Vale Tudo
Concluída a fase inicial do julgamento do “mensalão”, os nervos das
oposições andam à flor da pele. Com os votos dos ministros do Supremo, o
resultado da luta que enpreendem há anos será em breve conhecido.
Estão, naturalmente, ansiosas. Terá valido a pena colocar tantas fichas
nessa aposta? Será que desperdiçaram a munição? Conseguirão atingir os
adversários com a intensidade desejada?
Pensando bem, não são as oposições inteiras que vivem, por esse motivo,
dias tensos. Parte delas está preocupada com outras coisas.
A absurda coincidência do julgamento com as eleições municipais, que
decorreu da pressão por uma “decisão rápida” (de um processo iniciado há
sete anos e que podia ter sido antecipado ou postergado para que não
atrapalhasse o eleitor na hora de votar), fez com que os partidos e as
liderançaas políticas oposicionistas tivessem, na reta final, menos
tempo para dedicar à questão.
Ao contrário do que prematuramente festejaram alguns comentaristas, o
panorama eleitoral não é tranquilizador para elas. Hoje, nas principais
cidades do País, os líderes de PSDB e DEM têm de suar a camisa para
eleger seus indicados.
Veja-se São Paulo, onde míngua José Serra, ultrapassado por Celso
Russomano e ameaçado de sem sequer ir para o segundo turno. Os tucanos
paulistas têm preoucpações de sobra e disponibilidade de menos para se
empenhar no julgamento.
O mesmo vale em Belo Horizonte, onde a eleição certa do candidato que os
tucanos apoiam tornou-se incerta. O PSDB mineiro não quer – e acha que
não pode – sofrer uma derrota na capital. Sem falar nos projetos de
altíssimo risco em que se envolveram algumas lideranças regionais, mesmo
em estados onde o PSDB já foi grande, como Rio de Janeiro, Ceará e
Pernambuco. Nas três capitais, elas mal terão tempo para respirar até
outubro, se quiserem que o partido tenha um desempenho minimamente
significativo e se qualifique para as próximas eleições para a Câmara
dos Deputados e assembleias.
Com a aoposição partidária tendo de se concentrar em sua própria
sobrevivência, é apenas a armada midiática que briga em Brasília. O
verdadeiro rosto da oposição na batalha do “mensalão” é o da “grande
mídia”.
O terreno em que pisa é sabidamente frágil: sua luta contra o
“lulopetismo”se sustenta na denúncia do procurador-geral da República e
na escassa base de provas que conseguiu juntar. Ou o Supremo revela suas
imperfeições e fantasias ou tudo desmorona.
Se a acusação política mais relevante de nossa história, contra Fernando
Collor, foi rejeitada pelo Supremo por uma falha grave da denúncia (que
não conseguiu indicar qualquer ato de ofício por ele praticado que
configurasse crime), o que dizer desta do mensalão?
Que não é capaz de confirmar que houve pagamentos regulares a quem quer
que seja nem de apontar para que seriam feitos? Que gastou imenso tempo e
dinheiro dos contribuintes para dizer que havia um “esquema” de compra
de “apoio político” no Congresso em troca de “mesadas”a parlamentares e
que não conseguiu demonstrá-lo?
Mas quem não tem cão caça com gato. Antes isso do que nada, devem ter pensado os “antilulopetistas”nas redações.
No fundo, eles têm razão.
Não são muitas as oportunidades disponíveis para os setores da opinião
pública que não querem a permanência no poder da aliança que o PT
comanda desde 2003. As poucas que existem precisam ser aproveitadas, por
menores que sejam.
Somando os acertos de Lula e do PT com os erros das oposições, a duração
do que parecia breve mudou. Os quatro anos iniciais do ex-presidente
viraram 8.
Aí o inesperado: Dilma. Para quem achava que “de quatro anos não passarão”, vieram os 8 e depois os 12.
E agora? Com Dilma fazendo 60% e Lula 70% nas pesquisas para 2014, que
cenário resta para as oposições? Preparar-se para 2018? E se, até lá, um
dos dois se reapresentar? Deslocar sua expectativa para 2022?
Para evitar o que não querem, a oposição na mídia e os setores da
sociedade que ela representa fazem o que podem. Vale tudo: cobertura
tendenciosa, falar de algumas coisas e esconder outras, pesquisas
descutíveis, ressuscitar personagens histriônicos (como Roberto
Jefferson), para ouvir sua “análise”, inventar acusações malucas de
última hora.
A denúncia da Procuradoria-Geral pode ser fraca, mas é a que existe. Adequadamente vitaminada, quem sabe não fica em pé?
A contabilidade foi feita: nas quatro semanas até 13 de agosto, 65 mil
textos foram publicados na imprensa sobre o “mensalão”. No principal
telejornal do maior conglomerado de comunicação do País, para cada 10
segundos de cobertura neutra houve cerca de 1,5 min negativos.
Até agora, o Supremo ouviu. Tomara que, quando falar, mostre que não faz parte desse jogo.
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