Marco Aurélio Weissheimer, Carta Maior
O Partido dos Trabalhadores (PT) tem uma grande vitória política ao seu
alcance no segundo turno das eleições municipais que ocorre neste
domingo (28). E essa vitória não se resume à possibilidade de uma
consagradora vitória de Fernando Haddad em São Paulo. A sua dimensão
maior é de natureza política. E não é nada pequena.
Há cerca de quatro meses, lideranças da oposição ao governo federal (se é
que ela tem hoje nomes que mereçam esse título) e a maioria dos
colunistas políticos dos jornalões e grandes redes de comunicação
apostavam que o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF)
destroçaria o PT nas eleições municipais. Numa curiosa coincidência, o
processo no Supremo adequou-se ao calendário eleitoral, especialmente no
primeiro turno. A pressão era intensa e permanente para que o
julgamento fosse concluído dentro do calendário eleitoral.
A frustração dessa expectativa foi total. O PT foi o partido mais votado
no país, venceu 626 prefeituras (12% a mais do que em 2008), somando
mais de 17 milhões de votos. Além disso, aumentou em 24% o número de
vereadores e vereadoras, que chegou a 5.164. E levou 22 candidatos para
disputar o segundo turno. Mas esse êxito não se resume aos números. O
saldo político é muito mais significativo. Essas foram as eleições
realizadas sob o contexto do “maior julgamento da história do Brasil”,
como repetiram em uníssono colunistas políticos e lideranças da
oposição. Ironicamente, o julgamento das urnas talvez seja, de fato, um
dos mais impactantes da história do país, fortalecendo o projeto do
partido que comanda a coalizão que governa o país há cerca de dez anos e
impondo uma derrota categórica ao principal projeto político adversário
representado até aqui pelo PSDB, seu fiel escudeiro DEM e pequeno
elenco.
E essa derrota, é importante destacar, tem um caráter programático. É a
derrota de uma agenda para o Brasil e a vitória do programa que vem
sendo implementado na última década com ampla aprovação popular. Não é
casual, portanto, que a oposição já comece a flertar com integrantes da
própria base de apoio do governo federal numa tentativa de cooptar novos
aliados para seu projeto que faz água por todos os lados.
Esse conjunto de fatores indica que o principal vitorioso nessa eleição
não é nenhuma liderança individual, mas sim um partido que conseguiu
sobreviver a um terremoto político, reelegeu seu projeto em nível
nacional duas vezes e agora, como se não bastasse tudo isso, renova suas
lideranças com quadros dirigentes que aliam capacidade intelectual com
qualidade política.
Independente do resultado das urnas neste domingo, nomes como Fernando
Haddad, Márcio Pochmann e Elmano de Freitas já representam a cara de um
novo PT, fortalecido pela tempestade pela qual passou, pelas
experiências de governo e, principalmente, pela possibilidade de futuro.
Essa possibilidade de futuro é representada por um conjunto de políticas
que enfrentam grande resistência por parte do conservadorismo
brasileiro: Reforma Política, nova regulamentação para o setor de
comunicação, colocar a agenda ambiental no centro do debate sobre o
padrão de desenvolvimento que queremos, fazer avançar a reforma agrária,
fazer a educação pública brasileira dar um salto de qualidade,
recuperar a ideia do Orçamento Participativo para aprofundar a
democracia e abrir mais o Estado à participação cidadã, acelerar a
integração política, econômica e cultural sulamericana, entre outras
questões.
A “raça” petista não só não foi destruída, como sonhavam algumas
vetustas lideranças oposicionistas que despontaram para o anonimato,
como sai agora fortalecida no final do ano que era apontado como o do
“fim do mundo”.
Mas as vitórias quantitativas do PT dependem de algumas condições para
se confirmarem como vitórias políticas qualitativas. Uma delas diz
respeito à vida orgânica cotidiana do partido que deve ser um espaço de
pensamento e organização social, com a participação regular dos melhores
quadros pensantes do país.
Uma das razões dos sucessos eleitorais do PT, que a oposição
político-midiática teima em não reconhecer (para seu azar) é o profundo
enraizamento social que o partido atingiu no país; a famosa capilaridade
que faz com que o PT seja a principal referência partidária brasileira.
Esse é um capital político acumulado extraordinário que pode ser
multiplicado se não for usado apenas como espaço eleitoral, mas,
fundamentalmente, como um espaço de defesa da democracia e do interesse
público, de discussão do Brasil e da construção de uma sociedade que
supere o paradigma mercantilista que empobrece as relações humanas,
destrói a natureza e privatiza a vida e o saber.
A militância petista tem todos os motivos do mundo para estar orgulhosa e
esperançosa neste final de ano. Afinal de contas, o julgamento do voto
popular subjugou o processo que pretendia colocar o partido e sua
principal liderança, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de
joelhos. Não conseguiram.
Este é, obviamente, um texto otimista que não está considerando os
inúmeros problemas – organizativos e programáticos - que precisam ser
enfrentados no PT, assim como nos demais partidos da esquerda
brasileira. Mas esse otimismo, mais do que justificável, é a expressão
da voz do povo brasileiro que sai das urnas mais uma vez. A nossa
democracia tem muito o que avançar, os problemas sociais ainda são
grandes, mas o aprendizado político desses últimos anos abre uma
extraordinária possibilidade de futuro. Que o PT e seus aliados tenham a
sabedoria de ouvir a voz que sai das urnas. É uma voz de apoio, de
sustentação, mas é também uma voz que quer avançar mais, participar mais
e viver uma vida com mais orgulho e ousadia.
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