Enviado por luisnassif, sab, 09/06/2012 - 16:01
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Luis Nassif Um dos recursos poderia ser batizado de "o jogo de juntar pontos". Como no jogo, jogam-se vários pontos em uma página em branco. Alguns pontos são verdadeiros - e nem por isso, relevantes. Com base nos pontos verdadeiros, o repórter "investigativo" junta os outros pontos formando o desenho que bem entender, mesmo que todos os demais sejam falsos.
A cobertura do Dossiê Cayman, pela Folha, ou a série de matérias de Veja-Cachoeira valeram-se desse estratagema. Por exemplo:
- O embaixador cultural de Cuba mandou uma caixa de rum para o PT em São Paulo. Verdadeiro.
- A caixa veio em um jatinho que saiu do aeroporto de Brasilia. Verdadeiro.
- O jatinho desceu em Cumbica. Verdadeiro
- A caixa foi levada para a sede do PT. Verdadeiro.
- A caixa continha dólares guardados nas garrafas. Falso e inverossímel.
Outra capa clássica da Veja, sobre o caso Cacciola:
- Os Bragança eram amigos de Chico Lopes (presidente do BC). Verdadeiro.
- Um dos Bragança tinha dois telefones celulares, declarados no Imposto de Renda. Verdadeiro.
- O Banco Pactual tem um registro junto ao FED de Nova York. Verdadeiro.
- O Pactual obtinha informações privilegiadas dos Braganca. A conferir.
Toda essa maluquice foi possível pela adição de detalhes alguns verdadeiros, outros não, porém insignificantes para a comprovação da tese.
As leis das meias verdades
Dois estudiosos norte-americanos - Daniel Kahneman e Amos Tversky -, especalistas em probabilidade, tem um interessantíssimo estudo sobre a questão da verdade e da meia verdade, dentro da teoria da probabilidade. Esse estudo mostra porque esses detalhes insignificantes (falsos ou verdadeiros) são importantes para dar veracidade a uma meia verdade.Ambos conduziram um experimento no qual descreviam uma jovem, enquanto universitária. Depois apresentavam um teste para que determinado número de pessoas analisassem a probabilidade do que a jovem poderia ter se tornado:
- Uma feminista.
- Uma feminista bancária.
- Uma bancária.
A conclusão de ambos era a de que ser feminista era a opção mais provável, a partir da descrição que fizeram da jovem, quando universitária. Mas quando se acrescentava o emprego de bancária, mesmo sem ter nenhum ingrediente capaz de induzir ao palpite, aumentava a credibilidade da situação.
Concluíram eles:
"Se os detalhes que recebemos se adequarem à imagem mental que temos de alguma coisa, então, quanto o maior o número de detalhes numa situação, mais real ela parecerá e, portanto, consideraremos que será mais provável - muito embora o ato de acrescentarmos qualquer detalhe do qual não tenhamos certeza a uma conjectura, a torne menos provável"
Dá para entender, por aí, a gênese da parceria Veja-Carlinhos Cachoeira.
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