Nesta segunda-feira em uma entrevista coletiva sobre o caos na segurança
pública de São Paulo e as chacinas da periferia, o governador Geraldo
Alckmin ao fazer seu balanço afirmou que está na hora de discutir a
legislação federal que, segundo ele, seria frágil do ponto de vista da
punição, principalmente para os jovens.
Na entrevista, o governador insistiu em falar a palavra federal, numa
clara tentativa de buscar tirar do seu colo o massacre das últimas
semanas. Alckmin não disse claramente, mas insinuou que vai iniciar uma
cruzada pela mudança da legislação no que diz respeito à maioridade
penal e a penalização de menores.
A entrevista do tucano deu a senha para que, principalmente,
comunicadores de rádio, começassem a tocar bumbo no sentido de que “as
coisas não podem mais continuar do jeito que estão”.
E aí surgem as soluções: diminuição da maioridade penal e penas mais
duras. Entre eles, alguns já começam a pedir a aprovação da pena de
morte no país.
Não se discute por que no momento em que São Paulo vive uma das suas
piores crises de segurança o Rio de Janeiro esteja conseguindo melhorar
em muito a sua gestão neste setor, obtendo bons resultado no processo de
pacificação de parte do seu território.
Essas contraditórias realidades não são debatidas na mídia tradicional
paulistana. O umbigo tucano paulista não permite que experiências bem
sucedidas em outros estados sejam sequer discutidos. E nem que os
resultados de diferentes políticas públicas sejam confrontados.
A São Paulo tucana é o centro do mundo e se há algo errado aqui o
problema são os outros. A lei federal é que é responsável pelas centenas
de assassinatos das últimas semanas e não os erros acumulados nos
sucessivos governos tucanos.
Aliás, os erros desses sucessivos governos tornaram os aparelhos de
segurança no estado tão ruins ou piores do que eram na época da ditadura
militar. A polícia de São Paulo não é democrática e o cidadão comum,
principalmente de periferia, não confia nela. No máximo, a teme. Até por
saber que ela está contaminada por membros ativos na cadeia do crime.
Tanto que muitos dos policiais assassinados no recente período são da
corregedoria. E o cidadão esclarecido sabe que quem confronta o policial
da corregedoria não é o bandido clássico, mas o bandido policial que é
investigado por esse departamento.
Mas, Alckmin continua fazendo de conta. E no seu mundo de faz de conta,
tem a mídia tradicional para lhe fazer coro. E o grito da vez será
endurecer a lei para que mais jovens pretos e pobres sejam confinados e
retirados da vida social. Permitindo que os bandidos de fato continuem o
massacre.
A crise é tão pesada, que as pessoas estão com medo, inclusive, de
tratar do problema de forma clara. Incluindo jornalistas e estudiosos de
segurança.
André Camarante, da Folha de S. Paulo, está vivendo fora do Brasil
porque ousou fazê-lo. E a Folha está calada em relação a isso porque não
ousa desagradar os tucanos. E Alckmin? Ué, ele culpa o federal. E pede
uma lei mais dura, bem dura. Para jovens, que em geral são pretos e
pobres.
Renato Rovai
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