Gurgel não é um santo intocável
Por Altamiro Borges
Roberto Gurgel, procurador-geral da República, virou o novo
santo intocável das elites. Diante da possibilidade dele ser convocado para
depor na CPI do Cachoeira, devido a sua omissão na apuração dos crimes do
mafioso, tenta-se formar uma blindagem para protegê-lo. Líderes do PSDB e do
DEM, ministros do Supremo Tribunal Federal e a mídia demotucana unem-se em sua
defesa.
Gilmar Mendes, o mesmo que deveria ser excluído de vários
julgamentos do STF em função de suas atitudes suspeitas, é um dos que encabeça
essa operação-abafa. Para ele, a tentativa de ouvir Gurgel partiria dos
envolvidos no chamado mensalão do PT, dos “pescadores de águas turvas”, que
querem “inibir ações dos órgãos que estão funcionando normalmente”.
“Funcionando normalmente”? É normal que o procurador-geral não
tenha aberto as investigações contra o senador Demóstenes Torres – o líder da
direita moralista paparicado por Gilmar Mendes – apesar das provas que lhe
foram entregues sobre os vínculos do ex-demo com o mafioso Carlinhos Cachoeira
em setembro de 2009? Bela tese do ministro Gilmar Dantas (desculpe, Mendes)!
Mídia morre de medo
No mesmo esforço de blindagem, a velha mídia se uniu, “numa
só voz”, rejeitando a convocação do procurador-geral. O primeiro a manifestar
total solidariedade foi o Estadão: “É de todo verossímil o argumento de Roberto
Gurgel, segundo o qual ‘pessoas que estão morrendo de medo do processo do
mensalão’ estão por trás das tentativas de convocá-lo a depor na CPI do
Cachoeira”.
Hoje foi a vez da Folha e O Globo. Para a famiglia Frias, o
procurador-geral “ganhou a hostilidade do lulo-petismo por ter pedido a
condenação de mensaleiros”. Já para a famiglia Marinho, “as manobras de facções
radicais do PT, ligadas aos mensaleiros”, visam “constranger Roberto Gurgel”. A
mesma mídia que endeusou Demóstenes Torres, agora glorifica outra figura
suspeita.
Os amigos tucanos
Diante de tamanho apoio, o “pacato” Roberto Gurgel, que até
parece sósia do humorista Jô Soares, resolveu dar uma de valente. Ao invés de
explicar a sua total omissão no escândalo de Carlinhos Cachoeira, ele partiu
para o ataque. Portou-se como novo líder da oposição demotucana, com duros
ataques aos “mensaleiros do PT”. Tentou se travestir de vítima de perseguição
política.
No fundo, a valentia demonstra medo. De imediato, ele
procurou seus amigos do PSDB para pedir proteção. Na semana passada, segundo a
própria Folha, “Gurgel recebeu em seu gabinete os senadores Aloysio Nunes
Ferreira e Álvaro Dias, durante cerca de uma hora. À tarde, já no Senado, numa
demonstração de que o apelo surtiu efeito, Álvaro Dias combateu a pressão pela
presença de Gurgel na comissão, defendendo que isso poderia prejudicar as
funções do procurador”.
Ninguém está acima da lei
Na sequência, ele garantiu que não irá depor na CPI, mesmo
que seja convocado. Para isso, ele pretende se refugiar no STF. Mas, como
afirma Joaquim Falcão, professor de direito constitucional, “legalmente a CPI
pode convocá-lo. Nem mesmo o presidente da República escapa de prestar
informações, mesmo por escrito. É uma faculdade do Congresso dentro da
separação dos poderes”.
Se juridicamente a blindagem não se sustenta, do ponto de
vista político ela é grotesca. Como afirma o presidente nacional do PT, Rui
Falcão, “nenhuma pessoa deve estar acima da lei no Brasil”. Para ele, o
procurador-geral deve explicações à sociedade. “Se soubéssemos antes das
eleições de 2010 [das articulações criminosas de Demóstenes Torres], talvez ele
não fosse hoje senador".
Nenhum comentário:
Postar um comentário