sábado, 6 de outubro de 2012

Cortado, salgado, espetado nas ruas, o PT opõe ao "domínio do fato" a força dos fatos. Basta?

 Do Blog de Frases - 6/10/2012   Carta Maior

 


 Saul Leblon


A idéia,como explica o governador Tarso Genro em artigo nesta página, é reduzir o partido da esquerda a um delito. E o governo de sua extração a um peculato político.

Tudo isso pré-configurado a partir de estaqueamento jurídico adotado preliminarmente ao julgamento da Ação Penal 470. Não se afronta o Estado de Direito nessa arquitetura de cimento puramente ideológica, explica o governador.

O Estado de Direito confere aos seus supostos guardiães de última instância a prerrogativa de fazer política de toga. Assim como parte da imprensa o faz .

À falta de similares convencionais que hoje só respiram através de pulmões midiáticos, ela assumiu o vácuo do partido da direta. Nenhuma ilegalidade aqui também.Exceto vender militância como jornalismo e creditar ao oposto de esquerda - assumido, no caso de Carta Maior e de muitos - o carimbo de 'partidários' e ' ideológicos'.

A arquitetura de judicialização da política ,ou de politização das togas, expressa em si a criminalização dos partidos de fora do arco conservador ; 'os estrangeiros', na versão mineira de Aécio Neves para o pedestre 'meter o bico aqui', de Serra.

O domínio da ilação togada resume o ato de julgar a um recital com pouquíssimos espaços para improvisos. Foram ocupados, neste caso, pelo de um daqueles juízes de Berlim ('ainda há juízes em Berlim', disse o camponês oprimido ao mensageiro do algoz), aferrado aos autos, às provas, ao sentido estrito do bordão segundo o qual todos são inocentes até prova em contrário. Em vão.

O grand finale fora lapidado à exaustão com base em afinações fora dos autos. O ensaio de orquestra remonta a 2005. A estreia, adiada pela reeleição acachapante de Lula, em 2006, requisitou a costura da mídia para cada nota abafada pelas vitórias sucessivas do país diante da crise mundial, que esfarelou o programa adversário.

Nesta semana de eleições, o envelope portado por Joaquim Barbosa referente à fatia do núcleo político do PT trazia grafado no verso em letra graúda:'Last Act'. Chegara a hora. O maestro obsequioso ofereceu-o ao desfrute eleitoral do conservadorismo: era a senha do enredo prevalecente.

O fato do domínio consagra ao juiz um campo de fluidez que mimetiza o fenômeno intangível das organizações criminosas que pretende combater.

Comporta desde as mais caricatas até as mais pertinentes ilações.
A diferença entre elas e os palpites sobre o final da Copa do Mundo de 2014 -eles também baseados em suposições -- é que diferente do futebol em que o jogo precisa acontecer e a bola materializar-se dentro da rede para confirmar ou desmentir torcidas, ilações políticas togadas tem poder em si.

O dispositivo midiático conservador pavimenta a catarse legitimadora das arquibancadas diante de um jogo sem bola, em que o apito do juiz define o placar com base na sua visão política do mundo.

O livre arbítrio desmesura seu alcance no ambiente opaco do estado do domínio; vê o que quer ver a ideologia sob a toga. Empresta a essa visão consequências judiciais e históricas desfrutáveis pelo bloco de afinidade oposta ao do réu. Alguns, mais afoitos, caso do Procurador Geral, Roberto Gurgel, adiantam os passos e pedem ao eleitor, explicitamente, a 72 horas da urna, que subordine seu voto às ilações togadas.

Descarnar o governo Lula de sua identidade social num solvente corrosivo de suspeição e desencanto é o estuário perseguido por esse vertedouro de pequenas notas e grandes maquinações.

Mas persiste uma zona de indefinição.

O golpe contra o partido da esquerda não consagra automaticamente o programa contrário de regressivo reordenamento social e econômico. Há uma década o interesse conservador não consegue retomar o timão nas urnas.

Sua bússola, cartas de navegação e o próprio vento vem sendo pisoteados e rejeitados as ruas da crise mundial do neoliberalismo. Não por acaso o programa do tucano José Serra para a cidade de São Paulo teve uma ênfase apenas: desfrutar os acordes irradiados do STF.

Até que ponto essa engrenagem emperrada nos seus próprios termos terá êxito em calcificar a supremacia das ilações sobre transformações -inconclusas, parciais, insuficientes - mas objetivas,acumuladas na vida da população nos últimos dez anos (* abaixo algumas delas)?

Essa incógnita começa a ser respondida nas urnas deste domingo.

(*) A taxa de desemprego trazida do ciclo de presidência do PSDB era da ordem de 13%, em maio de 2003;oito anos de Lula e dois de Dilma reduziram esse legado para 5,8% (maio;IBGE); em SP, especificamente, o desemprego era da ordem de 14% em fevereiro de 2003; recuou para 6,5% agora; a proporção de trabalhadores com carteira assinada saltou de 45,5% para 53,5 entre final do ciclo tucano e junho último; durante oito anos de governo de FHC o salário mínimo teve uma correção de 29,9%; no ciclo Lula/Dilma o reajuste acumulado é de 63,3%; em junho de 2003 a proporção do crédito na economia era de 24;6% do PIB; agora equivale a 50,6% dele; a dívida líquida do setor público passava de 60% em 2002; em junho deste ano caiu para 35%; a taxa de juro real, acima da inflação, era de 14% ao final do governo FHC; hoje é de 1,7%; em 2003, 28,3% dos brasileiros viviam na pobreza; hoje são 10,9%; 40 milhões de pessoas mantidas na soleira da porta, do lado de fora do país, foram incorporadas à cidadania. A ver. 
postado por Saul Leblon às 13:47
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