Ex-presidente Lula com a presidenta Dilma Rousseff (Foto: Ricardo Stuckert/IL)
Alfredo Saad Filho, economista da Conferência
das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), afirmou que
o Brasil é hoje uma referência mundial para políticas de
desenvolvimento econômico.
Desde que tomou posse em janeiro de 2003, uma das primeiras ações adotadas pelo presidente Lula foi criar o programa Fome Zero, cuja finalidade era levar uma alimentação digna para milhares de brasileiros que sobreviviam com pelos menos uma refeição diária. O programa avançou e dele foi originado o programa Bolsa Família, garantindo uma renda para as famílias com filhos menores de idade e matriculados nas escolas. Ao longo desse período, ao abolir o modelo anterior de concentração e transferência da riqueza para um seleto grupo de rentistas, o governo Lula promoveu uma inflexão no modelo econômico que privilegiasse o crescimento sustentável com a inclusão social.
O olhar para a inclusão social e a geração de empregos de 2003 até agora significaram a entrada na sociedade de consumo de mais de 40 milhões de brasileiros que ascenderam de classe social. Saíram das classes E e D para a classe C. Essa política de olhar para o mercado interno, para atender esse contingente de brasileiros que conquistaram uma renda para adquirir bens para suas residências – inclusive a casa própria –, fez toda a diferença em 2008 na pior crise financeira mundial 70 anos depois do crash da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, que praticamente quebrou o mundo. Lá atrás, brasileiros ricos amanheceram pobres.
Mas isso não se repetiu em 2008. O Brasil apostou na pujança de seu mercado interno e isso garantiu que o País fosse um dos últimos a entrar na crise e o primeiro a sair. Ao criar condições para a economia continuar andando em plena crise financeira global – mais oferta de crédito, redução de impostos e manutenção dos benefícios sociais, sem comprometer o rigor fiscal das contas públicas -, o ex-presidente brasileiro taxou a crise de uma “marolinha” e ele estava certo, embora a oposição dizia estar certa e por isso recomendava cortes de benefícios fiscais, restrição do crédito e aumento dos juros para enfrentar a crise.
O remédio brasileiro foi outro, ou seja, a opção não foi pelo “mercado” mas, sim, pelos brasileiros de carne e osso que continuaram tendo sucessivas melhoras na renda familiar e mais oportunidades, principalmente aquelas relacionadas às políticas inclusivas. Apesar das críticas da oposição, a política de inflexão econômica iniciada por Lula e mantida pela presidenta Dilma acaba de receber um dos maiores reconhecimentos da história econômica mundial.
Na manhã desta quarta-feira (12) ninguém menos do que Alfredo Saad Filho, economista da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), afirmou que o Brasil é hoje uma referência mundial para políticas de desenvolvimento econômico. Saad fez essa declaração durante o lançamento do Relatório de Comércio e Desenvolvimento 2012 que mapeou as tendências econômicas e os problemas financeiros atuais de praticamente todas as nações do planeta.
A boa performance das nações emergentes no período de 2006 a 2012 sustentou a demanda doméstica e embora um país sozinho não pudesse assegurar a evolução econômica global, 74% do crescimento foi gerado pelos países em desenvolvimento, daí a UNCTAD observar que a solução apropriada para os países desenvolvidos é seguir esse modelo se realmente querem sair da crise. A entidade ligada ao Sistema ONU – Organização das Nações Unidas - recomenda que a receita adotada pelo Brasil de sustentar a demanda interna é um antídoto à política de contenção do consumo verificado em países da zona do Euro. Saad destacou que a Zona do Euro tem o pior rendimento dentre os países desenvolvidos, e as recessões europeia e norte-americana estão fundamentadas na deterioração da renda. Esses países, disse Saad, preferiram exportar fatias da produção nacional para economias emergentes e grande parte dos lucros foram direcionados ao pagamento de dividendos, acarretando em lucros individuais e, consequentemente, concentração de renda.
“Nos últimos dez anos ou um pouco mais que isso, o Brasil tem servido de referência para políticas sociais, e, mais que isso, para políticas macroeconômicas. Não só as fontes de crescimento, mas as fontes de inspiração de política econômica têm se diversificado também”, declarou Saad. Sem meias palavras, o economista da UNCTAD dá a receita aos países desenvolvidos que realmente querem sair da crise: para retomar o crescimento, os países desenvolvidos devem investir no mercado doméstico, principal fonte de demanda.
O economista disse que em alguns países, como a Alemanha, a política de enfrentamento da crise na Zona do Euro baseada em políticas de austeridade sobre o setor público prejudica o crescimento no mundo. “Os países em desenvolvimento não descolaram dos demais, eles precisam dos países desenvolvidos, e a falta de dinamismo nestes países preocupa a todo o mundo”, avaliou.
Saad classificou a crise atual como “a causadora de um problema grave acumulativo no sistema financeiro internacional, que se contrai e não fornece crédito para a produção e o consumo - e uma crise de falta de demanda, causada pelo aumento da desigualdade e pela perda cumulativa de salários reais nos últimos 30 anos é o grande problema”.
(Marcello Antunes/PTnoSenado, com informações da UNCTAD)
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