terça-feira, 25 de setembro de 2012

Apesar do “mensalão”, Lula é cabo eleitoral disputadíssimo


O apoio do ex-presidente Lula foi determinante para eleger Dilma sua sucessora, mas tem se revelado insuficiente para deslanchar as candidaturas petistas e de aliados nestas eleições municipais. Cientistas políticos ouvidos por Carta Maior, porém, não creditam o fenômeno a uma potencial queda na sua popularidade. Apesar da postura ideológica da mídia na cobertura do julgamento do “mensalão” e da tentativa da Veja de envolvê-lo no escândalo, Lula segue como o político mais influente do país e, por consequência, um cabo eleitoral disputadíssimo.

Brasília - Há apenas dois anos, o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi determinante para eleger Dilma Rousseff sua sucessora. Hoje, entretanto, seu capital político tem se revelado insuficiente para deslanchar as candidaturas petistas e dos partidos aliados. Há poucos dias das eleições municipais, o cenário ainda opaco faz com que cientistas políticos ouvidos por Carta Maior divirjam sobre os motivos do fenômeno.

Há quem ressalte o impacto do julgamento do “mensalão” que, há 50 dias, impõe um desgaste continuado à imagem do PT. E quem atribua essa conta à dinâmica própria dos pleitos municipais. O que ninguém questiona é que, apesar da tentativa da revista de maior circulação no país, a Veja, de tentar envolver o ex-presidente com o escândalo em pauta na mais alta corte brasileira, Lula permanece como o político mais influente do país e, consequentemente, um cabo eleitoral disputadíssimo.

“A influência de Lula é positiva, mas não determinante”, avalia o cientista político João Paulo Peixoto, da Universidade de Brasília (UnB). Ele não desdenha a capacidade do ex-presidente de transferir votos para os candidatos que apoia, mas relativiza esses efeitos nas eleições municipais, principalmente com o cenário de desgaste continuado do PT, em função do julgamento do “mensalão”, em curso há 50 dias no Supremo Tribunal Federal (STF).

Para ele, o impacto do julgamento é forte nos grandes centros urbanos, especialmente onde a polarização entre PSDB e PT é acentuada, como em São Paulo, menor nos municípios onde o partido apresenta candidatos muito fracos ou não possui candidaturas próprias, como é o caso do Rio de Janeiro, e bem menos expressivo nas pequenas cidades. “O julgamento já está impactando nas eleições e, se os ministros mantiverem a tendência de condenações, se evidenciará ainda mais, à medida em que os quadros políticos mais expressivos sejam afetados”, comenta.

Cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, Francisco Fonseca também considera que o julgamento do “mensalão” cria um ambiente hostil ao PT nestas eleições. Principalmente, devido à construção midiática do estigma de “maior julgamento da história”. “A mídia é um personagem político ideológico claramente atuante nesse episódio e atua como se isso fosse uma novidade na vida brasileira. Grandes escândalos políticos recentes que abalaram o Brasil, como a Pasta Rosa, o Banestado, o processo de privatização, a emenda de reeleição de Fernando Henrique, todos eles tiveram elementos conclusivos para processos que foram simplesmente desconsiderados”, ressaltou.

Ele minimiza, porém, o impacto da campanha de Veja sobre a capacidade de Lula angariar votos. “A revista não tem credibilidade nenhuma, está envolvida com o Cachoeira, tem capital sul-africano da época do Apartheid, é um panfleto de extrema direita que vive de relações com o governo de São Paulo. É um personagem manjado”, afirma. Fonseca comenta, inclusive, que ele e vários colegas já não dão entrevistas à Veja. “Já me ligaram hoje e eu disse isso: ‘eu não falo com vocês’. Falar o que? O que alguém que quer fazer alguma reflexão séria pode falar com a revista Veja? Ela não tem o que dizer”, comentou.

Para Fonseca, apesar de Lula ainda possuir grande capital político, a transferência de votos não é automática: depende de conjunturas e é bem menos efetiva em eleições municipais -disputadas dois anos após o petista deixar o poder - do que em uma eleição para presidente da República onde ele fez sua sucessora. “Ele pode transferir a sua popularidade para a presidente Dilma, que nunca havia disputado eleição. Mas eleição municipal está eivada de novos elementos, sobretudo locais, além do que, em dois anos, o capital político é reavaliado. O Serra saiu com 45% dos votos quando oponente do Lula (e isso não é pouca coisa), fez o sucessor em São Paulo, mas o capital político dele vem caindo de maneira muito violenta”, explicou.

O professor Fabiano Guilherme Santos, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), corrobora o entendimento que, em eleições municipais, as questões paroquiais são determinantes. “Pesquisas apontam que o ex-presidente Lula simplesmente possui 60% das intenções de voto para a eleição presidencial de 2014. O potencial dele de transferir votos é muito grande, mas a referência fundamental para o eleitor, agora, é a avaliação da gestão de cada prefeitura. Se a gestão é positiva, o candidato terá grandes chances de se reeleger ou eleger um sucessor. Se a avaliação da gestão não é boa, o eleitor procurará o candidato que melhor se identificar como oposição”, explica.

Para ele, os candidatos do PT vão mal onde o partido já administra o município, mas possui avaliação negativa, como é o caso de Recife (PE), ou onde as prefeituras da oposição também são mal avaliadas, mas o partido não consegue apresentar um candidato identificado como a melhor oposição, caso de São Paulo.

Esta última, inclusive, é a única das capitais brasileiras em que ele acredita que o julgamento do “mensalão” poderá causar algum impacto. “O eleitor considera a corrupção um tema importante, mas não o utiliza para diferenciar um partido do outro porque, neste aspecto, considera todos iguais”, esclarece. O professor avalia que São Paulo só é exceção porque o candidato da situação, o tucano José Serra, tem explorado a associação do candidato petista, Fernando Haddad, com o “mensalão” de forma muito agressiva, o que não tem ocorrido nas demais. “Esta estratégia do PSDB de investir em campanha negativa contra o adversário é considerada de alto risco porque tende a aumentar a rejeição do candidato que a utiliza. Por isso, só é usada em último caso, em caso de desespero mesmo”, esclarece.

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