terça-feira, 24 de abril de 2012

Pagot relaciona Veja e Cachoeira à sua demissão do Dnit

 
A CPI do Cachoeira já pode contar com a participação de um personagem crucial na investigação sobre ligações de agentes públicos e empresas com o esquema ilegal bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Em entrevista ao jornal Valor Ecônomico, Luiz Antônio Pagot, ex-diretor geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), disse que está pronto para colaborar com a Comissão Parlamentar de Inquérito que deve ser instalada hoje.

Pagot, que deixou o comando do Dnit em julho do ano passado, arrastado pela crise que envolveu o Ministério dos Transportes, disse que sempre foi favorável à instalação de uma CPI para apurar as acusações e que a investigação pode ser sua "certidão negativa". "Estou à disposição do Congresso. Todas as acusações que fizeram contra mim não foram fundamentadas. Agora, ou eles apresentam provas do que disseram ou entregam minha certidão negativa", disse.

Segundo Pagot, a Controladoria-Geral da União (CGU) concluiu um relatório de mais de 500 páginas sobre as irregularidades encontradas na Pasta dos Transportes. "Não há uma única citação que comprometa meu nome na conclusão desse relatório, nada a denunciar sobre mim", disse o ex-diretor do Dnit, que desde o início do mês passado trabalha numa consultoria para instalar uma hidrovia no rio Tapajós.

"Até hoje estou ferido e indignado com tudo o que aconteceu. É terrível o que estou vivendo, todo mundo te vira as costas. Hoje não nasce grama onde eu piso. Mas acredito que a verdade pode vir a tona com essa CPI", disse.

Pagot, que foi chamado de "homem-bomba" durante a crise dos Transportes, não chegou a explodir com revelações durante as audiências realizadas no ano passado pelo Congresso. Dessa vez, no entanto, pode ser diferente. O ex-diretor do Dnit disse acreditar que seu afastamento da autarquia pode estar vinculado a operações realizadas por servidores do Palácio do Planalto, que teriam atuado para o seu afastamento. Pagot disse não ter provas, mas suspeita que Carlinhos Cachoeira estaria por trás dos vazamentos de uma reunião sigilosa realizada no ano passado com a presidente Dilma Rousseff, em que ela teria manifestado estranheza diante de valores de contratos e aditivos. A reunião, revelada pela revista "Veja", detonou a crise que varreu a pasta dos Transportes.

Por trás da suposta retaliação, comentou, estaria o aumento de barreiras que o Dnit impôs à empreiteira Delta Construções, na aprovação de termos aditivos em contratos firmados com a autarquia.

O Dnit é, de longe, o maior cliente dos serviços prestados pela empreiteira Delta. Atualmente, a construtora tem 99 contratos ativos com a autarquia, envolvendo serviços de duplicação, construção e manutenção de rodovias federais. Juntos, esses contratos somam R$ 2,518 bilhões, dos quais R$ 1,410 já foram efetivamente pagos. Só nessas obras, o volume de aditivos já aprovados soma R$ 172,5 milhões.

O balanço das obras federais divulgado pelo Dnit aponta outros 164 contratos já concluídos e encerrados com a Delta. Entre 1996 e 2011, o Dnit desembolsou mais R$ 1,593 bilhão para a construtora.

Os dados apontam que, atualmente, há 19 contratos firmados com a empreiteira que estão paralisados. Destes, 16 estariam parados porque estão passando por alterações. Outros três, que tratam de obras de manutenção nas BR-304 e BR-116, no Ceará, estão congelados por conta da Operação Mão Dupla, deflagrada pela Polícia Federal em agosto de 2010, em conjunto com a Controladoria Geral da União. À época, aos menos 27 pessoas ligadas ao Dnit foram detidas. A investigação apontava para um suposto esquema articulado dentro da regional do Dnit no Ceará, para fraudar licitações, superfaturar contratos e desviar verbas. No Ceará, as obras paralisadas que foram assumidas pela Delta somam R$ 93,7 milhões. Do total, o Dnit já pagou R$ 68,6 milhões. A revisão de um dos contratos já levou à redução de R$ 2,3 milhões do valor original.
 
Do Blog Os Amigos do Presidente Lula

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