quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Quando o jornalismo é covarde

Por Kiko Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
“Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável”. Janet Malcolm



Uma das imagens mais revoltantes da história do jornalismo foi publicada hoje na capa do tabloide New York Post. Um homem tenta voltar à plataforma da estação na rua 49, enquanto o trem do metrô vem em sua direção. Seu nome era Ki Suk Han, imigrante coreano de 58 anos, casado, uma filha. Han morreria em decorrência dos ferimentos.

A reação foi instantânea. Por que o fotógrafo freelancer R. Umar Abbasi preferiu clicar ao invés de tentar salvar seu personagem? Por que o Post publicou? Por que ninguém presente à cena fez nada?

Abbasi declarou que tentou. “Eu comecei a correr, correr, na esperança de que o condutor pudesse ver meu flash”, contou. “Estou sendo injustamente massacrado pela imprensa. Estava carregando um equipamento pesado. Quando o homem caiu, ninguém ajudou. As pessoas começaram a correr”.

Abbasi afirma que disparou o flash 49 vezes. Se tivesse chegado a tempo, teria tentado puxar a vítima. Ele crê que Han ficou de 10 a 15 segundos nos trilhos antes de ser colhido.

Essa não é a melhor maneira de chamar a atenção do condutor de um trem ou de ajudar alguém a subir de volta a uma plataforma. E nada disso impediu Abbasi de, na sequência, ir à redação do Post vender as imagens.

Naeem Davis, um homeless de 30 anos, confessou ter empurrado o imigrante. Ele disse à polícia que os dois começaram a discutir depois de se trombar e que sua reação foi jogar Han nos trilhos. Depois, ficou ali parado, olhando o atropelamento.

David Carr, colunista do NYTimes, resumiu assim: “A capa do Post simboliza tudo o que as pessoas odeiam e suspeitam sobre o negócio de mídia: não apenas que os jornalistas são espectadores, eunucos morais e éticos que não intercedem diante do perigo ou da maldade, mas que torcem secretamente para que o pior aconteça”.

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