Mentira de Veja sobre “robôs” do Twitter pode gerar ação judicial
A edição da Veja desta semana traz matéria que constitui uma das mais grosseiras tentativas de manipulação do público entre tantas outras que a revista vem praticando ao longo dos anos.
Sob chamada de capa que cita “Táticas de guerrilha para
manipular as redes sociais”, a matéria acusa o PT de fraudar a rede
social Twitter através do uso de “robôs” que enviariam mensagens contra
Veja.
A matéria, ao ser publicada na capa, mostra que Veja acusou o golpe
do fim de semana retrasado, quando internautas promoveram no Twitter o
que se convencionou chamar de “tuitaço”, ou seja, milhares de
internautas enviando mensagens contendo uma expressão qualquer precedida
do símbolo cerquilha (#), expressões que, naquela rede social, são
chamadas de hashtags. Naquele caso, a hashtag foi #VejaVaiPraCPI.
O Twitter é uma rede social em que políticos e demais celebridades
travam campeonatos de número de “seguidores”. Há pessoas públicas que
chegam a ter milhões de seguidores. Por conta disso, foi criado um
ranking dos assuntos mais comentados naquela rede social sob alguma
hashtag, o Trending Topics, sendo comum ver na mídia comentários sobre
que assunto ganhou destaque.
O Twitter é uma rede social de grande influência e, por isso,
celebridades e políticos se dispõem até a responder a cidadãos comuns
quando abordados. Recentemente, durante o episódio envolvendo o filho do
empresário Eike Batista, que atropelou e matou um ciclista, o magnata e
o rapaz passaram a responder a qualquer um que os questionasse.
Desde que surgiram as suspeitas contra a Veja devido ao envolvimento
do editor da revista Policarpo Júnior com a quadrilha do bicheiro
Carlinhos Cachoeira, a publicação foi parar no primeiro lugar dos
Trending Topics várias vezes por meio de hashtags como #VejaBandida,
#VejaVaiPraCPI e, no último sábado, #VejaTemMedo.
Nesta semana, a revista publica matéria sobre o assunto, com chamada
de capa, por conta do que lhe representa de pernicioso aparecer nessa
situação em uma rede social acessada por centenas de milhões de pessoas
no mundo inteiro. E, como de costume, não hesitou em inventar uma
história para tentar negar que muita gente a esteja questionando.
Abaixo, trecho da matéria “As táticas de guerrilha para manipular as redes sociais”
—–
A internet aceita tudo. Chantagistas contrariados fazem circular
fotos de atrizes nuas (vide o caso Carolina Dieckmann), revelam
características físicas definidoras (”minimocartaalturareal1m59cm”),
apelidam sites com artigos do Código Penal (”171″, estelionato) e
referenciam-se em doenças venéreas – por exemplo, na sífilis (grave
doença infecciosa causada pela bactéria Treponema pallidum) – para
formar sufixos de nomes.
É lamentável sob todos os aspectos que uma inovação tecnológica
produzida pelo engenho, pela liberdade criativa e pela arte, combinação
virtuosa só possível sob o sistema democrático capitalista, baseado na
inovação, na economia de mercado e na livre-iniciativa, tenha nichos
dominados por vadios, verdadeiros limbos digitais onde vale tudo – da
ofensa pura e simples a tentativas de fraudar a boa-fé dos usuários.
(…)
A rede mundial é descentralizada, não possui um comando único nem um
mecanismo de regulação. Falta-lhe uma cabeça como, talvez, a do atual
presidente do PT, Rui Falcão, alguém com estatura moral, motivações
nobres, enfim, mão forte para fazer baixar, em nível planetário, um
pouco de ordem e respeito sobre esse reino virtual tão vulnerável.
(…)
Assim como a engenharia genética pode modificar aquilo que surgiu
espontaneamente na natureza, a computação pode alterar o destino de uma
ideia lançada na rede. Nesse caso, o produto é invariavelmente um
monstro, porque esse processo não apenas viola regras explícitas de uso
das comunidades virtuais, mas também corrompe os princípios da livre
troca de informações e opiniões na internet. É virtualmente impossível
saber quem programou um robô malicioso – e isso envenena ainda mais as
águas e mina as bases da comunicação de boa-fé na rede. Mas é possível
flagrar o seu uso.
A situação se torna preocupante quando os robôs que fraudam um
serviço como o Twitter são postos a serviço da propaganda ideológica. E
piora ainda mais, ganhando os contornos da manipulação política, quando
eles trabalham para divulgar teses caras ao partido que ocupa o poder.
Isso, infelizmente, começa a acontecer no Brasil. Nas últimas semanas, o
vazamento de informações da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, e
a subsequente instauração de uma CPI para investigar o contraventor
Carlinhos Cachoeira puseram sangue nos olhos de certa militância
petista.
(…)
A artilharia de esquerda se voltou contra outro alvo de longa data: a
imprensa independente, e VEJA em particular. Uma das estratégias
adotadas foi a organização dos chamados tuitaços. (…) Em pelo menos
quatro desses episódios ocorridos em abril, ou militantes e
simpatizantes petistas marcaram data e horário de cada evento ou
registraram em inglês o significado das hashtags utilizadas ou mandaram
as mensagens iniciais dos tuitaços. (…)
Mas a análise aprofundada desses episódios – e em especial daquele
identificado pelo marcador #vejabandida – mostra que dois artifícios
fraudulentos foram usados para fingir que houve adesão enorme ao
movimento. Um robô, que opera sob o perfil “@Lucy_in_sky_”, foi
programado para identificar mensagens de outros usuários que contivessem
os termos-chave dos tuitaços, replicando-as em seguida.
Além disso, entraram em ação “perfis-peões”, ou seja, perfis
anônimos, com pouquíssimos seguidores e muitas vezes criados de véspera,
que replicam sem parar mensagens de um único tema (ou melhor,
replicam-nas até atingir o limiar de retuítes que os tornaria visíveis
aos mecanismos de vigilância de fraudes do Twitter.
Essas manobras para ampliar artificialmente a visibilidade de uma
manifestação na internet já ganharam nome no marketing e na ciência
política: astroturfing, palavra derivada de Astro-Turf, marca americana
de grama sintética que tenta se vender como natural. O objetivo é sempre
o mesmo: passar a impressão de que existe uma multidão a animar uma
causa, quando na verdade é bem menor o número de pessoas na ativa.
Uma amostragem de 5.200 tuítes recolhidos durante um dos tuitaços
recentes revelou que 50% das mensagens partiram de apenas 100 perfis –
entre eles robôs e peões, que ajudam a fazer número, mas não têm
convicções. Da China vem o exemplo mais alarmante desse tipo de fraude. O
Partido Comunista Chinês arregimenta pessoas encarregadas de manipular a
opinião pública, inundando a internet com comentários favoráveis ao
governo. Elas formam o chamado 50 Cent Party (Partido dos 50 Centavos),
cujo nome remete aos 50 centavos de iuane – ou 15 centavos de real – que
cada ativista supostamente recebe por post publicado.
Dos mesmos teclados alugados saem ataques à democracia de Taiwan, território reclamado por Pequim.
(…)
O presidente do PT tem um perfil ativo no Twitter, e com frequência
ajuda a animar tuitaços. Pouco depois da ascensão de Falcão ao comando
do partido, em 2011, o PT lançou o Núcleo de Militância em Ambientes
Virtuais – as chamadas MAVs. Um dos auxiliares parlamentares de Falcão
na Assembleia Legislativa de São Paulo, um funcionário público de 47
anos formado em geografia, recebeu no começo do ano a missão de
selecionar um estrategista de mídias digitais para “refinar e
profissionalizar” as ações do PT na internet – o que significa trazê-las
para o âmbito de controle da direção do partido.
A utilização massiva da internet, das redes sociais e de blogueiros
amestrados faz parte das táticas de engodo e manipulação da verdade no
Brasil. Internautas, fiquem de olho neles.
—–
Conheço as pessoas que compõem o MAV, do PT. É um pequeno grupo que
se dedica à comunicação do próprio partido entre si na internet. Reitero
que esse grupo não tem relação alguma com os tuitaços contra a Veja.
Posso afirmar isso porque estive envolvido nos dois últimos tuitaços e
praticamente fomentei o penúltimo valendo-me de anúncio que fiz no
Twitter sobre reportagem que a TV Record veicularia sobre a relação
entre Veja e Cachoeira.
Mas não é isso o que importa neste texto. Alguns blogs já deram a
informação de que, no fim da tarde de domingo, um tuiteiro que usa o
pseudônimo @pagina2 teve uma idéia singela, mas brilhante: por que não
tentar fazer contato com o perfil no Twitter que a matéria da Veja acusa
de ser um robô?
O @pagina2 obteve êxito. Entrou em contato com o perfil que Veja cita
na matéria, o @Lucy_in_Sky_, e descobriu que se trata de uma carioca de
59 anos. Veja, abaixo, a reprodução do perfil dela no Twitter.
O mesmo tuiteiro, @pagina2, então, pediu uma entrevista ao “robô”
@Lucy_in_Sky_. A entrevista está sendo largamente reproduzida na
internet por seu teor explosivo, porque comprova cabalmente que Veja
mentiu na matéria “As táticas de guerrilha para manipular as redes
sociais”. Para quem não leu, reproduzo o texto e, em seguida, sigo
comentando.
—–
Tuiteira de 59 anos é acusada de ser robô programado pelo governo para atingir Veja
Para justificar campanha contra Veja no Twitter, Reinaldo Azevedo
acusa tuiteira de ser um robô programado pelo governo para atingir alvos
políticos. Blogueiro também censurou comentário da acusada rebatendo
denúncia.
Em “Como Fraudar a Internet”, Reinaldo Azevedo afirma que o perfil
@lucy_in_sky_ “foi programado para identificar mensagens de outros
usuários que contivessem os termos-chave dos tuitaços, replicando-as”.
Seria perfeito para explicar mais um protesto contra a revista, se a
dona do perfil não fosse uma pacata carioca de 59 anos, estudiosa do
comportamento humano, amante dos animais e profissional da saúde. “Foi
como tomar um tapa na cara”, conta ela.
Lucy (sua identidade será preservada), soube por amigos, no sábado
que seu perfil era acusado de operar um esquema fraudulento para atacar a
revista Veja com hashtags como #VejaTemMedo e #VejaBandida. “Trabalho e
estudo. Não tenho muito para dar minha opinião, mas acho importante
fazê-la. Por isso tantos retuítes”.
O perfil de Lucy tem exatos 3 anos. “Entrei no twitter, a princípio,
por curiosidade, mas depois percebi todo o alcance social e político.
Procuro participar de vários tuitaços que mostrem minha opinião
política. Participei do #ForçaLula e sempre que posso faço campanha
contra crueldade com animais”.
A conta de Reinaldo Azevedo é simples, mas não fecha. Ele usa o
exemplo da China, que recruta jovens com tempo disponível para lançar
mensagens de apoio ao governo na internet. Na cabeça da Veja, o regime
chinês é muito parecido com o brasileiro. Nada faria mais sentido se o
governo também pagasse militantes para detonar inimigos políticos.
Afinal, quem fica na frente de um computador, num final de semana,
sem ser pago? Só para fazer política? “Quando eu vejo algum tweet que
expresse minhas opiniões e posições, eu retuíto”. Diante de tantos RTs
contra Veja, Reinaldo Azevedo criou uma fantasia: Lucy era um programa
criado por petistas com a única intenção de detonar Veja “O que me
impressionou na reportagem da Veja foi a história detalhada que eles
inventaram, dizendo como é que eu “funcionava” como robô. Teve até
infográfico”
Na noite de ontem, Lucy acessou o blog de Reinaldo Azevedo e deixou
uma mensagem, afirmando ser dona do perfil acusado de ser robô. Seu
comentário foi censurado e Azevedo continua afirmando que Lucy não passa
de uma ficção virtual.
@pagina2: Você já deu RT na Mariana Godoy e na Real Morte elogiando a Regina Casé. Não é propriamente um RT anti-Veja, não é?
@Lucy_in_Sky_: Claro que não!!!! rs Não sei por que cismaram com isso!
@pagina2: Como reagiu quando viu seu perfil na Veja?
@Lucy_in_Sky_: Foi muito ruim ver na Veja meu perfil exposto daquela
maneira, e ainda mais, “provando” que sou um robô. Foi um tapa na cara.
@pagina2: Quem é você, o que gosta de fazer?
@lucy_in_sky_: Sou profissional da saúde e que tenho 59 anos. Adoro
ler, ir ao cinema (recentemente vi “Medianeras”, um filme argentino
sobre a nossa contemporaneidade virtual). Não tenho filhos, não gosto de
futebol. Faço caminhadas no calçadão, sempre que tenho tempo.
@pagina2: Como usa o twitter?
@Lucy_in_Sky_: Me interesso muito por tudo o que diga respeito ao
nosso mal-estar contemporâneo, que faz, muitas vezes, que só possamos
fazer política pela internet. Sou partidária dos direitos humanos e
também dos animais, não suporto injustiça contra os mais fracos.
—–
Após consultas jurídicas, este blog apurou que o mais novo golpe da
Veja para iludir seus leitores e desqualificar a intensa indignação com
os métodos da revista que tomou a internet pode render várias ações
judiciais à revista.
O PT, enquanto instituição, bem como seu presidente, Rui Falcão,
foram falsamente acusados de terem fraudado as regras de uma rede social
para difamarem Veja. E a carioca que responde pelo perfil @Lucy_in_Sky_
foi acusada de ser um “robô”, de não existir, de ser uma fraude. Se
tivesse sido acusada de ser paga para criticar a Veja, já seria grave.
Mas foi acusada de simplesmente não existir (!).
Tudo, absolutamente tudo o que diz a matéria da Veja sobre “táticas
para fraudar redes sociais” é que é uma imensa fraude. Grosseira, aliás,
porque antes de acusar o perfil @Lucy_in_Sky_ de ser “um robô” a Veja
nem se deu ao trabalho de tentar manter um contato, o que mostra que
tudo mais que diz sua matéria é produto de invenção, uma mentira.
Dezenas de milhares de pessoas participaram do tuitaço de sábado
passado. É fácil comprovar que as alegações da reportagem da Veja são
produto de invenção mal-construída, grosseira, irresponsável e
criminosa. As vítimas dessas calúnias têm todos os instrumentos para
processar a Veja. Certamente conseguirão polpudas indenizações, além de
desmascararem mais essa farsa da revista.
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