domingo, 24 de junho de 2012

Folha faz ofensiva por conteúdo pago na web

Do Portal Brasil 247.com

Folha faz ofensiva por conteúdo pago na web Foto: Edição/247

Jornal de Otávio Frias tenta justificar modelo de cobrança na internet; editor-executivo Sérgio Dávila defende a tese de que “qualidade custa caro”, mas omite que o maior custo é o papel; ombudsman Suzana Singer relata reclamações de leitores

24 de Junho de 2012 às 16:27
247 – Não só no Brasil, mas no mundo inteiro, os jornais impressos estão numa encruzilhada. Com a expansão da venda de smartphones e tablets, que, no Brasil, avançou 351% no início de 2012, cada vez mais o leitor migra para plataformas digitais, onde a cultura é livre, aberta e gratuita. Com isso, as empresas de mídia tradicionais passam a enfrentar uma concorrência crescente de sites, blogs e portais independentes, como é o caso do 247. E ainda têm uma desvantagem competitiva. Embora, hoje, produzam mais conteúdo, carregam custos muito mais pesados, em função dos investimentos bilionários em seus parques gráficos. Complexos industriais gigantescos, que serão desnecessários quando o leitor abandonar de vez o papel – um movimento que se acelera no mundo inteiro por razões ambientais e também de comodidade no consumo da informação.
Embora estejam ameaçados, os jornais impressos lutam para manter o domínio na era digital. E o primeiro movimento relevante neste sentido foi feito pela Folha de S. Paulo, que instituiu o seu “muro de cobrança”. É o paywall, semelhante ao que foi adotado nos Estados Unidos pelo The New York Times. Nesta nova fase, os internautas terão acesso a uma quantidade limitada de artigos. Para ler mais, só pagando.
Neste domingo, o jornal publicou artigos interessantes sobre sua escolha. A ombudsman Suzana Singer, na coluna “Nós não vamos pagar nada”, relata reclamações de leitores e alerta que o jornal precisará fazer um esforço maior para convencer o leitor de que vale a pena pagar pelo conteúdo.
Suzana também entrevistou o editor-executivo Sérgio Dávila, que repetiu o chavão das empresas de mídia tradicionais de que “qualidade custa caro”. “Fazer jornalismo de qualidade é caro. No impresso, ele é bancado por assinaturas, venda em banca e publicidade. Não há porque ser diferente no modelo digital”, argumenta Dávila.
Ora, por que não? Basta colocar na equação a exclusão do custo gráfico. E se só houvesse qualidade no modelo pago, seria necessário concluir que não existe qualidade na televisão, no rádio e mesmo em portais de notícias do grupo Folha, como é o caso do Uol. O discurso do conteúdo pago só faz sentido para quem deseja pertencer a dois mundos conflitantes ao mesmo tempo: o do papel e o da internet.
Leia, abaixo, o texto de Suzana Singer e a entrevista de Sérgio Dávila:
'Nós não vamos pagar nada...'
Folha decide cobrar pelo acesso ao site, mas precisa melhorar o noticiário para convencer os internautas
Uma onda de reclamações se seguiu ao anúncio de que a Folhapassa a cobrar pelo acesso ao conteúdo digital. Muita indignação ("Cobrar vai contra o espírito livre da internet"), ironia ("Fui..."), crítica ("Do jeito que anda o site, vai ser difícil gastar as 20 clicadas") e até tiradas românticas ("Vou sentir falta desse espaço, uma pena terminar assim, sem nenhum afago") foram usadas pelos leitores que ameaçam se divorciar da Folha na web.
Desde quinta-feira, o acesso digital é contado. Quem passar de 20 textos por mês será convidado a fazer um cadastro. Se chegar a 40 links, terá que pagar (R$ 1,90 no primeiro mês, R$ 29,90 nos seguintes).
É o tal "paywall", muro de cobrança poroso, em que se restringe o acesso, mas sem rigor. Alguma navegação gratuita é permitida: no caso da Folha, além dos 40 textos por mês, seções como a capa (home) e o "Guia" não entram na contagem. É uma estratégia para buscar uma nova fonte de receita sem diminuir drasticamente a audiência, já que ela garante os anúncios.
Desde que o "New York Times" implantou essa cobrança, em março de 2011, o modelo "poroso" vem sendo discutido por jornais de todo o mundo. A razão é simples: a receita de publicidade na internet, diferentemente da TV aberta, não é suficiente para cobrir os custos.
Se o motivo é nobre, a revolta dos internautas também é compreensível. Acostumados a se informar de graça na rede e incomodados com um monte de anúncios que saltitam sobre a tela, não entendem por que devem colocar a mão no bolso.
A audiência na internet é dispersa, fluida, provavelmente a expressiva maioria dos visitantes do site da Folha nem vai dar com a cara no "muro de cobrança", porque consome pouquíssima notícia.
Entre os que atingirem a cota de 40 textos por mês, só os realmente comprometidos com o jornal aceitarão pagar. Não é difícil imaginar formas de burlar o "paywall", mas a experiência com iniciativas semelhantes -download de músicas, por exemplo- mostra que uma parcela considerável não se incomoda em gastar, desde que não seja muito.
Para esse grupo menor mas fiel, o jornal precisará oferecer conteúdo de qualidade superior à que o site tem hoje. Para ler pequenos informes sobre o que aconteceu nas últimas horas, em textos mal-ajambrados, ou para saber das fofocas mais recentes sobre celebridades do "mundo B", ninguém precisa gastar um centavo, há uma oferta enorme de sites e blogs gratuitos na rede.
Neste momento, o desafio da Folha é mostrar que um noticiário bem-feito custa caro, mas que vale a pena financiá-lo.
'Qualidade custa caro'
O editor-executivo Sérgio Dávila responde aos questionamentos dos leitores sobre o "paywall":
Por que cobrar pelo digital?
A ação serve à estratégia de unificar as operações impressa e digital. Além disso, a Folha é pioneira no Brasil de um modelo mundial, inaugurado pelo "paywall poroso" do "New York Times", e dá um passo necessário na rediscussão do modelo de negócios por que passa a indústria de comunicações no mundo inteiro.
Os anúncios no site não são suficientes para cobrir os custos?
Não.
A cobrança não vai contra o espírito livre da internet?
Fazer jornalismo de qualidade é caro. No impresso, ele é bancado por assinaturas, venda em banca e publicidade. Não há por que ser diferente no modelo digital, ou as contas não fecham.
Como evitarão que os internautas migrem para sites gratuitos?
Para o internauta eventual, que lê até 40 textos/mês, a Folha vai oferecer o conteúdo de sua versão impressa, que era inacessível. Não achamos que sites de notícia gratuitos sejam nossos concorrentes.
A cobrança significará um salto de qualidade no site da Folha?
Sim. Há cursos em andamento para melhorar a qualidade dos textos produzidos para a plataforma digital. A Redação passa por aprimoramento periódico.

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