o Brasil e melhorando a vida de milhões de pessoas.
Assim, mesmo com todo o respaldo que recebem diariamente dos jornalões, continuam patinando sobre as próprias indecisões e fraquezas, sem se estabelecer como uma alternativa no horizonte partidário.
José Dirceu

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