São tão diferentes os sistemas políticos de Brasil e Estados Unidos que é difícil comparar suas eleições com as nossas.
Ainda assim, muito do que acontece por lá pode ser útil para compreender
os problemas que temos aqui. Pode nos ajudar a perceber em que
dimensões é possível aprimorar nossa democracia.
Duas diferenças entre as culturas dos dois países ficaram particularmente visíveis no processo que levou à reeleição de Obama.
A Pluralidade
Tirando o bipartidarismo de fato, tudo, na vida política
norte-americana, tende a ser muito. Tudo é múltiplo, variado,
heterogêneo.
O que é bom.
Aqui, temos um multipartidarismo exagerado, com 30 partidos registrados e
28 com algum tipo de representação legislativa. Fora isso, tudo é pouco
e limitado.
O que é mau.
Lá, cada estado tem suas regras eleitorais. Em alguns, aproveita-se a
eleição para fazer plebiscitos e referendos. Em uns, o voto é de um
jeito. Em outros, de outro.
Não existe uma rede de televisão que monopoliza a audiência. São dezenas
os jornais relevantes. São várias as grandes empresas de comunicação, o
que as torna mais competitivas e oferece escolha efetiva ao público.
Existem muitas empresas de pesquisa e são inúmeras as pesquisas
publicadas. Não têm só um grande comprador e só um grande fornecedor.
No Brasil, o figurino institucional é imposto centralmente e a indústria
de comunicação é oligopolizada. Estamos na idade da pedra em matéria de
divulgação de pesquisas.
A Autonomia
A cultura política norte-americana é liberal e autonomista. Baseia-se no
princípio da liberdade individual e no direito à livre escolha.
Vota quem quer, do modo que quiser. Se preferir, vota antes dos outros
ou pelo correio. Qualquer cidadão pode se inscrever candidato a
presidente (este ano, foram 417).
Para um americano, não faria sentido que recursos públicos fossem
utilizados para ensiná-lo a votar. Uma campanha caríssima de “Vote
Limpo!”, por exemplo, seria considerada ridícula.
Aqui, temos um liberalismo de fachada, usado na hora de defender
privilégios e preconceitos. Mas uma cultura política fortemente baseada
na noção de tutela.
As elites brasileiras não acreditam no povo e em sua capacidade de
discernir. Daí que inventaram e mantém instituições para “protegê-lo”.
Não pode isso, não pode aquilo. Campanha, só depois da hora marcada.
Criamos até um braço especializado do Judiciário para “tomar conta” das eleições.
O grande problema de nossa cultura é que os monopólios e o paternalismo
são faces da mesma moeda. É muito difícil enfrentar um sem cuidar do
outro.
O certo é que, se não os resolvermos, ficaremos sempre aquém do que podemos ser como democracia.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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