Por Paulo Moreira Leite, na coluna Vamos combinar:
Menos relevante por suas realizações na Casa Branca, Barack Obama merece ser festejado pela capacidade de derrotar Mitt Romney.
Foi uma vitória apertada de verdade, por uma diferença de pouco mais de 1 milhão de votos, embora até folgada do ponto de vista de delegados no Colégio Eleitoral que têm a palavra final na escolha do Presidente dos Estados Unidos.
Numa situação carregada de muitos “poréns” e “mas”, cabe reconhecer que Obama fez menos do que o possível para vencer a quase estagnação econômica norte-americana.
A questão é que, num mundo já em dificuldade para sair da pior crise depois de 1929, a vitória de Romney seria um passo atrás.
Daria ânimo para as lideranças mais retrógradas do planeta.
Ajudaria Angela Merkel em sua política de universalizar o Estado mínimo pelo corte de gastos e planos sucessivos de austeridade.
Netanyahou teria suporte completo para iniciar a prometida guerra de lsrael contra o Irã no Oriente Médio.
Residência do maior mercado interno do mundo, um colapso dos EUA jogaria o planeta numa terceira recessão desde 2008. Ou já seria uma depressão? Não sei.
No plano interno, seria uma ofensiva contra o que ainda resta do Estado de Bem-Estar Social criado durante o New Deal. Limitado, com muitas restrições, até o rudimentar plano de saúde de Obama estaria em risco.
Com ideias de um reacionário de jardim zoológico, as propostas econômicas que sustentavam o candidato republicano e seu vice seriam o golpe de misericórdia numa perspectiva de dias melhores no futuro. Não por acaso, foram tratadas com folclore – ainda que perigoso — por analistas como Martin Wolff, editor do Financial Times, que é conservador mas não irresponsável.
Reaganista nostálgico, Romney pretendia cortar benefícios sociais dos pobres e assegurar privilégios aos mais ricos em nome do mercado e da preservação da liberdade individual.
Sim: em sua visão de mundo, a cobrança de impostos é sempre uma forma de opressão. Jamais pode cumprir uma função de redistribuição de renda nem de estimular a criação de empregos e o crescimento. Já receber o salário mais baixo que o mercado pode oferecer é uma forma de liberdade, fruto de escolhas individuais — como não ter estudado na hora certa – ou ter pais que não tiveram “competência pessoal” para deixar uma boa herança para os filhos. Em qualquer caso, o Estado não deve envolver-se nisso.
Neste universo, a população pobre precisa de estímulos para trabalhar e produzir, sem preocupar-se com mordomias como jornada de trabalho, seguro de saúde, garantia de emprego. Como observou o historiador Tony Judt, referindo-se aos pensadores do capitalismo primitivo, quanto mais desesperada a pessoa estiver, mais produtiva ela será — e isso era ótimo, eles diziam. Continua ótimo, dizem os fanáticos do mercado, hoje.
A derrota de Romney foi sim a derrota de ideias conservadoras que não ousam se apresentar às claras. Não foi uma simples opção entre campanhas de publicidade e jogadas de marketing, ainda que cada concorrente tenha levantado perto de US$ 1 bilhão em suas campanhas, o que é um assombro.
O conservadorismo republicano atingiu um padrão tão descarado que estimulou uma divisão nítida entre classes sociais no país.
O New York Times observa que, na eleição, os mais ricos ficaram com Romney e os mais pobres com Obama.
O candidato democrata conseguiu vitórias importantes em estados onde sua política de estímulos e subsídios a preservação e reconstrução de empregos trouxe resultados práticos. A vantagem obtida em Ohio, sempre um local que simboliza os ventos de uma vitória nos EUA, teve relação direta com a defesa dos trabalhadores.
Embora Romney tivesse tentado culpar Obama pela tragédia econômica do país, o eleitor mostrou-se capaz de sutilezas analíticas – diz o jornal – e deixou claro que não esqueceu quem é responsável pela crise.
Pesquisas divulgadas pelo NYT mostram que o cidadão americano apoia medidas que abrem caminho para Obama fazer mais do que realizou até agora. Altar sagrado dos fanáticos do mercado, o déficit público é prioridade para 1 em 10 eleitores, apenas. Para surpresa da turma do impostômetro, 60% são favoráveis ao aumento de impostos – seja para os mais ricos, seja para todos.
Não chega a ser surpresa, num país onde Warren Buffet, bilionário e ídolo nacional, reclama que paga menos imposto do que sua secretaria.
A dúvida é saber até onde Obama pode ir em seu segundo mandato.
Foi uma vitória apertada de verdade, por uma diferença de pouco mais de 1 milhão de votos, embora até folgada do ponto de vista de delegados no Colégio Eleitoral que têm a palavra final na escolha do Presidente dos Estados Unidos.
Numa situação carregada de muitos “poréns” e “mas”, cabe reconhecer que Obama fez menos do que o possível para vencer a quase estagnação econômica norte-americana.
A questão é que, num mundo já em dificuldade para sair da pior crise depois de 1929, a vitória de Romney seria um passo atrás.
Daria ânimo para as lideranças mais retrógradas do planeta.
Ajudaria Angela Merkel em sua política de universalizar o Estado mínimo pelo corte de gastos e planos sucessivos de austeridade.
Netanyahou teria suporte completo para iniciar a prometida guerra de lsrael contra o Irã no Oriente Médio.
Residência do maior mercado interno do mundo, um colapso dos EUA jogaria o planeta numa terceira recessão desde 2008. Ou já seria uma depressão? Não sei.
No plano interno, seria uma ofensiva contra o que ainda resta do Estado de Bem-Estar Social criado durante o New Deal. Limitado, com muitas restrições, até o rudimentar plano de saúde de Obama estaria em risco.
Com ideias de um reacionário de jardim zoológico, as propostas econômicas que sustentavam o candidato republicano e seu vice seriam o golpe de misericórdia numa perspectiva de dias melhores no futuro. Não por acaso, foram tratadas com folclore – ainda que perigoso — por analistas como Martin Wolff, editor do Financial Times, que é conservador mas não irresponsável.
Reaganista nostálgico, Romney pretendia cortar benefícios sociais dos pobres e assegurar privilégios aos mais ricos em nome do mercado e da preservação da liberdade individual.
Sim: em sua visão de mundo, a cobrança de impostos é sempre uma forma de opressão. Jamais pode cumprir uma função de redistribuição de renda nem de estimular a criação de empregos e o crescimento. Já receber o salário mais baixo que o mercado pode oferecer é uma forma de liberdade, fruto de escolhas individuais — como não ter estudado na hora certa – ou ter pais que não tiveram “competência pessoal” para deixar uma boa herança para os filhos. Em qualquer caso, o Estado não deve envolver-se nisso.
Neste universo, a população pobre precisa de estímulos para trabalhar e produzir, sem preocupar-se com mordomias como jornada de trabalho, seguro de saúde, garantia de emprego. Como observou o historiador Tony Judt, referindo-se aos pensadores do capitalismo primitivo, quanto mais desesperada a pessoa estiver, mais produtiva ela será — e isso era ótimo, eles diziam. Continua ótimo, dizem os fanáticos do mercado, hoje.
A derrota de Romney foi sim a derrota de ideias conservadoras que não ousam se apresentar às claras. Não foi uma simples opção entre campanhas de publicidade e jogadas de marketing, ainda que cada concorrente tenha levantado perto de US$ 1 bilhão em suas campanhas, o que é um assombro.
O conservadorismo republicano atingiu um padrão tão descarado que estimulou uma divisão nítida entre classes sociais no país.
O New York Times observa que, na eleição, os mais ricos ficaram com Romney e os mais pobres com Obama.
O candidato democrata conseguiu vitórias importantes em estados onde sua política de estímulos e subsídios a preservação e reconstrução de empregos trouxe resultados práticos. A vantagem obtida em Ohio, sempre um local que simboliza os ventos de uma vitória nos EUA, teve relação direta com a defesa dos trabalhadores.
Embora Romney tivesse tentado culpar Obama pela tragédia econômica do país, o eleitor mostrou-se capaz de sutilezas analíticas – diz o jornal – e deixou claro que não esqueceu quem é responsável pela crise.
Pesquisas divulgadas pelo NYT mostram que o cidadão americano apoia medidas que abrem caminho para Obama fazer mais do que realizou até agora. Altar sagrado dos fanáticos do mercado, o déficit público é prioridade para 1 em 10 eleitores, apenas. Para surpresa da turma do impostômetro, 60% são favoráveis ao aumento de impostos – seja para os mais ricos, seja para todos.
Não chega a ser surpresa, num país onde Warren Buffet, bilionário e ídolo nacional, reclama que paga menos imposto do que sua secretaria.
A dúvida é saber até onde Obama pode ir em seu segundo mandato.
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