Brasília-DF, 08 de janeiro de 2013
Caro Artur Xexéo,
Como milhares de brasileiros, tomei conhecimento da sua coluna publicada
no Jornal O Globo, edição do dia 2 de janeiro, intitulada “O Pior
Aeroporto do Mundo”, e gostaria, igualmente, de tecer algumas
considerações a respeito do que foi nela abordado.
Desconheço a quantidade de vezes que o senhor esteve no Aeroporto Tom
Jobim (não concordo com o “coitado do Tom Jobim”, já que vincular o nome
do homenageado ao objeto da homenagem não me parece muito correto, mas
isto é apenas a minha opinião) nos últimos meses, mas o que lá aconteceu
recentemente parece não ser do seu conhecimento.
No período de 2011/12, das nove esteiras existentes no Terminal 1, as
quatro destinadas ao tráfego internacional foram substituídas e as cinco
domésticas, revitalizadas; dos 35 elevadores, a totalidade foi
substituída e estão todos em funcionamento, além de mais 35 que serão
implantados ainda em 2013. Existem em funcionamento 30 lojas de
serviços, sendo 13 por 24 horas, e sete lanchonetes, sendo quatro delas
por 24 horas, conforme atestam diversos passageiros, uma vez que
cessaram as reclamações neste sentido. O sistema automatizado de
transporte e triagem de bagagens foi contratado em novembro de 2012, com
investimento de R$ 59 milhões e a instalação está prevista para o
início de 2014.
Efetivamente, o terminal 1, por ser um terminal ainda da época da
inauguração do aeroporto na década de 1970, teve mesmo a ocorrência de
goteiras, mas garanto que com a reforma que já se iniciou pela ala A, e
posteriormente nas alas B e C, os problemas desta natureza estarão
definitivamente sanados (se o senhor tiver a oportunidade de visitar o
citado terminal, poderá atestar as obras, hoje na ala A).
Quanto ao terminal 2, ainda neste mês de janeiro será inaugurada a parte
nova do terminal (cerca de 40% da ampliação prevista), para onde será
transferido o check-in de parte das companhias que operam voos
internacionais no aeroporto.
A necessidade de prestar esses esclarecimentos reside na intenção de
demonstrar que a sua afirmação “o que autoridades dizem não é para ser
escrito” não é verdadeira. Além disso, demonstra que as expressões “caiu
aos pedaços”, “faz mal à saúde” (ainda não descobrimos ninguém que
contraiu alguma doença no aeroporto) e “deveria ser interditado” (tenho
certeza de que o senhor não pensou nem um minuto nos 50 mil passageiros
que lá transitam todos os dias e nas 30 mil pessoas que lá trabalham
para sustentar suas famílias, mas isso não é mesmo sua obrigação) são
situações que saíram de sua brilhante imaginação, não condizendo nem um
pouco com a realidade do aeroporto.
Me permita também discordar das razões que o levaram a considerar o
Aeroporto do Galeão como o pior aeroporto do mundo (prefiro acreditar
que ele seja o pior dentre os que o senhor conhece, pois imagino que o
senhor não conhece todos). Escreveu o senhor que o Galeão tornou-se o
pior aeroporto do mundo porque “a Infraero não se preocupou em dar uma
única explicação ou um pedido de desculpas aos usuários do aeroporto”.
As suas premissas não são verdadeiras, o que permite concluir que a sua conclusão também não o seja.
Todas as explicações sobre o ocorrido foram dadas ainda na noite de
quarta-feira, bem como durante toda a quinta-feira, explicações estas
reproduzidas por todos os noticiários do país, inclusive no jornal para o
qual o senhor escreve. Como talvez o senhor não tenha tomado
conhecimento, permita-me esclarecê-lo:
1) Às 20h55 um estabilizador de energia, ligado à linha principal de
fornecimento de energia do aeroporto, localizado na subestação que o
abastece, de propriedade e responsabilidade da Infraero, incendiou,
desligando automaticamente a luz em todas as dependências do aeroporto;
2) As luzes de emergência do terminal 2 se acenderam imediatamente, mas infelizmente tal fato não aconteceu no terminal 1;
3) Os geradores que fornecem energia emergencialmente ao sistema de
pistas e pátios funcionaram imediatamente (todas as aeronaves que se
destinavam ao aeroporto pousaram normalmente), mas infelizmente os que
abastecem os terminais só entraram em funcionamento às 21h05;
4) Nos sistemas de emergência de qualquer aeroporto, inclusive os
melhores do mundo, só funcionam a iluminação e as entradas de energia
(tomadas) – nenhum sistema alternativo comporta o funcionamento de todos
os equipamentos existentes. Essa foi a razão do senhor não ter
encontrado as escadas rolantes funcionando em sua trajetória até a sala
vip da British Airways, que por sinal fica na ala B do Terminal 1, não
no Terminal 2. Destaque-se que as lojas fechadas nessa ala serão
mantidas dessa forma em virtude da reforma que ocorrerá no local, não
havendo interessados em alugá-las por curto período;
5) A linha de energia auxiliar, situada na mesma subestação da linha
principal, somente pôde ser ligada pela concessionária de energia
elétrica às 23h, devido à interdição do local pelo Corpo de Bombeiros;
6) Tendo voltado a energia pela linha auxiliar, os equipamentos do
aeroporto foram sendo reativados, com supervisão da própria
concessionária de energia elétrica, de forma paulatina, de maneira que à
1h de quinta-feira estavam todos funcionando normalmente.
Com relação ao pedido de desculpas, novamente o senhor não deve ter
tomado conhecimento, mas em entrevista a diversos veículos da imprensa
brasileira, na manhã de quinta-feira, o superintendente do aeroporto se
desculpou pelos contratempos enfrentados pelos usuários. Eu mesmo, na
manhã de sexta-feira, em entrevista coletiva no próprio aeroporto, pedi
desculpas aos passageiros dos 19 voos que partiram com atraso (nenhum
superior a uma hora e não tivemos nenhum voo cancelado) e a todos os que
estavam no aeroporto naquele momento.
Evidentemente, estamos reavaliando todo o sistema de redundância do
aeroporto, para impedir que tal fato aconteça novamente, numa eventual
ocorrência de falta de energia elétrica no futuro.
Lamento que o senhor não tenha recebido nenhuma explicação da Infraero
naquela oportunidade, mas a sua informação de que deixamos os
passageiros agirem por conta própria, não condiz com o fato de que todos
embarcaram em seus voos e partiram, com pequenos atrasos, é verdade,
mas partiram e chegaram em segurança aos seus destinos.
Se o senhor me permite uma discordância adicional, gostaria de abordar a
sua opinião a respeito da eficiência da Infraero. Evidentemente, não
conheço todas as empresas públicas brasileiras e não tenho condições de
avaliar as suas eficiências. Como o senhor parece ter (a comparação
pressupõe o conhecimento dos entes comparados, sob pena de ser uma
comparação irresponsável, o que me parece não ser característica de sua
pessoa), mas considerar a Infraero “a mais ineficiente das empresas
públicas brasileiras”, pelas razões expostas na sua coluna, é, no
mínimo, uma tremenda injustiça para com essa empresa que construiu e
administra os aeroportos brasileiros há 40 anos.
A minha opinião, apesar de ser apenas uma opinião (como a sua também o
é), se baseia no trabalho desenvolvido por todo o corpo funcional dessa
empresa na administração de 63 aeroportos, 22 torres de controle
(orientação de aproximação de voos), 24 gerências de navegação aérea
(algumas localizadas em regiões de difícil acesso, como Iauaretê, no
norte do Amazonas), 38 unidades técnicas de navegação aérea (operação de
radares e equipamentos de orientação ao voo), cinco estações
meteorológicas de altitude (responsáveis pelo lançamento de 10 balões
meteorológicos diários e da análise dos dados coletados, para orientação
das aeronaves), que trabalhando 24 horas por dia, sete dias por semana,
permitiram em 2012 o transporte de mais de 180 milhões de passageiros e
de 1,3 bilhão de toneladas de carga, em 3 milhões de pousos e
decolagens, com absoluta segurança.
A mim pareceria mais adequado se sua crítica se voltasse à administração
da Infraero, da qual faço parte, e não à empresa como um todo, mas isto
também é apenas uma opinião, que não me parece que será levada em conta
pelo senhor.
Por fim, como não tenho a tribuna de O Globo para levar ao conhecimento
de milhares de brasileiros minhas considerações a respeito do assunto,
como o senhor a tem, informo que, por uma questão de lealdade para com
os empregados da Infraero, os verdadeiramente atingidos por sua injusta
(é só mais uma opinião) manifestação, esta correspondência será
reproduzida nos canais internos da empresa.
Cordialmente,
Antonio Gustavo Matos do Vale
Presidente da Infraero
Presidente da Infraero
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