O mais rumoroso evento político da semana passada, a publicação pela
revista Veja de uma matéria contendo algumas declarações de Marcos
Valério e muitas ilações a respeito do que ainda teria a dizer sobre o
“mensalão”, deve ser compreendido em função do momento que vivemos.
No front jurídico imediato, não tem significado. Quem entende do
processo que corre no Supremo Tribunal Federal afirma que os votos dos
ministros estão escritos e não mudariam porque um dos réus disse isso ou
aquilo.
Nem se a questão fosse suscitada por um veículo com credibilidade. Não é
o caso dessa revista, que se dedica apenas ao combate ideológico e que
se desobriga, por essa razão, de honrar as regras do jornalismo. Para
ela, vale tudo.
Não cabe especular sobre o que teria motivado Valério a falar – o que
quer que tenha dito. Desinformado é que não está, considerando a
qualidade dos advogados com que conta.
Ele sabe que, a esta altura do processo, lançar suspeitas sobre Lula ou outras pessoas só aprofunda seus problemas.
Estamos entrando na hora decisiva do julgamento, quando a “fatia”
política será avaliada pelos ministros. É agora que a suposição da
Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o pretenso esquema de compra
de votos de parlamentares - que teria existido entre 2004 e 2005, para
aprovar medidas de interesse do governo - começará a ser discutida.
Desde a CPI, essa é a parte mais fantasiosa e frágil das denúncias. Por
mais que alguns deputados oposicionistas tivessem tentado ligar
pagamentos recebidos por partidos e parlamentares a votações
específicas, nenhuma foi identificada com clareza. A completa falta de
sentido do governo pagar integrantes de sua bancada mais fiel para que
votassem assim ou assado apenas ressalta a insipiência da hipótese.
Quanto à PGR, ela não conseguiu avançar um milímetro na demonstração dessa vinculação.
Que benefício teria agora Valério estabelecendo-a, ainda que somente com
base em declarações não substanciadas? Justo quando serão julgados os
políticos acusados? O que ganharia confessando ser parte de uma
quadrilha que cometeu um crime grave? Boicotar o trabalho da defesa?
E a revista? O que ganha publicando a “entrevista” agora?
No tocante ao julgamento, nada. O ambiente de pressão sobre os juízes
está construído e a matéria não aumenta o risco que correm de ser
achincalhados se votarem em desacordo com o que ela deseja.
Isso, eles já entenderam.
Ou seja: para Valério e a revista, dentro da história do julgamento do
“mensalão”, ela é inútil (o que não quer dizer que não possa ter
relevância nas guerras de longo prazo em que estão engajados - ele,
tentando reduzir as provações que o aguardam, ela, na luta contra o
“lulopetismo”).
A matéria tem outra razão de ser.
Quem mora fora de São Paulo não entende a importância que a eleição de
prefeito assume para quem faz política na cidade. Acham que é
fundamental para o Brasil.
Quem não é “serrista” não compreende a dor de ver seu preferido prestes a
sofrer uma derrota humilhante. Se agarrando à tênue hipótese de
derrotar Fernando Haddad e receber o voto petista para enfrentar Celso
Russomano.
Chance remota? Pouca possibilidade? Não importa. O que puderem fazer para que ele ultrapasse Haddad farão.
Não é difícil ver as ligações. José Serra traz o mensalão para sua
propaganda eleitoral, na hora em que falham os velhos argumentos (“o
mais preparado”, “o líder nas pesquisas”, etc.).
Na semana seguinte, a revista faz matéria bombástica, com capa pronta
para a televisão. Que coincidência feliz! Que acaso extraordinário!
Vai dar certo? Pouco provável. Mas é o que têm.
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