Segundo Suzana Singer, jornal
colocou palavras na boca do candidato do PT, ao usar a palavra
“degradante” num texto que o associava a José Dirceu
247 – “Haddad diz que associá-lo a
José Dirceu é degradante”. Esta foi a manchete da Folha de S. Paulo da
última quarta-feira que, segundo a ombudsman do jornal, estava
“turbinada”. Segundo ela, não seria necessário colocar palavras na boca
do candidato para noticiar o caso. Leia:
Manchete turbinada
Título da Folha coloca palavras na boca do candidato petista e ofusca mérito da reportagem
Num momento de ânimos muito acirrados, a manchete da Folhade quarta-feira passada teve o efeito de uma bomba. No impresso: "Haddad diz que associá-lo a José Dirceu é degradante". No site: "Haddad diz que é degradante ser ligado a Dirceu e Delúbio".
Quem lesse só os títulos concluiria, como disse um leitor, que o candidato petista, num momento confessional, admitiu algo que estava entalado na garganta.
Não era isso. A campanha de Fernando Haddad tinha tentado proibir na Justiça Eleitoral uma propaganda de José Serra que afirmava que votar no adversário implica trazer de volta José Dirceu, Delúbio Soares e Paulo Maluf.
"Sabe o que acontece quando você vota no PT? Você vota, ele volta. Fique esperto. É o velho PT, agora em nova embalagem", dizia a inserção dos tucanos.
Os advogados da campanha petista argumentaram que o anúncio era "degradante porque promove uma indevida associação entre Fernando Haddad e pessoas envolvidas em processos criminais e ações de improbidade administrativa". A ligação seria "indevida", porque Haddad não é réu no mensalão nem responde a acusações de corrupção.
A frase que virou manchete foi pinçada da medida judicial e editada como se fosse uma declaração do ex-ministro da Educação ("Haddad diz que..."). Um título correto poderia ser "Haddad tenta barrar comercial que o associa a Dirceu".
A diferença não é sutil. "Fui juiz eleitoral e percebi logo que a manchete foi tirada de um processo. Nenhum político diria que a relação com um aliado é degradante. É uma linguagem do direito eleitoral, já que a própria lei usa o termo degradante para caracterizar um tipo de propaganda que é vedada", explica Flávio Luiz Yarshell, 49, professor titular de direito processual da USP.
Ele compara a situação à de Luiza Erundina, que desistiu de ser vice do PT depois que se anunciou a aliança com Maluf. "Ela afirmou categoricamente que estava desconfortável com a situação. Haddad não disse isso e não cabe ao jornal fazer esse tipo de presunção", diz.
A Secretaria de Redação não concorda que a manchete tenha sido "turbinada". "As argumentações dos advogados de Haddad na Justiça equivalem à manifestação do próprio candidato. Ele é o responsável e o principal interessado em qualquer intervenção de sua campanha. O mesmo raciocínio vale para outras atividades, como a arrecadação de recursos", afirma.
O efeito de um título apimentado pode ser devastador, principalmente na internet, onde se lê muito o que está em letras grandes e pouco o que vem logo abaixo. A reportagem ficou entre as mais lidas na quarta-feira e foi a que recebeu mais comentários no dia (1.042).
A mão pesada da edição ofuscou o mérito da reportagem. AFolha percebeu que a medida judicial contra a propaganda tucana explicita a contradição que existe no esforço do PT de se desligar de parte do próprio PT -e de Paulo Maluf, cujo apoio foi celebrado em encontro no jardim da casa do ex-prefeito.
Sem colocar palavras na boca do candidato, o jornal conseguiria atingir o mesmo objetivo. A duas semanas do primeiro turno, é hora de ajudar o eleitor a decidir, não de apostar na confusão.
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