Sessão da CPI é encerrada após silêncio e sarcasmo
Foto: Montagem/247
Réu Carlinhos Cachoeira e advogado Marcio Thomaz Bastos ganharam o dia; o primeiro não disse nada; ex-ministro foi coberto de elogios; senadora Katia Abreu propôs fim da sessão; "É uma múmia", resumiu ela; parlamentares avaliaram que perguntas só ajudariam a defesa; papéis se inverteram!
Durante as quase três horas da sessão, Carlinhos Cachoeira repetiu que se valia do direito constitucional de ficar calado. "Não somos palhaços", disse um parlamentar. "Ele é uma múmia", classificou a senadora Katia Abreu (PSD-TO), que pediu formalmente o encerramento da sessão. "Eu não fiz as perguntas que eu gostaria de fazer para não dar o ouro ao bandido", disse o relator Odair Cunha (PT-MG). "Não poderíamos esperar nada diferente de um chefe de quadrilha". O receio de que perguntas ajudariam na articulação da defesa uniu os parlamentares, que, depois de algum debate, encerraram a sessão.
Quem falou
Como esperado, Cachoeira sentou-se no banco dos réus da CPI do Cachoeira para não falar nada. "Como manda a Constituição", sustentou. "Vou usar o meu direito constitucional de ficar calado", respondeu ele sobre se conhece e como era o trabalho dele com o araponga Adalberto Araújo, o Dadá. Antes, diante de questão do relator Odair Cunha (PT-MG), Cachoeira disse: "Essa pergunta é muito boa para eu responder depois", respondeu, com um leve sorriso nos lábios. "Essa comissão não é formada por palhaços", rebateu um parlamentar. Uma proposta, então, foi feita a Cachoeira, pelo deputado Silvio Costa (PTB-PE): depor em uma sessão secreta. "Vamos ver isso com os nossos advogados", despistou, negando a alternativa.
Um a um, os parlamentares foram questionando o bicheiro, ouvindo sempre que não haverá resposta antes da audiência judicial de Cachoeira. O deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) questionou Cachoeira sobre sua relação com a Delta, e em âmbito nacional. "Aceitaria proposta de delação premiada?", questionou, acrescentando que o silêncio de Cachoeira denota "o desrespeito do criminoso".
"Não brinque com esta CPMI. Aqui não existe deputados e senadores que se corromperam na mão do seu Carlos Cachoeira", acrescentou Francischini. "É muito triste para essa comissão que tenhamos a presença do senhor Carlos Augusto na no CPMI e infelizmente não poderemos obter respostas para as perguntas dos parlamentares", acrescentou o deputado Filipe Pereira (PSC-RJ).
O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) até tentou despistar, perguntando se Cachoeira estava sendo bem tratado na cadeia e como estava se sentindo enquanto preso, mas, nem assim, obteve resposta. "Nós não somos teu", finalizou, aludindo de forma provocativa à mensagem que o colega Cândido Vaccarezza (PT-SP) enviou para o governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, na última reunião da CPI.
Incômodo
Irritada, a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) propôs o encerramento da comissão, “que está se tornando ridícula”. “Estamos perguntando para uma múmia. O que as pessoas em casa vão pensar de nós? Não vou ficar dando ouro para bandido”. O senador Fernando Collor (PTB-AL), contudo, discordou da proposta, pois disse que tinha o direito de dar suas opiniões sobre o assunto, assim como fizeram seus colegas.
Minutos depois, ficou explicado por que Collor queria falar. O senador revelou o conteúdo de mais uma ligação trocada entre o jornalista Policarpo Jr., da Veja, e Cachoeira. Segundo Collor, Policarpo ligou a Cachoeira para confirmar se o médium João de Deus, de Abadiânia (GO), havia viajado a Caracas para consultar o presidente venezuelano Hugo Chávez.
Collor disse ainda ter a informação de que “o senhor Policarpo Jr. tinha reuniões frequentes no antigo hotel Melia, hoje Brasil 21, onde há uma charutaria chamada Churchill”. Segundo o senador, os encontros entre o jornalista e o bicheiro eram realizados “semanalmente”.
Após uma série de intervenções inócuas e diante da insistência de Cachoeira em permanecer calado, a audiência foi encerrada.
Abaixo, noticiário anterior ao início da sessão da CPI:
247 – O contraventor Carlos Cachoeira deixou hoje, por volta de 12h40, o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, para ir ao Congresso, sob fortes aparatos da Polícia Federal. Seu depoimento na CPI, que investiga suas relações com políticos e empresários, deve acontecer a partir das 14 horas. Cachoeira foi preso em 29 de fevereiro, quando foi levado para a penitenciária de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte, e em 18 de abril foi transferido para a Papuda, onde pode receber visitas.
Nesta terça-feira 22, a advogada de defesa do contraventor Dora Cavalcanti visitou seu cliente na prisão e disse que ele está tranquilo neste momento crítico. À imprensa, na saída da prisão, ela contou que o aconselhou a ficar em silêncio durante o interrogatório no Congresso. "Ele está tranquilo e nosso conselho, enquanto defesa, é que ele use o direito de permanecer em silêncio. [...] É um momento crítico, difícil, ele completou 81 dias de prisão, mas vai ser respeitoso na CPI", disse.
Os membros da CPI formularam uma série de perguntas para o acusado. Só o relator da comissão, o deputado Odair Cunha (PT-MG), preparou uma lista com mais de 100 questões. A expectativa é grande em relação à possibilidade de Cachoeira fazer revelações sobre seus esquemas com políticos e empresários, já que é o primeiro acusado a depor depois de quase um mês de funcionamento da comissão. Mais cedo, o 247 formulou 30 perguntas para o bicheiro.
A reunião da comissão poderá ser acompanhada a partir das 14 horas pela Rádio Senado e pelos canais da TV Senado na internet. Por determinação do Regimento Interno do Senado, a TV Senado está obrigada a transmitir a Sessão Plenária, que acontece no mesmo horário. Os canais da TV na internet estão disponíveis neste endereço: http://www.senado.gov.br/noticias/tv/. A Rádio Senado pode ser ouvida em Brasília (91,7 MHz), Natal (106,9), Cuiabá (102,5), Fortaleza (103,3) e Rio Branco (100,9).
Com informações da Agência Senado
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