Por Altamiro Borges
Segundo o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi,
a amarga receita neoliberal já estaria produzindo efeitos “positivos” no mercado
financeiro e as bolsas de valores de vários países europeus voltaram a subir.
Ele também citou a China, que retomou o crescimento da sua economia, como fator
positivo para a superação da grave crise capitalista mundial. As importações
chinesas, que não haviam crescido nada em novembro, registraram um aumento de
6% no último mês do ano passado.
Nesta semana, os chamados “especialistas do mercado” – nome
fictício dos porta-vozes do capital financeiro –, saudaram a aparente
recuperação econômica dos países da União Europeia. Segundo os adoradores do
credo neoliberal, os sinais “otimistas” revelariam o acerto das medidas de
austeridade adotadas pelos governos rentistas. Em outras palavras: a
explosão do desemprego, o arrocho salarial e a regressão dos direitos
trabalhistas estariam alavancando novamente as economias do velho continente.
Para o carrasco do Banco Central Europeu, “a economia da
zona do euro vai continuar apresentando sinais de fraqueza em 2013. Mas, no fim
do ano, a atividade econômica deve iniciar uma recuperação gradual. Vários
indicadores se estabilizaram, ainda que a níveis baixos, e a confiança do
mercado melhorou consideravelmente”. O tom aparentemente otimista de Mario
Draghi serviu para justificar novas as medidas de austeridade fiscal, que tanto
têm penalizado os povos da Europa.
O discurso do agiota, porém, não convence. No final do ano
passado, a própria Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico
(OCDE), uma espécie de clube dos países ricos, reduziu as projeções de
crescimento de 31 dos seus 34 integrantes e voltou a alertar para o
risco de nova recessão mundial. “Após cinco anos de crise, a economia
global está se
enfraquecendo novamente. O risco de uma nova grande contração não pode
ser
descartado”, alertou o economista-chefe da OCDE, Pier-Carlo Padoan.
A OCDE previu que o Produto Interno Bruto (PIB) combinado de
seus 34 integrantes crescerá apenas 1,4% neste ano. Em maio passado, ele havia
projetado um crescimento de 1,6%. Já no caso da Europa, ainda mais dramático, ele
prevê que haverá contração de 0,1% em 2013. “A zona do euro, que passa por
pressões significativas, pode estar em perigo”, afirmou Padoan. Diante da
gravidade da crise, a OCDE recomendou aos bancos centrais maior estímulo as
suas economias, bem diferente do que prega o carrasco Mario Draghi.
Seja qual for o diagnóstico e as receitas para a superação
da grave crise capitalista, uma coisa é certa. Mesmo no caos, os banqueiros
continuam lucrando e mantendo seus privilégios. Na semana passada, a ditadura
do capital financeiro confirmou que está mais forte do que nunca. O Comitê de
Basileia para Supervisão Bancária, composto pelas autoridades monetárias de 26
países, decidiu afrouxar ainda mais as regras de controle dos poderes públicos
sobre a especulação rentista.
Até o Estadão, um ardoroso defensor do capitalismo, criticou
as medidas por elas prolongarem ainda mais a agonia do próprio sistema. “Os bancos venceram
mais uma parada e ganharam mais quatro anos, até 2019, para adotar novos
padrões de segurança contra corridas aos depósitos e ondas de pânico. Passados
mais de quatro anos da quebra do Lehman Brothers, banqueiros continuam
resistindo às reformas necessárias para tornar o sistema financeiro menos
perigoso para a economia global”.
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