quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Clínica de candidato do DEM foi pega fraudando o SUS

No fim de 2011, Natalina Carvalho Campos levou um susto ao receber cartas do Sistema Único de Saúde pedindo que confirmasse duas internações na Casa de Saúde Imaculada Conceição, em Italva, Noroeste Fluminense, por insuficiência cardíaca. Só que ela nunca teve problemas no coração. Natalina contou à polícia que só esteve uma vez na casa de saúde, em 20 de fevereiro de 2011, para retirada do útero, recebendo alta no dia seguinte. Ou seja, 10 meses antes de seu nome ser usado para criar seis internações fictícias com a finalidade de fraudar o SUS. O diretor de Serviços de Saúde da casa de Saúde é o médico Ronald Faria Crespo, candidato do DEM a prefeito de Itaperuna, município vizinho a Italva.As informações são do O Globo

O depoimento de Natalina consta no inquérito da Delegacia Fazendária (DelFaz), que durante três meses de investigação encontrou fortes indícios de desvio de verbas do SUS na Casa de Saúde Imaculada Conceição. Dados obtidos pelo GLOBO apontam que a instituição recebeu do SUS R$ 5,2 milhões, entre janeiro de 2010 e junho deste ano. O valor é destinado ao pagamento de procedimentos clínicos e cirúrgicos feitos pela entidade privada credenciada.

A polícia descobriu casos graves: duas pessoas, cujos nomes constavam em Autorizações de Internação Hospitalar (AIHs), continuavam a "receber tratamento médico" depois de mortas. São os casos de Maria José Teixeira de Andrade, falecida em 10 de janeiro de 2010, e de José Santos de Almeida, que morreu em 14 de fevereiro. Sua AIH dizia que ficou internado até 14 de março, um mês depois de falecer na Imaculada Conceição.

Os auditores da secretaria de Saúde do estado analisaram 4.349 das 4.432 AIHs de 2011 da Imaculada da Conceição. Constataram que 637 foram para tratamento de pneumonias ou influenza e 334, para liberação de aderências intestinais - doença rara e bem remunerada pelo SUS, de acordo com os auditores, pois cada procedimento custa R$ 829,06. Segundo a auditoria, a realidade das patologias normalmente encontradas em hospitais não refletia a prática da clínica.

Em duas diligências feitas pelo setor de inteligência da delegacia, foram ouvidas 18 pessoas que contaram terem sido atendidas, mas tinham os nomes em vários procedimentos não realizados. É o caso de Natalina, que, de acordo com as cartas do SUS, teria ficado na clínica de 18 de novembro a 22 de novembro e de 26 de novembro a 30 de dezembro de 2011. Cada procedimento custou R$ 699,46 e foi pago pelo governo federal. Há casos ainda de pacientes que pagaram por cirurgias, também cobertas pelo SUS, o que revela pagamentos em duplicidade.

O titular da DelFaz, Ângelo Ribeiro, disse que vai investigar o destino do dinheiro. O Ministério da Saúde informou que aguarda os desdobramentos da auditoria para avaliar o descredenciamento pelo SUS. Ronald Crespo afirmou que as denúncias são falsas, dizendo ser vítima de perseguição política.

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