Sem novidades, só o ridículo da ditatura de perseguir e exilar um gênio
reconhecido mundialmente como Oscar Niemeyer. Pois é, não surpreendem
as revelações dessa reportagem publicada pelo Estadão de ontem, de que o
regime militar montou dossiê contra ele e monitorou também os passos
do mestre dos arquitetos brasileiros. A ditadura realmente era capaz de
tudo, em matéria que ia do rídiculo ao execrável.
Um simples telegrama de Luiz Carlos Prestes a Niemeyer cumprimentando-o
pela inauguração de Brasília em 1960, tornou-se uma das principais
provas de que o arquiteto era um homem de esquerda. A mensagem terminou
se constituindo na principal base para o Serviço Nacional de
Informações (SNI) pedir em 1973 ao Ministério da Justiça que abrisse
processo sigiloso contra ele.
"Nesta data em que Brasília passa a ser a capital do País, envio-lhe em
nome de todos os camaradas do nosso Partido nossas congratulações
mais efusivas. Sua atividade criadora em Brasília merece nosso maior
aplauso, é elevada expressão da capacidade de nosso povo e testemunho
da contribuição dos comunistas ao progresso do Brasil. Nosso augúrio -
que sabemos ser também o seu - é que Brasília venha a ser no menor
prazo possível a capital de um Brasil próspero e feliz, completamente
emancipado do jugo imperialista, numa grande e bela cidade, livre de
favelas e miséria, capital de um Brasil livre, democrático e
socialista. Com nossas saudações patrióticas extensivas a todos seus
auxiliares, afetuosamente Luiz Carlos Prestes", diz o telegrama do
dirigente do PCB.Arquiteto era considerado um perigoso homem de esquerda
Foto: Ricardo Stuckert/Foto de Arquivo PR |
No governo do general Emílio Garrastazu Médici (q1969-1975), Niemeyer
era alvo dos espiões do regime. Os documentos a respeito e que serviram
de base para a reportagem de ontem do Estadão estão em dossiê sobre o
arquiteto guardado no Arquivo Nacional. O original do texto (assinado
pelo próprio Prestes), segundo explica o próprio SNI, foi apreendido
pouco depois do golpe de 1964 em meio a documentos de Prestes - durante
décadas secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, o PCB -
recolhidos pela repressão no Rio e em São Paulo.
A documentação no Arquivo Nacional contém informes da comunidade de
informações sobre o arquiteto e cópias de entrevistas e reportagens a
seu respeito na imprensa estrangeira. O PCB nunca adotou a luta armada,
desde o início da ditadura manteve sua opção pela via pacífica via
pacífica para o socialismo, mas, mesmo assim, Niemeyer era considerado
um homem perigoso para o regime.
Outro informe constante no dossiê feito contra Niemeyer dá conta: "Dia
02 Jan 71, às 19,30 horas, foi exibido, na televisão norueguesa, um
filme falado em inglês, com elementos colhidos em BRASÍLIA, sobre a
obra de OSCAR NIEMEYER, onde este, depois de referir-se em termos
elogiosos ao ex-presidente JUSCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA e ao
engenheiro LUCIO COSTA, confirmou, ostensivamente, ser comunista. Pouco
depois, o arquiteto aparece em sua casa de campo, ao lado de uma
piscina, demonstrando, inadvertidamente, ser apreciador do conforto do
regime capitalista. O filme televisado (sic), a par da propaganda
pessoal do arquiteto, constituiu-se numa demonstração negativista da
realidade brasileira, pela ênfase dada aos aspectos de pobreza e
subdesenvolvimento focalizados (...)."
A documentação inclui, ainda, trecho de entrevista publicada na revista
peruana Oiga em seu número 373, de 8 de maio de 1970, no qual Niemeyer
dá definição política de si mesmo. Ele afirma: "Sou comunista, você o
sabe, mas também sou brasileiro, e é por ser brasileiro que sou
comunista".
No ZéDirceu
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