Fux conta à Folha como iludiu José Dirceu
Numa entrevista em que abre seu
coração, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, revela à
jornalista Mônica Bergamo os caminhos que percorreu para chegar à corte
máxima do País; ele próprio diz que fez lobby junto a Delfim Netto,
Antonio Palocci, João Pedro Stédile e… pasmem… José Dirceu; Fux diz
ainda que não se lembrava que o ex-ministro da Casa Civil era réu e
seria julgado por ele, embora admita ter pronunciado a expressão "mato
no peito"; dá para acreditar?
247 - Corre em Brasília que, antes de ser indicado
para o Supremo Tribunal Federal, o ministro Luiz Fux cunhou uma frase
emblemática. "Mensalão? Eu mato no peito", com jeitão típico de carioca.
Se é verdade ou não, pouca gente sabe. Mas o fato é que Fux pediu ao
próprio José Dirceu, apontado como "chefe de quadrilha" pelo
procurador-geral Roberto Gurgel, para ser indicado ao STF. Sobre matar
no peito… bom, aí é outra história. Fux admite que pode ter dito a
frase, mas com outra conotação. E sempre votou pela condenação dos réus –
em quase todos os casos, alinhado com o relator Joaquim Barbosa.
Se Fux mentiu na sua caminhada rumo ao STF, é uma questão
para administrar junto ao seu travesseiro. Mas ele concedeu uma
entrevista à jornalista Mônica Bergamo, que circula neste domingo na
Folha, no mínimo desastrosa. Fux revela como fez lobby e se humilhou
para chegar à suprema corte. Pediu favores a todos que poderiam lhe
ajudar – inclusive ao próprio Dirceu, a quem teria a missão de julgar.
Sobre isso, ele conta uma história pouco crível. "Eu confesso a você que
naquele momento não me lembrei [que Dirceu era réu]", disse Fux a
Bergamo. "Porque a pessoa, até ser julgada, é inocente".
Fux revela que sonhava com o STF desde 1983, quando foi
aprovado num concurso para juiz em Niterói (RJ). E afirma que estava
lutando para chegar à suprema corte desde 2004. "Bati na trave três
vezes", disse.
Sentindo-se preterido, ele partiu para o "tudo ou nada". E
se aproximou de todos que pudessem ajudá-lo. O primeiro foi Delfim
Netto. "Fizemos amizade em um debate. E aí comecei a estreitar. Alguém
me disse: 'Olha, o Delfim é uma pessoa ouvida pelo governo'. Eu colei no
pé dele", revela Fux, no seu ato de "sincerídio".
O ministro também pediu ajuda a João Pedro Stédile, líder
dos sem-terra, e a Antonio Palocci, o queridinho dos mercados
financeiros. "Houve confronto e eu fiz uma conciliação no STJ entre
fazendeiro e sem-terra. Depois pedi ao Stédile para mandar fax me
recomendando. Ele mandou", conta. Em relação a Palocci, Fux revela que
deu um voto que ajudou o governo a poupar US$ 20 bilhões. "Você poupar
20 bilhões de dólares, o governo vai achar o máximo. Aí toda vez que eu
concorria, ligava para o Palocci."
O mais surpreendente, no entanto, é ele ter procurado o
próprio Dirceu, que era o principal réu na Ação Penal 470. Fux diz que
não se lembrava dessa situação e que imaginava não haver provas. Mas
afirma que, quando leu o processo, encontrou evidências assustadoras.
"Eu tinha a sensação 'bom, não tem provas'. Eu pensei que realmente não
tivesse. Quando li o processo, fiquei estarrecido". O ministro procurou
também João Paulo Cunha, outro réu condenado na Ação Penal 470, na
campanha que fez rumo ao STF. "Só na meritocracia não vai".
A entrevista da Folha revela um juiz vaidoso. Que fala do
seu próprio implante capilar e da preocupação estética. "Quando a roupa
aperta, neurotizo". Fux não se incomoda em demonstrar que fez de tudo
para chegar ao STF – inclusive, tomando decisões que pudessem agradar
alguns padrinhos, como Palocci e Stédile. Ao ser confirmado, num
encontro com o ministro José Eduardo Cardozo, Fux diz que se emocionou
como uma criança. "Foi aí que eu chorei. Extravasei".
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