Senador e presidenciável do PSDB está atacado; hoje, em Salvador, fez uma frase torta para colar no candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, a alcunha de "idiota"; vinte e quatro horas antes, no Recife, dissera que Lula é "o chefe de uma facção"; o político conciliador de aliança histórica com o PT ficou para trás ou é apenas mais um passo errático do amigo das madrugadas de Copacabana?
"Eu queria agradecer ao candidato Haddad por ter lançado a minha candidatura à Presidência da República, mas eu vou deixar que o meu partido decida no tempo certo. Como eu não acho que ele é um idiota, como parece ser às vezes, certamente ele quis dar uma estocada no presidente Lula, talvez por estar insatisfeito com a incapacidade que o presidente Lula demonstra até o momento em sua campanha", disparou o tucano.
Aécio criticou ainda a atuação do petista no comando do Ministério da Educação e disse que o ex-ministro não tem humildade. "O Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] talvez seja a moldura maior do desastre e da incompetência que foi a sua gestão. Vai ficando claro, até para ele, neófito em política, de que não basta ainda, para ter sucesso na vida pública, apenas ter um padrinho político. É preciso ter humildade e competência. Vou até sugerir a ele, nas férias forçadas que terá a partir do próximo domingo, que ele inicie essas férias lendo a biografia de São Francisco de Assis. Um pouco de humildade, se não fizer bem para a sua carreira política, se não fizer bem a ele como homem público, fará dele uma pessoa melhor no futuro", disse o senador mineiro.
O público tem direito a ficar confuso estes ataques de Aécio. Artífice de uma aliança histórica e duradoura com o PT de Luiz Inácio Lula da Silva, partido ao qual garantiu o cargo de vice-prefeito de Belo Horizonte na chapa de Marcio Lacerda, em 2008, e nome que protegeu pessoalmente, nas Minas Gerais que o reelegeu em primeiro turno, na eleição presidencial de 2006, ele agora se volta contra seus antigos amigos. As duas afirmações fortes parecem demarcar, ao menos neste momento, o campo que Aécio pretende ocupar até as eleições presidenciais de 2014: o de franca oposição ao partido do governo. Minutos depois, no entanto, de atacar Lula em Recife, Aécio procurou afinar o seu rugido, garantindo que, como sempre fez, irá procurar ter uma convivência institucional de alto nível com a legenda da bandeira vermelha com estrela. Dará uma meia volta para atrás também em relação a Haddad?
Em sua ida para a oposição rasgada e retorno rápido para a conciliação costumeira, Aécio deu passos semelhantes aos gravados por um telefone celular um mês atrás, numa calçada do bairro de Copacabana, diante do bar e restaurante Cervantes, quando ele, aparentemente embraigado, foi flagrado numa caminhada trôpega rumo ao balcão para pagamento da conta e doação de uma caixinha de cem reais aos tiradores de chopp. Para lá e para cá, até que chegasse onde queria, não se podia saber exatamente qual rota o ex-governador de Minas escolhera.
Pelo que se vê na pessoa pública e no homem privado, Aécio prosseguirá com seu jeito pendular de fazer política e se comportar em sociedade. Ora será tonitruante, ora será afável. Deverá ser visto elegante em recepções sociais e, na outra ponta, poderá se manter o mesmo jovem cinquentão que já recusou fazer o teste do bafômetro ao seu parado numa blitz no Rio de Janeiro em que brilha como um star. Entre esses dois Aécios, estará sempre o político com um passado que será lembrado pelos adversários, aquele que recebeu R$ 110 mil para sua campanha de governador, em 2002, pelo chamado mensalão mineiro. Para ele, toda vez que quiser vestir o figurino do palanqueiro raivoso, essa, digamos, pequena mancha sempre poderá ser avistada em seu paletó.
O ator e candidato a vereador em São Paulo, Paulo Cesar Pereio, não se conteve e, unindo as situações acima, saiu-se com essa: "Aécio xingou Lula e agora ataca Haddad. O que é isso, porra?! Crise de abstinência?". A frase foi publicada por Pereio em seu Twitter (@Pereio1).
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