Reporter ouve o desmentido e Pede Perdão Pelo Furo
Enviado por luisnassif, sab, 26/05/2012 - 17:29
Um belo repórter que consegue um furo - Nelson Jobim desmentindo com detalhes a versão de Veja. Mas que se sente obrigado a pedir desculpas por fazer jornalismo e a questionar o que acabou de ouvir valendo-se do teste da "voz estranha".
Meu Deus, onde jogaram o jornalismo desse país, que precisa se desculpar quando trabalha corretamente?
Da Rádio do Moreno
VAZAMENTO
Um fato e duas versões: Gilmar e Jobim
Um
fato e duas versões. Em "furo" de reportagem, a Revista Veja revela um
encontro de Lula com Gilmar Mendes no escritório de Nelson Jobim em
Brasília. A conversa foi tenebrosa, pelo que se lê na revista. Indignado
com o assédio, Gilmar Mendes, num gesto de coragem, confirmou tudo à
revista.
Pois
bem, acabo de falar com o anfitrião do encontro, Nelson Jobim, que está
neste momento passeando por uma feira em Itaipava, em companhia da
mulher Adrienne e de amigos do casal. Jobim confirma o encontro, mas
nega seu conteúdo. Eis o resumo do seu relato à Radio do Moreno;
Conteúdo
da conversa: ---- Não houve nada disso do que a Veja, segundo me
informaram, está publicando. Estou aqui em Itaipava e soube desse
conteúdo através de um repórter do Estadão, que me procurou há pouco.
Portanto, estou falando sem ter lido a revista. Mas, posso assegurar
que, se o conteúdo for mesmo esse, o de que Lula teria pedido a Gilmar
para votar no mensalão, não é verdade. Quem tocou no assunto mensalão
fui eu, no meio da conversa, fazendo a seguinte pergunta: " Vem cá, essa
coisa do mensalão vai ser votada quando?". No mais, a conversa girou
sobre assuntos diversos da atualidade."
Razão
do encontro: ' ---- Desde que deixei o ministério, o presidente Lula
tem me prometido uma visita. Três dias antes, a assessora Clara Ant me
ligou dizendo que o presidente Lula iria a Brasília conversar com a
presidente Dilma numa quarta-feira e que retornaria no dia seguinte, mas
antes queria falar comigo. De pronto, respondi que o encontro poderia
ser na minha casa, no meu escritório ou em qualquer outro lugar que o
presidente quisesse. Lula optou pelo meu escritório, não só porque tinha
prometido conhecê-lo, mas, também, porque fica perto do aeroporto. E
assim ocorreu."
Presença
do Gilmar --- O Gilmar e eu estamos envolvidos num projeto sobre a
Constituição de 88 e temos nos reunidos sistematicamente para tratar do
assunto. Por coincidência, o Gilmar estava no meu escritório, quando o
presidente Lula apareceu para a visita. Conversaram cerca de uma hora,
mas só amenidades. Em nenhum momento, Lula e Gilmar conversaram na
cozinha. Aliás, Lula não esteve na cozinha do escritório.
Repercussões
do fato --- Agora, não posso controlar as versões, especulações, que a
mídia e as pessoas fazem desse encontro. Faz parte do jogo. O que eu
posso dizer é que não houve nada disso.
Diante
do relato de Jobim, eu, como repórter crédulo, diante de fonte tão
idônea, poderia me dar por satisfeito e fazer um texto jornalisticamente
convencional, tipo " Jobim nega pressão de Lula" ou, como nós furados
gostamos de fazer, com muita satisfação: " Jobim DESMENTE a Veja".
Mas,
durante a conversa, eu notei a voz estranha do Jobim. Ele estava
cumprindo um rito, um protocolo, um dever de anfitrião de evitar mais
constrangimento a si e a outros atores do espetáculo. Os bons
repórteres, como os meninos da Veja, Cabral á frente, são uma espécie de
Eike Batista às avessas: "Vazou, furou". Com a notícia na rua, o
encontro secreto de Jobim, que tinha um proposito, pode ter outro, o de
tentativa de coação de juíz ou coisa que valha. Seria coerção? sei lá.
Nelson
Jobim, meu velho amigo de guerra, não ia me deixar na mão. Repito, como
anfitrião, não poderia confirmar o escândalo. Mas me deu uma pista
através de um controvertido depoimento. Inicialmente, me disse que a
presença de Gilmar foi mera coincidência, do tipo " ah, eu estava
passando por aqui...". Só que o próprio Jobim deixou escapar que o
encontro fora marcado com três dias de antecedência. Logo, Gilmar sabia
que naquele horário daquela quinta-feira, Jobim estaria recebendo Lula.
Então, não foi surpresa nem coincidência coisa nenhuma.
E
deixo pra botar no pé, o fim do mistério. Amiga minha, de Diamantino
(MT), terra de Gilmar Mendes, a meu pedido, localiza Gilmar. E se atreve
a perguntar se era tudo verdade:
---- Claro que é! Eu mesmo confirmei tudo à revista.
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