Movimentos sociais e artísticos, como o Black Rio e o black são paulo, estavam na mira dos arapongas.
O alerta acima, acompanhado de dois carimbos de “confidencial” em cada uma das nove páginas do documento, foi dado pelo Centro de Informação e Segurança da Aeronáutica (Cisa-RJ), em 20 de outubro de 1976. Com o sugestivo título Racismo negro no Brasil, a pasta reflete a preocupação dos órgãos de segurança do governo comandado pelo general Ernesto Geisel com a infiltração de entidades subversivas nos movimentos populares. Os agentes da ditadura seguiam cada passo, registravam cada palavra dita por militantes, simpatizantes e intelectuais em favor da inclusão dos negros na sociedade brasileira.
O documento, que traz a chancela da Agência Central do Serviço Nacional de Informações, o SNI, detalha o que se passava nas palestras e nos debates promovidos por associações culturais, responsáveis pelo trabalho de recrutar simpatizantes ligados à causa negra. “Nesta fase, os conferencistas preocupavam-se em não falar ostensivamente em política, mas condicionavam os ouvintes a aceitar a existência de um disfarçado racismo branco no Brasil.” Eram nessas palestras, segundo relata o agente, que os militantes identificam as pessoas mais sensíveis às ideias do movimento. Posteriormente, elas eram convidadas a participar de grupos de estudo, em caráter reservado.
Obtido pelo Correio no Arquivo Nacional, o relato do araponga ligado ao serviço secreto da Aeronáutica é detalhado e cheio de minúcias, e cita os principais temas apresentados pelos militantes, tais como:
» Qualquer movimento cultural não pode ser desvinculado do político, já que muitas manifestações culturais, principalmente a negra, é esmagada por uma força política branca que é adversa a qualquer outro motivo cultural de outra raça;
» O problema do negro no Brasil é sociocultural, pois a sociedade dominante da época da escravidão até os dias de hoje é branca e não é do seu interesse que a cultura negra vigore;
» Os negros devem se conscientizar do que são, e se honrar dos seus antepassados que lutaram até morrer por uma liberdade, como foi o caso do Quilombo dos Palmares.
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