Essa festa não era para nós
Em
1984, durante a campanha das Diretas já, estava no Ginásio do SESC em Belém e
diante da empolgação de alguns setores estudantis, que falavam em colocar um
milhão de pessoas nas ruas, ouvi da boca de Tancredo Neves: calma gente, o
povo só vai com a gente até um determinado
ponto.
Depois da Ditadura Civil/Militar, quando a elite
brasileira teve que colocar o serviço sujo nas mãos dos militares, era preciso
voltar ao antigo esquema, refazer o pacto por cima.
Toda
aquela conversa mole de Diretas Já, volta da democracia, já estava bem costurada
e com os seus limites bem demarcados.
A
festa não era para nós. Não era para o PT, a CUT, o MST e outros penetras.
Definitivamente, não era para LULA ser presidente, para o PT ser
governo.
Tudo
o que estamos vivendo hoje, é a indigestão para as elites desse prato que
desandou. A raiva que eles têm do PT, do LULA, do Zé Dirceu, do MST, da CUT, dos
sindicatos... É a raiva da derrota, é a vontade de
vingança.
O que
todos nós precisamos compreender é que nada está ganho, nada está resolvido. A
Guerra nunca acabou. Vencemos muitas batalhas, batalhas importantes, mas a
Guerra continua. O mundo do dinheiro, da grana fácil, está cercado no mundo
inteiro. Milhões de pessoas em todos os países começam a entender que a miséria
não é um dado da natureza.
Não é
um dado que determina quem vai ficar no lado dos 1% que têm tudo e quem vai
ficar do lado dos 99% que vivem na precariedade cada dia mais
humilhante.
O PT,
a CUT, o MST, têm sido bons navios de guerra, mas as seguidas batalhas que
vencemos colocaram o Brasil e o seu povo num outro patamar histórico. É esse o
dilema que vivemos, será que nossa armada está atualizada para as novas
batalhas?
O
poder econômico e material das elites é infinitamente maior que o nosso,
felizmente somos muitos e temos alguns grandes companheiros do nosso lado. Temos
também a criatividade e a inteligência que sempre fazem a diferença nas lutas
dos pobres. LULA é o melhor exemplo.
Mas
agora o avanço está exigindo novos tipos de armamento, novas estratégias,
alianças mais dinâmicas e firmes. As moléculas precisam de mais calor entre
elas, mais agitação e entrosamento. O caldo tem que ferver, mas não pode
entornar pra cima da gente.
O
nosso governo, o PT, a CUT, o MST, Sindicatos, movimentos sociais, redes
sociais, militantes, listeiros, blogueiros...
Precisam compreender a necessidade de novas e mais firmes alianças,
precisam articular e conversar mais. A Luta é de todos.
Que
nenhum desses agentes imagine ou se iluda que pode ganhar essa guerra fazendo
tréguas ou concessões para as elites. Nós só temos uma alternativa: é continuar
avançando.
A
responsabilidade do PT e do nosso governo é enorme nesse processo. A máquina
eleitoral do PT é importante e necessária, mas o partido não pode achar que isso
é tudo. O PT não pode esquecer de onde veio, o PT e o governo não podem
continuar fingindo que a questão da comunicação é um problema jornalístico e/ou
dos jornalistas.
Todos
os nossos navios precisam ter uma fala clara e orgânica para o povo. Precisamos
urgente de um aparato de comunicação que comunique nos dois sentidos e seja
capilar. Precisamos de rádios, jornais de bairros, jornais de ônibus, TV pública
e de bairros, internet com banda larga e barata, escolas e pontos de cultura
interligados, jornais nas feiras, uma grande agencia de noticias de esquerda
produzindo a nossa agenda e o nosso conteúdo.
Mão
na massa gente, o resto é chororô.
Adauto Melo
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