Os porta-vozes da legalidade à paraguaia
Foto: Edição/247
Para defender suas posições políticas, Reinaldo Azevedo, Merval Pereira, Augusto Nunes e Marco Antonio Villa desconsideram valores elementares de qualquer regime democrático: a presunção de inocência e o direito legítimo de defesa. Desta vez, porém, Demétrio Magnoli destoou da turma
Heberth Xavier_247 - Um
processo que levou à destituição de um presidente da república decidido
em menos de dois dias poderia bem ser um novo filme de Woody Allen sobre
republiquetas latino-americanas e suas frágeis democracias - o cineasta
fez isso em Bananas, filmado em 1971.
Mas a história é verídica, ocorreu mais de 40 anos depois
e, ainda assim, não sensibilizou um grupo notório de jornalistas e
intelectuais brasileiros. Para eles, se a Constituição permite tirar do
poder um presidente eleito antes da hora, que se tire - ainda que para
isso seja preciso valer-se de um processo relâmpago e de discutível
aplicação, como parece ser o caso do presidente deposto do Paraguai,
Fernando Lugo.
A turma de defensores do golpe constitucional paraguaio
está junta há mais tempo nas últimas polêmicas políticas: nela estão o
polêmico Reinaldo Azevedo, blogueiro da revista Veja; seu colega de revista Augusto Nunes; o colunista “imortal” Merval Pereira, d’O Globo;
o historiador Marco Antônio Villa, que dá aulas na Universidade Federal
de São Carlos mas passa a maior parte do tempo dando entrevistas,
sobretudo para a Globonews…
Chama a atenção, porém, o fato de um antigo colaborador da
turma, o sociólogo e geógrafo Demétrio Magnolli, ter destoado desta
vez. Para Demétrio, o que houve no Paraguai foi um “golpe parlamentar,
vestido nos andrágios das leis de uma democracia oligarca”. “Nem mesmo
essa lei típica da democracia oligárquica foi cumprida, pela velocidade
como a coisa aconteceu”, defendeu ainda o geógrafo, outro dos
intelectuais também frequentemente ouvidos pela mídia tradicional
brasileira. Reinaldo, Augusto, Merval e Villa, porém, não ficaram tão
impressionados com a argumentação.
Reinaldo Azevedo chega a dizer que, fosse dado maior tempo
à defesa de Lugo, as forças contra o impeachment teriam tempo para
articularem-se e evitar a deposição. Transformou, desse modo, uma
discussão legítima, que passa pela presunção de inocência e pelo
legítimo direito à defesa em pressa política. O blogueiro de Veja
não deve ter tido tempo para pensar que, se a extensão do tempo da
defesa levasse à prova de inocência de Lugo e consequente derrocada do
impeachment, era um sinal de que não havia provas suficientes de
culpabilidade…
Augusto Nunes também politiza excessivamente a questão e
chama de choramingueiros quem alega que algo sério como tirar do poder
um presidente eleito não poderia ter sido feito em tão pouco tempo. É a
deixa para Nunes falar, adivinhe… do mensalão: “Os paraguaios é que
deveriam perguntar-se como pode o Brasil esperar sete anos pelo
julgamento dos quadrilheiros do mensalão”. Portanto, atenção, juristas e
magistrados brasileiros: aprendam com a Justiça paraguaia, ela é muito
superior à brasileira…
Para defender que o governo brasileiro deveria respeitar a
soberania paraguaia - embora não devesse fazer o mesmo para denunciar a
ditadura cubana, chavista ou a iraniana -, Nunes vale-se do impeachment
de Collor: “(O parlamento do Paraguai) fez com Lugo o que faria com
Fernando Collor o Legislativo brasileiro se o presidente que desonrou o
cargo não tivesse renunciado pouco antes”. O jornalista esquece os três
meses que duraram o processo brasileiro de 1992 até que resultasse na
dissolução do presidente, num episódio que envolveu na época todos os
atores políticos - muito diferente do que ocorreu no Paraguai e o vapt-vupt da queda de Lugo...
O melhor talvez seja ficar com a ideia contida no texto
equilibrado escrito neste sábado pelo também jornalista Clóvis Rossi, na
Folha de S. Paulo: a questão é complexa e envolve uma nova
modalidade golpista na América Latina, pois amparada, nas aparências, na
constituição. Rossi cita o presidente do Diálogo Interamericano,
Michael Shifter: “Vai contra o espírito da democracia”.
Alguém tem dúvidas como o mundo olhará, daqui a 40 anos,
para o que ocorreu no Paraguai esta semana? Um novo Woody Allen faria o Bananas 2. Alguém duvida mesmo?
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