segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

As Penas Estão Voando

21.01.12 | 18h07 - Atualizado em 21.01.12 |
  • PSDB prepara prévia para apaziguar ânimos


  • Expectativa é que modo de escolha de candidato para 2014 mude clima interno.


  • OGLOBO



  • Diante das crescentes críticas à apatia tucana e da persistência das divergências internas, especialmente entre mineiros e paulistas, a cúpula do PSDB decidiu iniciar imediatamente o recadastramento de filiados em todo o país como primeira providência para realizar prévias para a escolha do próximo candidato à Presidência.

    A perspectiva é que o candidato seja definido até o fim do ano, no mais tardar no início de 2013. Antes disso, porém, o partido precisa se reorganizar para as eleições municipais deste ano, diante do risco de perder para o PT a hegemonia em seu principal reduto eleitoral, São Paulo.

    A briga travada nos bastidores entre o ex-governador José Serra (SP) e o senador Aécio Neves (MG) pela preferência do tucanato para a disputa presidencial de 2014 vem deixando em segundo plano não só a reestruturação do partido como sua atuação na oposição ao governo Dilma. A aposta do presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), é que esse clima de guerra acabe diante da perspectiva de realização das prévias.

    - Ao término de 2012 estaremos em condições de realizar as prévias para as eleições presidenciais. Nossa disposição é de escolher nosso candidato logo depois das eleições deste ano - afirma Guerra.

    Suspeitas de conspiração e relações cortadas

    Na última semana, Guerra fez nova tentativa de amenizar o clima de disputa entre Aécio e Serra. Em reuniões com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sondou mais uma vez a possibilidade de Serra entrar na disputa pela prefeitura de São Paulo - hipótese que deixaria o PSDB paulista numa situação mais confortável para enfrentar a candidatura do petista Fernando Haddad, patrocinada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

    Por outro lado, praticamente sepultaria as chances de Serra de reivindicar a vaga de candidato à Presidência em 2014. Mas Serra não está disposto a entrar na disputa paulistana.

    O clima no PSDB anda tão ruim que bastou a presença de Aécio nos encontros com Alckmin e Fernando Henrique para alimentar novas suspeitas de uma possível conspiração contra o ex-governador paulista. Para se ter uma ideia, Guerra e o primeiro vice-presidente do PSDB, o ex-governador Alberto Goldman, um dos principais aliados de Serra, não se falavam desde o fim do ano passado.

    A confusão começou depois que Guerra encomendou a Goldman um balanço sobre o primeiro ano do governo Dilma. O texto, no entanto, acabou sofrendo modificações, o que desagradou não só a Goldman como Serra, devido à redução no tom das críticas ao PT.

    - Meu texto não chegou a ser examinado pela Executiva Nacional, e, como havia o compromisso de que só seria apresentado à imprensa depois do Réveillon, viajei para São Paulo. Mas fui surpreendido com a publicação do documento no site do partido com várias mudanças. Desde então, tenho perguntado por e-mail ao presidente Sérgio Guerra os motivos destas alterações, e não recebi qualquer resposta - relata Goldman.

    Aliados de Serra e de Aécio não se entendem

    A última reunião da Executiva Nacional do PSDB, pouco antes do Natal, acabou em um ríspido diálogo entre o ex-governador José Serra e o secretário-geral do partido, o deputado Rodrigo Castro (MG), aliado do senador Aécio Neves. Indignado com a publicação do livro "Privataria tucana", do qual é um dos principais alvos, Serra cobrou a solidariedade do partido aos ataques recebidos e insinuou indiretamente que tucanos mineiros estavam por trás da publicação. Castro reagiu de maneira dura, assim como o deputado Eduardo Azeredo (MG).

    Essa brigalhada sem fim entre mineiros e paulistas tem atrapalhado também o plano dos tucanos de reestruturar o partido, sobretudo na área de comunicação. A pesquisa encomendada ao cientista político Antonio Lavareda, que concluiu que o PSDB vem perdendo a guerra da comunicação para os petistas, foi recebida com críticas à ala paulista do partido.

    - É equivocada a avaliação de que não avançamos na reestruturação do partido. Sob o comando do presidente Sérgio Guerra começamos a resgatar o legado deixado pelo governo Fernando Henrique Cardoso e já começamos a reorganizar setores fundamentais do partido. Promovemos um encontro de jovens e agora vamos fazer um de trabalhadores. Além disso, já começamos a nos preparar para a realização de prévias - rebate o deputado Rodrigo Castro.

    Aécio é cobrado a se posicionar

    A falta de clareza sobre quem será o candidato do PSDB à sucessão da presidente Dilma Rousseff é o maior complicador no ninho tucano. Embora Aécio seja apontado por grande parte do partido como o nome natural para 2014, seu comportamento discreto no Senado tem deixado muitos aliados na dúvida sobre suas intenções e condições políticas, além de abrir espaço para ambições de outros possíveis candidatos.

    Até mesmo aliados do senador mineiro já admitem que Aécio terá de se posicionar de maneira mais clara nos próximos meses. Se não for mesmo disputar a prefeitura paulista, Serra poderá ser o principal adversário de Aécio nas prévias. O líder da bancada no Senado, senador Álvaro Dias (PR), propõe que o partido realize uma espécie de primária, a exemplo do que acontece nos EUA, e não descarta a possibilidade de entrar nesta disputa.

    - Esse modelo de impor um nome de cima para baixo já se esgotou. As eleições primárias seriam o caminho para a construção da unidade partidária - defendeu Álvaro Dias.

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