Na falta de um projeto alternativo para o país, a oposição encontra na
grande mídia quem lhe paute e lhe ajude a formular uma agenda contra o
governo. Diariamente, jornalões e revistas ditas de grande circulação,
todos de propriedade dos grandes conglomerados de mídia brasileiros,
publicam suas reportagens e dão voz a seus articulistas para se
posicionarem contra medidas adotadas pelo governo em diversas áreas.
As matérias – muitas das quais de apuração duvidosa – chegam ao cinismo de criticar aquilo que até bem pouco tempo defendiam.
Um exemplo desta contradição pode ser apontado nas reportagens
publicadas neste final de semana pelo Estadão, contrárias às iniciativas
regulatórias lançadas pelo governo na economia. Estranhamente,
criticavam o governo Lula, a quem acusavam de não fortalecer o papel das
agências reguladoras, ignorando que durante a era FHC as mesmas
agências tinham função meramente decorativa.
Agora, se mostram contra o processo de regulação do mercado de energia,
de telecomunicações, de saúde e bancário e atacam iniciativas que têm
reduzido o custo da energia, do crédito e das tarifas bancárias, além de
enquadrar os planos de saúde e as operadoras de telefonia, para
defender os usuários dos abusos que vinham sendo praticados.
Investidos de nenhuma racionalidade e muita vontade de encontrar
problemas, o tucanato e seus aliados na imprensa acusam o governo de não
respeitar o mercado, de intervir na economia e afugentar os
investimentos.
Chegam ao ponto de atribuir às medidas de regulamentação a depreciação
das ações de empresas do setor elétrico, bancário e de telecomunicações
na Bolsa de Valores.
Defendem que as empresas de energia terão enormes prejuízos com a
redução da conta de luz determinada pela presidenta, Dilma Rousseff, e
que ficarão sem condições de fazer investimentos. Mas se esquecem de
mencionar que o governo está aberto à negociação e indenizará as
possíveis perdas dos concessionários do setor.
Não admitem que a relação do governo federal com as empresas esteja
mudando nos últimos dez anos, fruto do entendimento de que questões como
os altos juros e o alto custo da energia são incompatíveis com o nível
de desenvolvimento que pretendemos.
O Estadão fez circular também a tese de que a oposição deve reassumir
seu discurso em defesa das privatizações e explorá-lo na campanha
eleitoral de 2014. Segundo o jornal, a oposição cogita utilizar o
programa do governo de concessões para realização de grandes obras de
infraestrutura - portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, hidrovias e
hidrelétricas - para dizer que o PT também aderiu às privatizações.
À frente desse movimento estaria o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso. Outro entusiasta desta ideia é o presidente nacional em
exercício do PSBD, Alberto Goldman. O ex-governador de São Paulo detalha
ao jornal que o objetivo é resgatar projetos que, na visão do seu
partido e mais DEM e PPS, o PT lhes “tomou”.
Além do primarismo de afirmarem que concessão é a mesma coisa que
privatização, é difícil acreditar que os tucanos tenham coragem de levar
essa ideia adiante e de defender, publicamente e em campanha, a
privatização – na verdade, privataria – que fizeram.
Até agora e nas campanhas presidenciais de 2002, 2006 e 2010 se esquivaram e fugiram do tema o máximo que puderam.
Imprensa e oposição esmeram-se também em apontar com destaque qualquer
indício de irregularidade nas obras em andamento para os eventos que o
país sediará, como a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
O papel fiscalizador seria muito bem-vindo, se não fosse nitidamente
denuncista, alvejando suspeitas que já são objeto de investigação, ou
que apenas foram levantadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU),
ainda sem comprovação de que, de fato, houve qualquer irregularidade.
São pródigos em fazer campanhas contra o Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem), realizado com sucesso no início do mês, e até mesmo contra o
Bolsa Família, um programa que se revela fundamental para combater a
fome e resgatar a cidadania de milhões de brasileiros.
Em relação ao Bolsa Família, foram publicadas por outro grande jornal
denúncias de irregularidades ocorridas há mais de quatro anos, as quais
foram descobertas pelos próprios sistemas de controle do Ministério do
Desenvolvimento Social.
A reportagem elencou casos episódicos, para fazer alarde e levar à falsa
interpretação de que o programa não tem fiscalização, quando a
transparência e o controle nas ações são os grandes responsáveis pelos
seus avanços.
Ao investirem dessa forma e com essa agenda fraca contra o governo
federal, oposição e aliados não percebem que correm o grave risco de se
enredarem na própria armadilha, subestimando a inteligência e a
capacidade de discernimento da população.
Na ausência de um discurso sustentado por ideias e propostas, metem os
pés pelas mãos e reiteram sua posição contrária a tudo aquilo que está
dando certo e que a população aprova. Reafirmam que são contra todos os
avanços em Educação, no combate à pobreza e no desenvolvimento do país.
Esforçam-se em vão, já que o governo da presidenta Dilma tem ampla
aprovação, o que se comprova a cada nova pesquisa de avaliação de seu
governo, expressando o desejo da população de que Brasil continue
passando pelas mudanças que o faz mais forte, capaz de enfrentar a crise
gerando emprego e renda, sendo respeitado lá fora e, principalmente, um
país muito melhor para os seus cidadãos.
José Dirceu, advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT
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