Em seu discurso da vitória na eleição para prefeito de São Paulo,
Fernando Haddad lembrou dos muros da desigualdade a que a cidade está
submetida. Este tema dos "muros" merece, de fato, ser mais discutido,
pois eles conseguem se perpetuar ao longo das sucessivas administrações
que passam pela prefeitura.
Um dos muros mais impressionantes de São Paulo é aquele que isola seus
intelectuais do debate sobre os rumos da maior megalópole do hemisfério
Sul.
Na cidade de São Paulo encontra-se, por exemplo, a mais importante
universidade da América Latina, responsável por algo em torno de 25% das
pesquisas acadêmicas desenvolvidas no país. Só para se ter uma ideia
desse peso proporcional, a mais importante universidade dos Estados
Unidos (Harvard) responde por apenas 3% da pesquisa realizada nas
universidades norte-americanas.
A cidade, no entanto, costuma não ouvir sua maior universidade quando
procura por ideias e soluções para seus problemas. Ela despreza parte
significativa de sua inteligência e não sabe utilizar a força crítica de
seus acadêmicos a seu favor.
As inúmeras pesquisas desenvolvidas pela universidade sobre política
cultural, planejamento urbano, impacto de medidas de segurança,
problemas em práticas educacionais e políticas de direitos humanos são
vistas pelos poderes públicos com desconfiança, já que nem sempre elas
são laudatórias.
Um novo momento da política brasileira passa necessariamente pela
definição de relações entre administradores que devem resolver problemas
públicos complexos e intelectuais independentes que marcaram sua
atuação profissional pela procura em aprimorar sua capacidade crítica.
Muitos temem que isso seja uma forma insidiosa de "cooptação". Melhor
seria lembrar que todos os países que realizaram verdadeiro
desenvolvimento social só o conseguiram quando tiveram figuras públicas
dispostas a escutar o que seus intelectuais e artistas tinham a dizer
-mesmo que essas falas nem sempre fossem música para os ouvidos dos que
estão do outro lado. Há uma escuta do dissenso que deve ser aprendida.
No momento em que o poder público volta a enxergar os muros da cidade, a
universidade pode ser um importante ator de transformação social.
Se parte significativa da inteligência nacional está em São Paulo, é
burrice continuar ignorando-a a fim de repetir os erros de sempre.
Colocando-se para além dos partidos e das filiações partidárias, ela
sempre teve um poder de transformação menosprezado. Não há por que dar
sequência a esse menosprezo.
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