Enviado por luisnassif
Do Diário do Centro do Mundo
Lula deveria ter respondido?
Paulo Nogueira
Achei que era óbvio, mas pelo visto não era.
Lula não poderia ter respondido a Marcos Valério. Não em circunstâncias normais, e muito menos quando o próprio Marcos Valério nega que tenha dito o que dizem que ele disse.
Lula teria sido muito bobo se chancelasse o jogo do “disse-que-teria-dito”, e isso ele não é.
Qualquer pessoa razoavelmente inteligente, ou que não sendo tenha um advogado por perto, não responderia. O que quer que Lula dissesse apenas daria mais balas a quem deseja fuzilá-lo.
O debate em torno de Lula ultrapassou, já há muito tempo, os limites da racionalidade. Instalou-se, na grande imprensa, um vale-tudo em que o bom jornalismo não quer simplesmente dizer mais nada. Basta ver a prova técnica, passada no Jornal Nacional, segundo a qual Serra teria sido mesmo vítima no célebre Atentado da Bolinha de Papel, ou a informação — “não confirmada e nem desmentida”, e ainda assim publicada — de que Lula teria uma fortuna secreta no exterior.
Uma suposta denúncia de um conhecido vigarista ganha instantaneamente status de verdade absoluta e indiscutível para quem é contra Lula. Uma palavra que qualquer jornalista mediano colocaria sob suspeição, dada a fonte despida de qualquer credibilidade, acaba – por obtusidade cínica ou má fé córnea, para usar a grande expressão de Eça de Queiroz – se transformando no equivalente a um verso do Corão para um muçulmano praticante.
Tenho para mim que Lula faz bem, de resto, em não tornar ainda mais tenso o ambiente político brasileiro. (Se é verdade que Rui Falcão anda criticando pesadamente a mídia, alguém deveria serená-lo.)
Em dois países vizinhos, existe um quadro parecido. Governos de esquerda são massacrados, na Venezuela e no Equador, pela mídia estabelecida. Não importa que Rafael Correa, do Equador, tenha vencido duas eleições: um comentarista auto-exilado em Miami o chamada de “Grande Ditador”. Nos dois casos, os presidentes têm reagido com fragor. Chávez, na Venezuela, é xingado e xinga, bem como Correa.
No Brasil, se a mídia age à maneira da imprensa venezuelana e equatoriana, a diferença está na atitude primeiro de Lula e agora de Dilma. Eles não estão reagindo aos ataques, e isso é bom para o Brasil e os brasileiros. De outra forma, a sociedade viveria sob uma uma atmosfera irrespirável.
Sequer na sombra surgem retaliações. Leio que a verba publicitária em 2011 do governo para a Globo – que astutamente, aspas, finge objetividade enquanto só dá voz e colunas a quem é visceralmente anti-Lula – foi de 50 milhões de reais, um dinheiro usado para pagar aloprados em profusão e para fazer novelas que emburrecem o brasileiro. Para a Carta Capital, sempre atacada por ser chapa branca, restou um fragmento: 100 mil reais. E reconheçamos: descontados os ataques pessoais e frequentemente descabidos a seu ex-patrão Roberto Civita, Mino Carta é quem tem escrito os textos que melhor retratam o Brasil moderno. A Carta Capital se elevou na depressão que envolveu mídia brasileira.
Não seria bom para ninguém se Lula ou Dilma agissem como Chávez ou Correa. Os que querem se livrar de Lula a todo preço deveriam respirar fundo e lembrar que ele tem um apoio extraordinário entre os brasileiros. Collor foi chutado sem reação, por não ter base nenhuma, mas se o mesmo acontecesse a Lula o cenário seria diferente.
Me parece às vezes que é aquele caso do garoto que vai provocando um outro, e mais, e mais, porque não encontra reação. Toma a prudência por medo, e excede na insolência até que um dia as coisas realmente se complicam. Gostaria de ver tanto destemor , aspas, se vivêssemos sob uma ditadura. Basta ver o comportamento da Globo de Roberto Marinho sob os militares para saber onde vai parar tamanho ardor. Saem os Jabores e entram os Amarais Netos, ao sabor das circunstâncias.
Quem quer ver Lula e o PT fora do poder – um direito legítimo de qualquer cidadão — tem que trabalhar duro: conquistar a simpatia da maioria dos brasileiros, mas não com truques baixos porque a voz rouca das ruas não é idiota, e ganhar nas urnas.
Democraticamente.
Lula deveria ter respondido?
Paulo Nogueira
Achei que era óbvio, mas pelo visto não era.
Lula não poderia ter respondido a Marcos Valério. Não em circunstâncias normais, e muito menos quando o próprio Marcos Valério nega que tenha dito o que dizem que ele disse.
Lula teria sido muito bobo se chancelasse o jogo do “disse-que-teria-dito”, e isso ele não é.
Qualquer pessoa razoavelmente inteligente, ou que não sendo tenha um advogado por perto, não responderia. O que quer que Lula dissesse apenas daria mais balas a quem deseja fuzilá-lo.
O debate em torno de Lula ultrapassou, já há muito tempo, os limites da racionalidade. Instalou-se, na grande imprensa, um vale-tudo em que o bom jornalismo não quer simplesmente dizer mais nada. Basta ver a prova técnica, passada no Jornal Nacional, segundo a qual Serra teria sido mesmo vítima no célebre Atentado da Bolinha de Papel, ou a informação — “não confirmada e nem desmentida”, e ainda assim publicada — de que Lula teria uma fortuna secreta no exterior.
Uma suposta denúncia de um conhecido vigarista ganha instantaneamente status de verdade absoluta e indiscutível para quem é contra Lula. Uma palavra que qualquer jornalista mediano colocaria sob suspeição, dada a fonte despida de qualquer credibilidade, acaba – por obtusidade cínica ou má fé córnea, para usar a grande expressão de Eça de Queiroz – se transformando no equivalente a um verso do Corão para um muçulmano praticante.
Tenho para mim que Lula faz bem, de resto, em não tornar ainda mais tenso o ambiente político brasileiro. (Se é verdade que Rui Falcão anda criticando pesadamente a mídia, alguém deveria serená-lo.)
Em dois países vizinhos, existe um quadro parecido. Governos de esquerda são massacrados, na Venezuela e no Equador, pela mídia estabelecida. Não importa que Rafael Correa, do Equador, tenha vencido duas eleições: um comentarista auto-exilado em Miami o chamada de “Grande Ditador”. Nos dois casos, os presidentes têm reagido com fragor. Chávez, na Venezuela, é xingado e xinga, bem como Correa.
No Brasil, se a mídia age à maneira da imprensa venezuelana e equatoriana, a diferença está na atitude primeiro de Lula e agora de Dilma. Eles não estão reagindo aos ataques, e isso é bom para o Brasil e os brasileiros. De outra forma, a sociedade viveria sob uma uma atmosfera irrespirável.
Sequer na sombra surgem retaliações. Leio que a verba publicitária em 2011 do governo para a Globo – que astutamente, aspas, finge objetividade enquanto só dá voz e colunas a quem é visceralmente anti-Lula – foi de 50 milhões de reais, um dinheiro usado para pagar aloprados em profusão e para fazer novelas que emburrecem o brasileiro. Para a Carta Capital, sempre atacada por ser chapa branca, restou um fragmento: 100 mil reais. E reconheçamos: descontados os ataques pessoais e frequentemente descabidos a seu ex-patrão Roberto Civita, Mino Carta é quem tem escrito os textos que melhor retratam o Brasil moderno. A Carta Capital se elevou na depressão que envolveu mídia brasileira.
Não seria bom para ninguém se Lula ou Dilma agissem como Chávez ou Correa. Os que querem se livrar de Lula a todo preço deveriam respirar fundo e lembrar que ele tem um apoio extraordinário entre os brasileiros. Collor foi chutado sem reação, por não ter base nenhuma, mas se o mesmo acontecesse a Lula o cenário seria diferente.
Me parece às vezes que é aquele caso do garoto que vai provocando um outro, e mais, e mais, porque não encontra reação. Toma a prudência por medo, e excede na insolência até que um dia as coisas realmente se complicam. Gostaria de ver tanto destemor , aspas, se vivêssemos sob uma ditadura. Basta ver o comportamento da Globo de Roberto Marinho sob os militares para saber onde vai parar tamanho ardor. Saem os Jabores e entram os Amarais Netos, ao sabor das circunstâncias.
Quem quer ver Lula e o PT fora do poder – um direito legítimo de qualquer cidadão — tem que trabalhar duro: conquistar a simpatia da maioria dos brasileiros, mas não com truques baixos porque a voz rouca das ruas não é idiota, e ganhar nas urnas.
Democraticamente.
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