Do Portal Brasil 247.com
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Jornal de Otávio Frias tenta justificar modelo de cobrança na internet; editor-executivo Sérgio Dávila defende a tese de que “qualidade custa caro”, mas omite que o maior custo é o papel; ombudsman Suzana Singer relata reclamações de leitores
Embora estejam ameaçados, os jornais impressos lutam para manter o domínio na era digital. E o primeiro movimento relevante neste sentido foi feito pela Folha de S. Paulo, que instituiu o seu “muro de cobrança”. É o paywall, semelhante ao que foi adotado nos Estados Unidos pelo The New York Times. Nesta nova fase, os internautas terão acesso a uma quantidade limitada de artigos. Para ler mais, só pagando.
Neste domingo, o jornal publicou artigos interessantes sobre sua escolha. A ombudsman Suzana Singer, na coluna “Nós não vamos pagar nada”, relata reclamações de leitores e alerta que o jornal precisará fazer um esforço maior para convencer o leitor de que vale a pena pagar pelo conteúdo.
Suzana também entrevistou o editor-executivo Sérgio Dávila, que repetiu o chavão das empresas de mídia tradicionais de que “qualidade custa caro”. “Fazer jornalismo de qualidade é caro. No impresso, ele é bancado por assinaturas, venda em banca e publicidade. Não há porque ser diferente no modelo digital”, argumenta Dávila.
Ora, por que não? Basta colocar na equação a exclusão do custo gráfico. E se só houvesse qualidade no modelo pago, seria necessário concluir que não existe qualidade na televisão, no rádio e mesmo em portais de notícias do grupo Folha, como é o caso do Uol. O discurso do conteúdo pago só faz sentido para quem deseja pertencer a dois mundos conflitantes ao mesmo tempo: o do papel e o da internet.
Leia, abaixo, o texto de Suzana Singer e a entrevista de Sérgio Dávila:
'Nós não vamos pagar nada...'
Folha decide cobrar pelo acesso ao site, mas precisa melhorar o noticiário para convencer os internautas
Uma onda de reclamações se seguiu ao anúncio de que a Folhapassa a cobrar pelo acesso ao conteúdo digital. Muita indignação ("Cobrar vai contra o espírito livre da internet"), ironia ("Fui..."), crítica ("Do jeito que anda o site, vai ser difícil gastar as 20 clicadas") e até tiradas românticas ("Vou sentir falta desse espaço, uma pena terminar assim, sem nenhum afago") foram usadas pelos leitores que ameaçam se divorciar da Folha na web.
Desde quinta-feira, o acesso digital é contado. Quem passar de 20 textos por mês será convidado a fazer um cadastro. Se chegar a 40 links, terá que pagar (R$ 1,90 no primeiro mês, R$ 29,90 nos seguintes).
É o tal "paywall", muro de cobrança poroso, em que se restringe o acesso, mas sem rigor. Alguma navegação gratuita é permitida: no caso da Folha, além dos 40 textos por mês, seções como a capa (home) e o "Guia" não entram na contagem. É uma estratégia para buscar uma nova fonte de receita sem diminuir drasticamente a audiência, já que ela garante os anúncios.
Desde que o "New York Times" implantou essa cobrança, em março de 2011, o modelo "poroso" vem sendo discutido por jornais de todo o mundo. A razão é simples: a receita de publicidade na internet, diferentemente da TV aberta, não é suficiente para cobrir os custos.
Se o motivo é nobre, a revolta dos internautas também é compreensível. Acostumados a se informar de graça na rede e incomodados com um monte de anúncios que saltitam sobre a tela, não entendem por que devem colocar a mão no bolso.
A audiência na internet é dispersa, fluida, provavelmente a expressiva maioria dos visitantes do site da Folha nem vai dar com a cara no "muro de cobrança", porque consome pouquíssima notícia.
Entre os que atingirem a cota de 40 textos por mês, só os realmente comprometidos com o jornal aceitarão pagar. Não é difícil imaginar formas de burlar o "paywall", mas a experiência com iniciativas semelhantes -download de músicas, por exemplo- mostra que uma parcela considerável não se incomoda em gastar, desde que não seja muito.
Para esse grupo menor mas fiel, o jornal precisará oferecer conteúdo de qualidade superior à que o site tem hoje. Para ler pequenos informes sobre o que aconteceu nas últimas horas, em textos mal-ajambrados, ou para saber das fofocas mais recentes sobre celebridades do "mundo B", ninguém precisa gastar um centavo, há uma oferta enorme de sites e blogs gratuitos na rede.
Neste momento, o desafio da Folha é mostrar que um noticiário bem-feito custa caro, mas que vale a pena financiá-lo.
'Qualidade custa caro'
O editor-executivo Sérgio Dávila responde aos questionamentos dos leitores sobre o "paywall":
Por que cobrar pelo digital?
A ação serve à estratégia de unificar as operações impressa e digital. Além disso, a Folha é pioneira no Brasil de um modelo mundial, inaugurado pelo "paywall poroso" do "New York Times", e dá um passo necessário na rediscussão do modelo de negócios por que passa a indústria de comunicações no mundo inteiro.
Os anúncios no site não são suficientes para cobrir os custos?
Não.
A cobrança não vai contra o espírito livre da internet?
Fazer jornalismo de qualidade é caro. No impresso, ele é bancado por assinaturas, venda em banca e publicidade. Não há por que ser diferente no modelo digital, ou as contas não fecham.
Como evitarão que os internautas migrem para sites gratuitos?
Para o internauta eventual, que lê até 40 textos/mês, a Folha vai oferecer o conteúdo de sua versão impressa, que era inacessível. Não achamos que sites de notícia gratuitos sejam nossos concorrentes.
A cobrança significará um salto de qualidade no site da Folha?
Sim. Há cursos em andamento para melhorar a qualidade dos textos produzidos para a plataforma digital. A Redação passa por aprimoramento periódico.
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