Por Altamiro Borges
Participei nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro,
juntamente com o brilhante Dênis de Moraes e o cativante Vito Giannotti, de um
debate promovido pelo jornal Brasil de Fato sobre o papel da mídia na América
Latina. Lá pelas tantas, Vito provocou os 100 presentes no auditório do
Sindicato dos Petroleiros sobre a queda de influência da televisão. “Na
sexta-feira, o Brasil vai parar. Corre o risco até de ocorrer um apagão de
energia. Vai estar todo mundo ligado na TV Globo, assistindo o último capítulo
da Avenida Brasil”.
De fato, agora à noite São Paulo parou. As avenidas ficaram
vazias; não havia filas nos supermercados; os prédios estavam lotados em plena
sexta-feira, “dia mundial da cerveja”. O Operador Nacional do Sistema Elétrico
(ONS) ficou de prontidão para evitar uma sobrecarga de energia. O sítio G1, que
também pertence à Rede Globo, explicou que o consumo poderia se elevar em até
5% e que “a energia para dar conta dessa demanda pode superar 3.000 megawatts,
o equivalente à capacidade da hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia”.
Lucro de 2 bilhões de reais
A famiglia Marinho deve estar feliz com o sucesso do melodrama,
que bateu todos os recordes de audiência da TV Globo. Enquanto milhões de
brasileiros ficavam magnetizados diante da telinha, o império global
contabilizava os lucros que obteve com a telenovela. Segundo a revista estadunidense
Forbes, especializada em grana, o melodrama criado por João Emanuel Carneiro
foi a mais bem-sucedido da história da emissora. Durante sete meses de
exibição, ele arrecadou aproximadamente 2 bilhões de reais em publicidade.
Para a revista de negócios, o sucesso da Avenida Brasil – que
teve um custo estimado de R$ 4,5 milhões – decorre do próprio crescimento econômico
do país, que permitiu a acessão social de milhões de brasileiros. O núcleo de teledramaturgia
da TV Globo soube explorar as aspirações da “nova classe C”. A novela saiu
das áreas nobres do Rio de Janeiro e foi ambientada num bairro popular. Ela
teve como personagens centrais pessoas “comuns”, expressivas dos 40 milhões de
brasileiros que o governo Lula tirou da miséria.
Expressão da nova "classe C"
Na mesma linha de raciocínio, Renato Meirelles, sócio diretor
do instituto Data Popular, especializado em pesquisas sobre a chamada nova
classe média, avalia que o êxito da novela “reflete uma classe C que quer se
ver. É diferente do novo rico do passado, que queria parecer quem não era e
tinha vergonha de falar de onde vinha. Agora não. O Tufão (personagem de Murilo
Benício) tem orgulho de falar de sua história e de sua origem. Ele ficou rico,
mas não saiu de seu bairro”.
A TV Globo pesquisou os hábitos da classe média para compor os seus
personagens, do jeito de falar e se vestir aos valores e aspirações. “Você tem
situações muito típicas da classe C. Todo mundo fala ao mesmo tempo, há muitas
cenas em que as pessoas estão comendo e há o bar que é o ponto de encontro da
comunidade, o bar do Silas”. Para Meirelles, a novela é parte de um movimento
da TV Globo de entender e se aproximar da classe média, segmento da
sociedade que agora abrange mais da metade da população.
Maioria no mercado consumidor
“Hoje a classe C não é só a maioria da audiência, mas também
é a maioria do mercado consumidor, que é para quem os anunciantes querem vender.
Então também é uma busca do público alvo do mercado anunciante”, conclui Renato
Meirelles. Ele lembra que a chamada nova classe média tem hoje metade dos
cartões de crédito e movimentou, no ano passado, R$ 1 trilhão. A TV
Globo, inimiga ferrenha das políticas sociais dos governos Lula e Dilma, lucrou
fortunas com as tímidas mudanças promovidas no país.
Segundo a Forbes, a novela Avenida Brasil foi “a mais
lucrativa da história da TV na América Latina” e um fenômeno da
teledramaturgia. O último capítulo foi vendido para mais de 500
anunciantes, segundo o jornal Valor. “São anunciantes grandes, médios e
pequenos, de todos os setores da economia, que planejaram com antecedência a sua
participação”. E o Brasil parou para assistir a novela, o que só confirma a
força que a tevê ainda exerce sobre os brasileiros. Vito Giannotti tem toda a
razão! Não dá para subestimá-la.
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