Luis Nassif
Eleito prefeito de São Paulo, o economista, cientista social e filósofo
Fernando Haddad terá pela frente um dos maiores desafios da gestão
pública mundial: como humanizar uma grande metrópole, no caso, uma das
maiores e mais desiguais do planeta.
É tarefa ciclópica que exigirá não apenas determinação política mas, também, diagnósticos precisos.
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Tome-se o caso do ex-prefeito José Serra. Foi um belo Ministro da Saúde
porque encontrou prontos, no Ministério, diagnósticos, conceitos e
planos de ações, esperando apenas o empurrão. E atuou politicamente com
coragem e determinação.
Na Prefeitura, sem dispor dessa visão completa que havia na Saúde, e
aparentemente abrindo mão de qualquer esforço de aprendizado, Serra nada
fez. Foi incapaz de pensar diagnósticos, não atraiu pensadores,
gestores e, de olho nas campanhas futuras, flexibilizou o sistema de
licenciamento de construção em níveis anteriormente só vistos na gestão
Paulo Maluf.
Entrou prefeito e, depois, deixou a Prefeitura, sem entender pontos
básicos de administração de metrópoles. A ponto de, tempos atrás, em um
evento em São Paulo- presente um economista norte-americano especialista
em economia das cidades - criticar os ônibus por "atravancarem" o
trânsito.
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Haddad entra com outro pique. Com uma formação mais vasta que Serra, já
na montagem do seu plano de governo conseguiu trazer de volta para o PT
grupos intelectuais que haviam debandado em função do escândalo do
"mensalão". E também toda uma geração de urbanistas que desiludiu-se com
a prefeitura depois que ela subordinou as principais decisões
urbanísticas aos interesses da indústria imobiliária.
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Haddad assume com a intenção de retomar as rédeas do plano diretor, mas
sabendo que a construção civil é um aliado imprescindível para a
melhoria da cidade - desde que a prefeitura defina claramente as
prioridades. O descontrole imobiliário, atendendo a temas imediatistas,
no final do processo acaba sendo ruim para todos, inclusive para o setor
imobiliário.
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Um dos pontos centrais da reforma urbana será o de aproximar os
moradores do emprego. Haddad já apontou a política fiscal como indutora
para levar mais empresas para as regiões pobres da cidade.
Há outros temas mais complexos, especialmente o da segregação de
moradias, que faz com que toda a cadeia produtiva das classes de maior
poder aquisitivo - empregados domésticos, prestadores de serviços,
empregados de comércio - morem a quilômetros de distância do local de
serviço.
Há um enorme espaço de reurbanização em zonas de interesse social nas
quais se deverá experimentar a convivência de moradias caras com
moradias populares.
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Mas o ponto central de uma administração moderna - enfatizada por Haddad
em seu discurso inicial - será promover o diálogo com todas as formas
de organização que habitam o microcosmo riquíssimo da metrópole.
Tomem-se as Organizações Sociais (OSs) de saúde. Úteis, sim. Mas, a
exemplo do PAS de Paulo Maluf, anunciou-se mas não se implementou a
perna principal: dar força aos conselhos de saúde, capazes de fiscalizar
não apenas a qualidade dos serviços como os gastos de cada unidade.
A promoção desse diálogo amplo - com intelectuais, especialistas,
organizações populares e empresariais - poderá ser o ponto de partida
para o reencontro da metrópole com seus moradores.
Leia mais em: O Esquerdopata: A busca das saídas para São Paulo
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