Mantega: prioridade é investimento, não reajuste a servidor
Brasil 247.com
Foto: Elza fiúza/ABr
Em entrevista ao jornalista Vicente Nunes, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fala sobre o baixo dinamismo da economia e a greve do funcionalismo público e diz que o quadro atual não permite grandes aumentos
O baixo crescimento
O Brasil não parou, apenas desacelerou, em função, principalmente, do agravamento da crise internacional, que teve consequências nos mercados mundiais, que encolheram. Os países asiáticos em geral são essencialmente exportadores e não têm mercado interno capaz de absorver a própria produção, elevando o seu interesse em exportar para os mais diversos mercados do mundo. Em 2011 e neste ano, assistimos a um avanço extraordinário das importações. É natural que houvesse esse grande interesse pelo Brasil.
A invasão dos importados
Exato. O país se tornou, no período, o terceiro maior comprador de automóveis, superando a Alemanha e ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Eu olhava esse avanço nos gráficos do comércio de carros, com a participação dos importados saindo de 10% para 15% e, depois, para 20%, até o ponto de nos levar a tomar a medida de elevação do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), para dar uma segurada.
A defesa da indústria
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) reduziu suas taxas de crédito para a compra de máquinas e equipamentos. Todas as linhas tiveram redução, a partir da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo). Barateamos muito o custo total do investimento. Com isso, para construir uma hidrelétrica, por exemplo, o custo é de 5,5% da TJLP mais 0,5% anual, com prazos e carências variáveis, de um a três anos.
Estímulo ao consumo ou ao investimento?
É um equívoco dizer que o governo não tem priorizado o investimento. Nos últimos anos, fizemos uma série de desonerações tributárias que baratearam fortemente o custo de se investir no Brasil. O resultado disso foi que a taxa de investimento cresceu significativamente, passando da casa de 16% para quase 20% do PIB (Produto Interno Bruto). Enquanto isso, a participação do consumo no PIB perdeu um pouco de espaço, embora permaneça acima de 60%.
Novas concessões
Nesta semana, o governo vai lançar a primeira fase de um grande programa de expansão dos investimentos em infraestrutura, que se somará aos investimentos em petróleo e gás, que estão entre os maiores do mundo, aos da indústria automotiva, entre outros. Só a Petrobras investirá mais de R$ 80 bilhões e a Vale, cerca de R$ 40 bilhões.
Aumento dos servidores
É preciso que todos entendam que há limitações orçamentárias e a prioridade do governo neste momento é incentivar os investimentos produtivos. Mas isso não quer dizer que não daremos aumentos. Foi feita uma proposta (de correção de até 45%) aos professores de universidades federais, pois a educação é considerada prioritária pela presidente Dilma. Vamos olhar outras carreiras. Mas é importante deixar claro que, na média, o funcionalismo tem salários muito maiores do que os pagos na iniciativa privada.
Estilo de negociação do governo Dilma
Não vejo grandes diferenças. É preciso olhar para trás e ver o que ocorreu. Em 2003, como ministro do Planejamento do recém-empossado governo Lula, tive que fazer um grande ajuste fiscal. Promovemos um corte expressivo nos gastos, entre R$ 30 bilhões e R$ 40 bilhões. Com isso, conseguimos dar reajuste de apenas R$ 60 para cada um dos servidores, o que provocou grande gritaria. Em 2004, também o aumento para ao funcionalismo foi pequeno. De 2006 para cá, com a economia crescendo mais, assim como a arrecadação, foi possível conciliar três coisas: dar bons reajustes aos servidores, ampliar os investimentos e fazer um sólido ajuste fiscal, que derrubou a dívida pública. Esse é o modelo ideal. Agora, não vivemos o mesmo quadro. Portanto, temos de definir prioridades.
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