Marcos Coimbra
Correio Braziliense
Hoje, quando se encerra em todo o Brasil o processo eleitoral de 2012, é
dia de celebrar a democracia e o instituto sem o qual ela não existe: a
representação popular.
Em um país como o nosso, é sempre necessário lembrar a importância do
ritual eleitoral. Ele foi mais a exceção que a regra em quase 125 anos
de vida republicana.
Vivemos a maior parte de nossa experiência como nação moderna sem que a
grande maioria da população pudesse se expressar e dizer o que
desejava.
Até 1930, éramos uma República de participação fortemente limitada, em
que as oligarquias mandavam sozinhas e apenas os “bem pensantes” podiam
votar. A quase totalidade dos trabalhadores, dos pouco educados e dos
jovens não tinha voz. Nenhuma mulher votava.
Por um breve período, as amarras foram relaxadas, mas voltaram a se
fechar em 1937, quando uma ditadura baniu a política representativa. Só
voltamos a fazer eleições em 1945.
Ainda que controlada, tivemos a primeira democracia ampla por 20 anos,
quando uma nova ditadura foi implantada. Essa não eliminou as eleições,
mas colocou o sistema político no cabresto.
O golpe de Estado de 1964 aconteceu quando as Forças Armadas entenderam
que a democracia era ineficiente e perigosa. Que, em última instância,
era impossível confiar no sistema eleitoral e nos partidos políticos.
Os generais não agiram sozinhos. Assumiram o poder em resposta aos
“clamores” dos setores da sociedade incomodados com o trabalhismo de
João Goulart, especialmente o empresariado tradicional, os grandes
proprietários rurais e a parte mais conservadora da classe média.
Até o 1º de abril, a “grande imprensa” fez seu papel. Quem não se lembra
das manchetes de um jornal carioca: “Basta!”, “Fora!”. A nascente
indústria de comunicação brasileira tinha lado e estimulava a
impaciência dos militares com a democracia.
Queria derrubar o governo.
Na nova ordem, a política permaneceu, mas foi “disciplinada”. Os golpistas achavam que precisavam “saneá-la”.
Todo ditador acredita que a democracia é corruptível, que a política é
“suja” e que os políticos são inconfiáveis. Que existe uma política
“certa” e uma “errada”.
Nisso, podem ser parecidos com as pessoas normais, que costumam preferir um partido e achar que é o correto.
Mas há uma imensa diferença. Os ditadores — e os autoritários, em geral —
impõem sua visão. Decretam o que é certo ou errado, decidem o que é
“limpo” e o que é “sujo”.
Não reconhecem o valor do processo eleitoral e acham que o povo é tolo e
conduzido por demagogos. Que o cidadão precisa deles para protegê-lo,
no fundo, de si mesmo.
Como várias coisas na vida, que só existem na inteireza, não há
democracia “pela metade”. Quem acha que vai consertá-la, do alto de sua
fantasia de onipotência e superioridade, a inviabiliza.
A democracia orientada por uma falsa elite de “homens de bem” — fardados
ou vestidos com qualquer roupagem — não é de verdade. Mesmo quando seus
pretensos benfeitores se imaginam sábios e se creem imbuídos das
melhores intenções.
Hoje, quando formos à urnas nas cidades com segundo turno, é bom meditar a respeito de nosso passado.
Viva a política! Viva os políticos, que se expõem ao voto e conquistam o
direito de representar as pessoas! Que só falam em nome dos outros
depois de receber um mandato!
Viva os partidos autênticos, que juntam opiniões e visões de mundo! Que
transformam convicções individuais em projetos coletivos!
Com seus acertos e erros, viva o processo eleitoral livre, sem
interferência! Só assim expressa a vontade do cidadão, que ninguém tem o
direito de confiscar!
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