Ricos brasileiros têm quarta maior fortuna do mundo em paraísos fiscais
Rodrigo Pinto Da BBC Brasil em Londres
Os super-ricos brasileiros detêm o equivalente a um terço do Produto
Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas do país em um ano,
em contas em paraísos fiscais, livres de tributação. Trata-se da quarta
maior quantia do mundo depositada nesta modalidade de conta bancária.
A informação foi revelada este este domingo por um estudo inédito, que
pela primeira vez chegou a valores depositados nas chamadas contas offshore, sobre as quais as autoridades tributárias dos países não têm como cobrar impostos.
O documento The Price of Offshore Revisited, escrito por James Henry, ex-economista-chefe da consultoria McKinsey, e encomendado pela Tax Justice Network, mostra que os super-ricos brasileiros somaram até 2010 cerca de US$ 520 bilhões (ou mais de R$ 1 trilhão) em paraísos fiscais.
O estudo cruzou dados do Banco de Compensações Internacionais, do Fundo
Monetário Internacional, do Banco Mundial e de governos nacionais para
chegar a valores considerados pelo autor.
Em 2010, o Produto Interno Bruto Brasileiro somou cerca de R$ 3,6 trilhões.
'Enorme buraco negro'
O relatório destaca o impacto sobre as economias dos 139 países mais
desenvolvidos da movimentação de dinheiro enviado a paraísos fiscais.
Henry estima que desde os anos 1970 até 2010, os cidadãos mais ricos
desses 139 países aumentaram de US$ $ 7,3 trilhões para US$ 9,3 trilhões
a "riqueza offshore não registrada" para fins de tributação.
A riqueza privada offshore representa "um enorme buraco negro na economia mundial", disse o autor do estudo.
Na América Latina, chama a atenção o fato de, além do Brasil, países
como México, Argentina e Venezuela aparecerem entre os 20 que mais
enviaram recusos a paraísos fiscais.
John Christensen, diretor da Tax Justice Network, organização que
combate os paraísos fiscais e que encomendou o estudo, afirmou à BBC
Brasil que países exportadores de riquezas minerais seguem um padrão.
Segundo ele, elites locais vêm sendo abordadas há décadas por bancos,
principalmente norte-americanos, pára enviarem seus recursos ao
exterior.
"Instituições como Bank of America, Goldman Sachs, JP Morgan e Citibank
vêm oferecendo este serviço. Como o governo americano não compartilha
informações tributárias, fica muito difícil para estes países chegar aos
donos destas contas e taxar os recuros", afirma.
"Isso aumentou muito nos anos 70, durante as ditaduras", observa.
Segundo o diretor da Tax Justice Network, além dos acionistas de
empresas dos setores exportadores de minerais (mineração e petróleo), os
segmentos farmacêutico, de comunicações e de transportes estão entre os
que mais remetem recursos para paraísos fiscais.
"As elites fazem muito barulho sobre os impostos cobrados delas, mas não
gostam de pagar impostos", afirma Christensen. "No caso do Brasil,
quando vejo os ricos brasileiros reclamando de impostos, só posso crer
que estejam blefando. Porque eles remetem dinheiro para paraísos fiscais
há muito tempo".
Chistensen afirma que no caso de México, Venezuela e Argentina, tratados
bilaterais como o Nafta (tratado de livre comércio EUA-México) e a ação
dos bancos americanos fizeram os valores escondidos no exterior subirem
vertiginosamente desde os anos 70, embora "este seja um fenômeno de
mais de meio século".
O diretor da Tax Justice Network destaca ainda que há enormes recursos de países africanos em contas offshore.
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