quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Odair Cunha, a CPI do Cachoeira e a 'coragem' do cabo Anselmo

Intrincadas negociações estão sendo feitas na CPMI do Cachoeira, algumas para viabilizar a aprovação do relatório final do deputado relator Odair Cunha (PT-MG), outras claramente para sabotá-lo na íntegra, sobretudo por parte da oposição tucana, que não deseja ver seu governador Marconi Perillo (PSDB-GO), entre outros correligionários, sair indiciado.
Odair apresentou uma ousada primeira versão do relatório, com indiciamento de jornalistas, e pedido para investigar o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel. Tirando a bancada do PT e o senador Fernando Collor (PTB-AL), quase todos os demais membros da CPI vetaram estes dois itens e afirmaram que, se não fossem retirados, votariam contra o relatório inteiro.
O relator admitiu retirar estes dois itens para conseguir aprovar o resto, com apoio de parte do PMDB e de outros membros da base do governo Dilma. Nas redes sociais, o recuo foi tratado como "covardia".
Toda vez que ouço essa palavra "covardia" em política, quando não há chances de vitória no enfrentamento, me vem à mente a história do cabo Anselmo – o ex-militar que participou da liderança do protesto dos marinheiros, que por sua vez marcou a derrocada de João Goulart e o golpe de 1964 .
Contam os que viveram aquele tempo, que o ex-marinheiro era "corajoso pra caramba". Insuflava seus colegas a enfrentamentos desastrados, sem a menor chance de êxito. Depois descobriram que ele era um agitador infiltrado, que atuava propositalmente para arrastar seus colegas ao abismo.
Pois hoje, nas redes sociais, também tem muita gente com a melhor das intenções, fazendo o jogo, sem querer, de deixarem arrastar o relatório todo da CPI para o precipício.
Odair busca apenas montar a equação PT+PMDB em vez de PMDB+PSDB.
Na CPI, muita gente que esbraveja frente às câmeras contra o dono da empreiteira Delta, nos bastidores quer 'melar' o relatório todo, usando outras desculpas. Não querem indiciar o empreiteiro e se desgastariam perante seu eleitorado se defendesse retirar o indiciamento.
Até o deputado Protógenes (PCdoB) diz que votará contra o relatório. Alega que é porque não investigou o esquema paralelo da construtora Delta. Mas será isso mesmo? Afinal o indiciamento do dono da empresa continua no relatório.
O deputado Silvio Costa (PTB-PE) também declarou que votará contra todo o relatório. Não está claro o motivo.
Diante desse quadro, mesmo sem o indiciamento do jornalista da Veja e do PGR, será uma grande vitória se Odair Cunha conseguir aprovar parcialmente algum relatório final que leve ao indiciamento pelo menos dos políticos graúdos ligados ao bicheiro. Até porque, mesmo sem indiciamento, a relação de intimidade entre jornalista e Cachoeira já ficou irremediavelmente exposta, assim como está irremediavelmente exposta a necessidade do Ministério Público esclarecer o sobrestamento indevido da operação Vegas pelo PGR.
E quanto à coragem, se alguém lhe pedisse para dar murro em ponta de faca, como prova de valentia, você daria?

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