Foto: Edição/247
Ex-prefeito e ex-governador atinge índices de rejeição comparáveis aos de Paulo Maluf, o que o torna praticamente inelegível numa eleição em dois turnos; nas simulações do Datafolha, o tucano perde tanto de Celso Russomano como de Fernando Haddad; quais foram os seus erros?
Com um índice de rejeição que já beira a metade do eleitorado, Serra equipara-se aos tempos do Maluf com o qual ninguém queria se associar. A pouco mais de três semenas do primeiro turno, sua rejeição – a maior entre os candidatos – dispara, tornando-o praticamente inelegível numa disputa de duas etapas. Segundo o último Datafolha, publicado nesta quarta-feira 12, a refeição de Serra alcança 46% e, numa simulação de segundo turno, o tucano perde tanto para o líder Celso Russomano (PRB) quanto para o petista Fernando Haddad.
O gesto de Serra ter abandonado a Prefeitura de São Paulo, com pouco mais de dois anos de mandato, para disputar – e vencer – a corrida ao governo do Estado continua a reverberar. E não apenas na maior cidade do País. O trampolim de Serra criou uma jurisprudência em nível nacional. De Norte a Sul, todos os candidatos a prefeito fazem questão de afirmar que cumprirão até o fim do mandato, cada um deles assustado com a possibilidade de ocorrer a mesma maldição que se abateu com o candidato tucano. Na própria capital, o esperto Celso Russomano foi o primeiro a dizer, em entrevista ao 247, que não ficará quatro anos, mas oito. Simples possibilidade de descumprir o compromisso despactuado nas urnas poderá tirar votos.
Para ter chegado a esse patamar de rejeição, alguns outros pontos também merecem atenção, como seu estilo atirador. O tucano não poupa críticas ao governo federal da presidente Dilma Rousseff e muito menos ao candidato do PT, Fernando Haddad. Há duas semanas, chegou a perder quatro minutos do horário eleitoral gratuito por gastar o mesmo tempo criticando o Bilhete Único Mensal, principal proposta dos petistas para essas eleições. Nesta terça-feira, reportagem publicada pela Folha de S.Paulo revelou uma cartilha do PSDB com conteúdo preparado para desconstruir a imagem de Celso Russomano, ligando-o à Igreja Universal e afirmando que o candidato do PRB não era pobre como tentava insinuar (leia mais).
O tucano também encontrou uma forma de inserir o julgamento do "mensalão" em seu discurso – em meio às críticas ao bilhete único de Haddad. Com isso, acabou levando um tiro no pé, já que recebe apoio de Valdemar da Costa Neto, envolvido no escândalo político que envolve o PSDB em Minas Gerais, o chamado "mensalão mineiro" – ainda a ser julgado. Outro caso mal explicado é a relação de Serra com o ex-presidente da Dersa, Paulo Preto, sobre quem o tucano insiste não conhecer. Denúncias davam conta de que Paulo Preto havia arrecadado junto a empresas verba para a campanha do tucano, fato negado por ele em depoimento na CPI do Cachoeira.
Sobre a rejeição à la Maluf, o candidato acredita ser "natural". "Não é rejeição a mim nos aspectos morais, no aspecto de fazer as coisas acontecerem. Eu sou muito conhecido e tem uma parte do eleitorado que vota no PT. A rejeição é natural", respondeu em entrevista à TV Estadão. Para o cientista político e professor da PUC e FGV de São Paulo Marco Antonio Carvalho Teixeira, que falou ao jornal O Estado de S.Paulo, a tradicional polarização entre tucanos e petistas nas eleições em São Paulo deve ser quebrada este ano. "A quebra da polarização não ocorre apenas por causa da liderança isolada de Celso Russomanno nessa mostra, mas sobretudo pelo alto índice de rejeição do candidato do PSDB", afirmou. "Um candidato com um índice elevado de rejeição como este dificilmente ganha uma eleição", avalia.
Certamente, quando buscou o governo, e deixou uma administração ainda em gestação, José Serra não poderia imaginar que sofreria tanto por um gesto. Mas a verdade é: dizem as pesquisas que ele ficou com o carimbo de quem assinou em cartório uma promessa não cumprida. O eleitor está cobrando.
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