Diversas entidades estiveram presentes em reunião com o o relator
especial para promoção e proteção do direito à liberdade de opinião e
expressão da Organização das Nações Unidas, Frank de La Rue, no dia 13,
em São Paulo, apresentando casos brasileiros de violação da liberdade
de expressão, assim como obstáculos para o avanço da efetivação do
direito à comunicação. Em visita ao Brasil a convite da campanha “Para
expressar a liberdade”, o guatemalteco afirmou que deve produzir uma
notificação a partir dos relatos ouvidos e dos documentos recebidos.
Entre os casos apresentados ao relator da ONU, destaca-se o crescimento
no número de jornalistas e militantes dos direitos humanos
assassinados nos últimos anos possivelmente por expressarem
publicamente suas opiniões. Segundo a organização Artigo 19, em 2011
foram quatro assassinatos comunicadores brasileiros e em 2012 o número
subiu para seis. O maior número de casos acontece em cidades pequenas,
longe dos grandes centros urbanos e os mandantes são na maioria das
vezes agentes públicos e autoridades locais alvos das críticas desses
indivíduos.
Os Blogueiros Progressistas (Blogprog) estenderam a discussão à
perseguição que vêm sofrendo os comunicadores na internet, vítimas de
ameaças e de processos de censura que se dão por meio da
“judicialização”. Ou seja, constrangendo indivíduos por meios legais,
se cria um obstáculo ao exercício da liberdade de expressão. Entre as
figuras mais famosas alvos dessa prática, segundo Altamiro Borges, do
Centro Barão de Itararé, encontram-se os jornalistas Paulo Henrique
Amorim, Luís Nassif e Luiz Carlos Azenha, embora existam muitos mais
espalhados pelo país.
Frank de La Rue se admirou com o caso específico do site “Falha de São
Paulo”, processado pelo jornal paulista “Folha de São Paulo”. Segundo o
relator, deve ser produzida por ele uma notificação, documento que
pede esclarecimento aos governos sobre casos específicos de violação de
direitos. O sítio eletrônico tem sido alvo de processo por parte do
jornal comercial por caricaturar o veículo e seu proprietário.
Primeira vez em que uma grande empresa de comunicação utiliza-se de
meios jurídicos para perseguir um pequeno blog, a sociedade civil teme
que a derrota na justiça defina uma jurisprudência que restrinja a
liberdade nesse e em outros casos. La Rue se diz preocupado com o
crescimento da perseguição e da censura que tem observado no mundo “à
caricatura e à ironia”, embora sejam “formas legítimas de se exercer a
crítica”.
O Coletivo Intervozes expressou a preocupação com a concentração de
meios de comunicação e com os obstáculos que são colocados para o
funcionamento de veículos comunitários pelas próprias leis brasileiras,
com grande criminalizacão dos radialistas comunitários. Segundo João
Brant, representante da entidade, é preciso pensar a desconcentração
para além do número de veículos sob a propriedade de um mesmo grupo,
levando em conta a participação na repartição da audiência e da verba
total captada.
Foram apresentadas pelas entidades presentes também preocupações com as
dificuldades para a implementação de um marco civil para a internet,
com a regulação da publicidade tabagista, com a criminalização de
grupos como o dos usuários de drogas, dos movimentos sociais e
sindical, a exploração mercantil do corpo feminino e a reafirmação de
preconceitos.
A reunião com o relator da ONU, promovida pelo Fórum Nacional pela
Democratização da Comunicação (FNDC), contou com a participação do
Artigo 19, Idec, Falha de São Paulo, Aliança de Controle do Tabagismo,
Conselho Federal e Regional de Psicologia, Abraj, Rede Mulher e Mídia,
Coletivo Intervozes, Blogprog, Central Única dos Trabalhadores (CUT) e
Comitê Mineiro do FNDC.
Bruno MarinoniNo Observatório do Direito à Comunicação
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