Senador Demóstenes diz que Gurgel prevaricou
Foto: Edição/247
Em depoimento na Comissão de Ética, senador goiano atira contra o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que agora se torna um alvo da CPI; "ele prevaricou e, mais dia, menos dia, terá que se explicar", disse Demóstenes Torres; declaração foi dada em resposta a pergunta do senador Fernando Collor
A discordância entre Collor e Demóstenes diz respeito à providência que poderia ter sido adotada por Gurgel. Segundo o ex-presidente, Gurgel deveria ter aberto investigação contra Demóstenes. O senador, por sua vez, alega que seria caso de arquivamento. A terceira hipótese seria a abertura de uma "ação controlada", que permitira à Polícia Federal aprofundar as investigações. Gurgel já declarou que sua decisão foi bem-sucedida, porque, ao supostamente sobrestar os procedimentos da Operação Vegas, acabou permitindo que a Operação Monte Carlo avançasse.
Demóstenes, que é promotor de Justiça, foi didático ao explicar o papel de um procurador. Disse que quem exerce essa função não tem autonomia absoluta para decidir o que fazer diante de um eventual crime. O procurador, como fiscal da lei, deve abrir investigação, arquivar ou iniciar a ação controlada. Não há outra hipótese, segundo ele.
Collor também fez perguntas a Demóstenes sobre a ligação entre Carlos Cachoeira e o jornalista Policarpo Júnior. "Sei que o senhor Cachoeira era fonte do senhor Policarpo", disse Demóstenes. "Agora a ética em relação a isso tem que ser verificada."
Abaixo, questionamentos feitos anteriormente pelo relator Humberto Costa e outros senadores:
Humberto Costa – Vossa excelência teve relação com Cachoeira que extrapolasse o privado? Não estaria ampliando este aspecto da sua relação privada para outro campo? O laboratório Vitapan (administrado por Cachoeira entre 2001 e 2004) seria o único laboratório que consta que vossa excelência tenha pedido audiência.
Demóstenes Torres - Quando?
(senador Humberto Costa lê as datas)
Sugiro que vossa excelência procure os demais anos que vai encontrar a minha participação em nome de vários laboratórios do Goiás. Eu realmente trabalhei pelo meu estado.
Humberto Costa lê a transcrição de um diálogo entre Carlinhos Cachoeira e o Demóstenes Torres sobre a tramitação na Casa do projeto que proíbe jogos de azar.
HC – Este diálogo não mostra uma relação para facilitar a votação? É ou não em torno de uma aprovação de projeto do interesse de Carlos Cachoeira?
DT - Eu te pergunto, antes e depois como ficou esse projeto?
HC - Quem veio aqui para responder é vossa excelência.
DT - O projeto estava no mesmo lugar antes e depois desta ligação. (...) Ele (Cachoeira) estava muito melhor informado do que eu. Nem tudo o que se diz se faz. A prova maior são os senhores senadores que foram meus colegas. Qual senador eu procurei para legalizar os jogos? Nunca fiz isso.
HC – (no diálogo lido) Vossa excelência não estaria se apresentando para interferir junto ao presidente da Câmara, deputado Michel Temer?
DT - O presidente Michel Temer já negou. Já deu afirmação publica de que isso não aconteceu. Estamos discutindo evidentemente o que não aconteceu. E não é quebra de decoro dar informações sobre qualquer processo. Evidentemente nada disso aconteceu.
HC – Vossa excelência teria passado informações sigilosas de operação que seriam realizadas pelo MPF e MP estadual (o senador lê um trecho de um diálogo em que Demóstenes e Cachoeira conversam sobre uma possível operação da Polícia Federal. O "de sempre" seria o informante de Demóstenes). Quem é o "de sempre"? Houve outras operações, reais ou fictícias, que ele teria avisado?
DT - Isso aqui realmente foi jogar verde. O "de sempre" é um jornalista do Estado de Goiás.
HC – Vossa excelência não mantém nenhum tipo de relação com a empresa Delta? Já viajou em algum avião da empresa Delta?
Uma vez peguei uma carona com 0 Claudio Abreu que me levou até Goiânia.
HC – Por que, vossa excelência, nesse caso (Cachoeira), não atuou com a mesma intensidade como atuou em outros momentos, como no caso Palocci?
Eu acho que não tive comportamento diferente. Acho que nos representamos e vou procurar os documentos e apresentar ao senhor.
Encerrados os questionamentos do relator Humberto Costa, dois integrantes da comissão e cinco senadores que não integram o conselho se inscreveram para perguntar. Demóstenes foi questionado, a princípio, sobre qual seria o sentido de dizer "isso te pega" a Cachoeira se ele não tinha conhecimento das atividades com jogos do bicheiro.
O senador Mário Couto insistiu na pergunta: "Essa frase está mais do que ratificada de que o senhor estava avisando algo a ele". O parlamentar questionou a Demóstenes se a voz nos diálogos era realmente dele, e recebendo uma resposta positiva, Mário Couto diz ter tido uma de suas maiores decepções com Demóstenes.
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